MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cerâmica achada no interior do AM tem até 1,6 mil anos, diz pesquisa


Estudo investigou peças encontradas na região do lago Tefé.
Em 2014, conjunto de urnas funerárias foi achado em escola.

Do G1 AM
Cerâmicas foram achadas durante pesquisa no lago Tefé (Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)Cerâmicas foram achadas durante pesquisa no lago Tefé (Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)
Uma pesquisa arqueológica realizada na região do lago Tefé, no Amazonas, identificou que os vestígios cerâmicos encontrados na região datam entre 400 e 1.530 anos depois de Cristo. Entre os materiais recolhidos na pesquisa do Instituto Mamirauá e do Museu de Arqueologia e Etnografia da Universidade de São Paulo (USP) está um conjunto de urnas funerárias indígenas, achadas durante a construção de uma escola localizada na comunidade Tauary, na Zona Rural do município de Tefé, em março de 2014.
De acordo com a pesquisadora Jaqueline Belletti, responsável pelo estudo, a datação foi feita por meio de Carbono 14. O trabalho era, até então, inédito. "Tínhamos apenas estimativas estabelecidas por comparação do material daqui com o material de outras partes da Amazônia. Hoje, sabemos que os materiais estiveram presentes no Lago Tefé desde 400 até 1.530 d.C., pelo menos. Isto quer dizer uma ocorrência de mais de mil anos", explica.
Urna funerária foi encontrada no interior do Amazonas  (Foto: Erêndira Oliveira/IDSM)Urna funerária foi encontrada no interior do
Amazonas (Foto: Erêndira Oliveira/IDSM)
A pesquisa de Jaqueline visava identificar a diversidade da Tradição Polícroma da Amazônia nos vestígios encontrados nos sítios arqueológicos do Lago Tefé. Antes desse trabalho, as últimas pesquisas arqueológicas na região foram na década de 1950. As mais relevantes foram realizadas pelo arqueólogo Peter Hilbert, que definiu as fases Caiambé e Tefé, que são diferentes grupos de ocupação humana na região.  A fase Caiambé ocorreu possivelmente em toda região do médio Solimões e o período de ocupação é estimado entre 400 e 1200 d.C.. E a fase Tefé, estimada entre 400 e 1600 d.C..
A Tradição Polícroma é definida pelos arqueólogos como uma tecnologia, ou um modo de fazer cerâmicas das populações indígenas do passado. Algumas características são pintura vermelha e preta sobre argila branca e decorações plásticas, que alteram a superfície do pote.
De acordo com Jaqueline, dois tipos de peças têm destaque nesse conjunto de vasos: "as urnas funerárias antropomorfas, que remetem a uma figura humana, e os vasos com flange mesial, que é uma espécie de expansão localizada próximo ao meio do vaso e que circula toda sua circunferência", afirmou.
Esse modo de fazer cerâmica já foi encontrado nas calhas dos rios Napo, Ucayali, Solimões, Japurá, Negro, Madeira e começo do baixo Amazonas. "Em cada uma dessas áreas, os arqueólogos encontram pequenas variações locais nessa tecnologia que são chamadas então de Fases. No médio Solimões e Japurá a cerâmica da Tradição Polícroma foi chamada de Fase Tefé", disse Jaqueline.

Outro resultado importante da pesquisa foi o indício de relação entre diferentes grupos culturais que ocupavam a região nesse período, evidenciado a partir das análises das cerâmicas. Jaqueline ressalva que este tipo de relação entre produtores da Tradição Polícroma e produtores de outras tradições é ainda hoje um assunto pouco trabalhado, o que reforça a importância do estudo.
"Segundo as fontes etno-históricas, essas redes de relações entre diferentes grupos, que no lago Tefé evidenciamos pela troca de elementos na produção da cerâmica, eram muito extensas. Mas a morte e o deslocamento de populações causados pela invasão europeia levaram ao enfraquecimento e rompimento de muitas dessas redes", disse a pesquisadora.
A quantidade de sítios arqueológicos localizados na região também foi expandida pelo projeto. Até então, havia conhecimento de oito sítios arqueológicos, entre a sede do município e o lago. A equipe de pesquisadores identificou 14 sítios, além daqueles já registrados anteriormente, e também 11 áreas de ocorrência por toda a região do Lago Tefé, que são locais onde foram encontrados materiais arqueológicos pontualmente, sem serem caracterizados como sítios.
"Na escavação, realizada nas comunidades da boca do Lago Tefé, coletamos, além de materiais cerâmicos, que são os mais abundantes, materiais líticos (pedra), ossos de fauna, carvões e amostras de solo. Também foi encontrado um sepultamento humano", informou Jaqueline.

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