Gregorio Vivanco Lopes
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Plinio Corrêa de Oliveira costumava dizer que a gratidão é a mais frágil das virtudes. E quanta razão ele tinha!
A trajetória de sua vida, totalmente preenchida pelo amor à Santa Igreja e a luta em defesa d’Ela, levou-o no entanto a colher com abundância os frutos amargos da ingratidão, até nas searas dos que eram os beneficiários naturais de sua atuação.
Fiel imitador do Divino Mestre, eis como ele O descreve em sua admirável Via Sacra, carregando a Cruz sob “a manifestação tumultuosa do ódio e da ingratidão daqueles a quem Ele tinha amado... a dois passos, estava um leproso a quem havia curado... mais longe, um cego a quem tinha restituído a vista... pouco além, um sofredor a quem tinha devolvido a paz. E todos pediam a sua morte, todos O odiavam, todos O injuriavam”.
Um amigo enviou-me há pouco da Itália uma crônica desenvolvendo esse mesmo tema, publicada no prestigioso jornal “Corriere dela Sera”, de Milão (22-8-11). Seu autor é o veterano escritor e sociólogo Francesco Alberoni, que lhe deu o seguinte título: “Se você ajudar alguém, não espere gratidão — deve fazê-lo somente por razões morais”.
Transcrevo-a na íntegra, traduzida.
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“A nós todos já aconteceu de ajudar alguém, um amigo, um conhecido, para que encontre um emprego, para apoiá-lo num momento de necessidade, de forma desinteressada, e depois descobrir que a pessoa beneficiada, em vez de ficar agradecida, não só esquece o que você fez por ela, mas se torna distante e se comporta em relação a você com ressentimento. E me vem à memória aquela passagem do Paraíso Perdido de John Milton, na qual Satanás diz que se rebelou contra Deus por causa do peso insuportável da gratidão. Qual é o peso da gratidão? Como pode a gratidão tornar-se insuportável?
“O caso mais simples é o da inveja. Satanás queria mais, não aceitava sua condição de segundo. Lembro-me que, no início da minha carreira, ajudei um colega meu, psicólogo, que precisava trabalhar, e o fiz meu adjunto. Um dia alguém me disse que ele sempre falava mal de mim, a ponto de sua esposa, num dia em que os pegou uma tempestade, lhe disse: ‘Não será também isto culpa de Alberoni’? A explicação era simples. Depois de ter aprendido um pouco o ofício, pensava ser melhor do que eu, e queria tomar o meu lugar. A partir daí eu aprendi que é perigoso estar muito em evidência, porque se provoca a inveja dos colegas.
“Mas a falta de gratidão não se deve apenas à inveja. Toda vez que fazemos para um outro algo a mais do que é necessário, colocamos sempre em movimento mecanismos que podem ser positivos ou negativos. Tomemos o exemplo mais simples: dar um presente. O presente, mesmo se for dado da forma mais desinteressada e generosa, quase sempre cria a necessidade de retribuição. E se eu exagero na generosidade, posso colocar o outro num embaraço, porque ele não sabe como retribuir-me, e então se pergunta o que eu estou querendo dele em troca.
“Há porém pessoas que reagem da maneira oposta. Se você lhes dá um presente ou as ajuda, consideram que isso é uma obrigação sua e, se você parar de fazê-lo, o criticam e acusam.
“Em todos os casos, o resultado de sua generosidade será sempre uma ausência de gratidão.
“Portanto, quando você decidir dar um presente a alguém, ou apoiá-lo quando tem necessidade, ou ajudá-lo para que ele possa realizar suas potencialidades, lembre-se que você deve fazê-lo somente por razões morais, porque acha justo fazê-lo, sem esperar nada em troca.
“Se depois o outro lhe retribuir com lealdade e gratidão, considere este comportamento como sendo apenas o dom de um espírito generoso.”
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Sirvam essas considerações para um exame de consciência.
(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Você também é um ingrato?
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