CARLOS RHIENCK/HOJE EM DIA
Tombamento do prédio da Fafich causou muita emoção nesta segunda
Liberdade! A pichação na fachada do antigo prédio da Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) – onde hoje é a Secretaria Municipal de Educação, no
bairro Santo Antônio –, explicita que o lugar abrigou forças de
resistência ao regime militar, que se instalou no Brasil em 31 março de
1964.
Agora, os escritos preservados há cerca de 50 anos não poderão mais ser
apagados. Tornaram-se bens integrados ao prédio, tombado nesta
segunda-feira (31) pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do
Município de Belo Horizonte.
A edificação que começou a ser erguida no fim da década de 1950, com a
assinatura dos arquitetos Shakespeare Gomes e Eduardo Mendes Guimarães, é
mais que um conjunto arquitetônico de traço modernista: guarda a
história de muitos jovens estudantes que lutaram contra o regime
repressor. E aí está seu “grande valor”, aponta o presidente da Fundação
Municipal de Cultura, Leônidas de Oliveira.
A historiadora da FMC Françoise Jean de Oliveira Souza diz que todos
que lutaram pela redemocratização do país em BH passaram pelo antigo
prédio da Fafich. É o caso da ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria
de Política para as Mulheres. “A Fafich é a minha casa e ainda tenho
muito carinho por esse lugar. Foi aqui que comecei minha militância e me
tornei o que sou hoje”, disse.
A professora de história da PUC Mônica Eustáquio Fonseca, relatora do
processo de tombamento do antigo prédio da Fafich, também cursou
história na faculdade durante os “anos de chumbo”. Começou em 1971,
quando foi presa por participar dos movimentos estudantis contra a
ditadura. “Num sábado, quando estava indo para a Fafich, para ajudar
amigos que já eram perseguidos, fui presa, encapuzada e levada para o
Dops. Eu já havia sido denunciada”, recorda. Mônica ficou detida por 2
anos até ser absolvida em julgamento de 1973. Sobre a tortura que
sofreu, prefere não entrar em detalhes. “A morte ou a tortura eram a
resposta do regime a quem não compactuava com aquilo”, enfatiza.
Memória
O antigo prédio da Fafich é um dos 27 locais que compõem um roteiro de
memórias do período ditatorial em BH, seja como símbolos da repressão ou
da resistência. Esses lugares estão registrados no Guia “Memória da
Resistência”, lançado ontem pela Belotur, durante evento realizado pela
Associação dos Amigos do Memorial da Anistia Política do Brasil. O local
vai abrigar o Memorial da Anistia, na Rua Carangola, 288.
O guia destaca, por exemplo, a casa anexa ao Palacete Dantas, na
esquina das ruas Sergipe e Santa Rita Durão, no bairro Funcionários,
onde teria funcionado, segundo relato de presos políticos, um centro de
detenção clandestina.
Emoção
Nesta segunda-feira (31) foi um dia de muita emoção para a professora
da UFMG Antônia Vitória Soares Aranha. Ela foi ao campus da Pampulha
para levar flores ao irmão, Idalísio Soares Aranha Filho, um dos
homenageados no Monumento pela Liberdade, e a cunhada, Walkíria Afonso
Costa. “Com esta homenagem fica uma imensa saudade. Não penso em
revanchismo mas quero Justiça. Onde estão os assassinos?”, desabafou.
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