Frederico Haikal/Hoje em Dia
Anastasia deixará o Governo de Minas para coordenar a campanha de Aécio Neves à Presidência
A segurança pública será o tema nuclear nas eleições deste ano, afirma o
governador Antonio Anastasia (PSDB), de 49 anos, que deixará o Palácio
Tiradentes com uma das melhores avaliações dentre todos os governadores
no país. Escolhido para coordenar o plano de governo do presidenciável
Aécio Neves, ele antecipou ao Hoje em Dia que esse tema será destacado pela equipe responsável pelas propostas que o presidente nacional do PSDB levará aos eleitores.
Segundo Anastasia, a presidente Dilma desconhece a situação da
segurança pública no país. “Se o grosso da criminalidade está vinculado à
questão das drogas, a responsabilidade do governo federal tem de ser
maior do que é hoje”. Como lembrou, o Brasil não produz cocaína, que
entra no país, por falta de efetivo policial nas fronteiras.
O governador defende mudanças na legislação penal e no padrão de ação
das polícias. “Bandido, criminoso têm de respeitar e temer a polícia”.
Segundo ele, será preciso o empenho do Congresso Nacional para que o
país tenha uma legislação mais realista. Porém, evitou se posicionar
favorável à redução da maioridade penal, como já propuseram o senador
Aloysio Nunes e o deputado federal Carlos Sampaio, eleitos pelo PSDB de
São Paulo.
“O mais importante é agravar as medidas socioeducativas dos menores
infratores. Temos de fazer essa modificação, para que o menor infrator
tenha mais tempo de medida cautelar”, disse. “A segurança pública é o
problema que mais me angustia como governador”.
“A partir de 4 de abril tirarei merecidas férias, vou deixar o país por
três semanas”, adiantou o governador, que disse não se preocupar com o
seu futuro político. “Tive a sorte de ser governador e ter dois times
campeões no último ano”, o Atlético, time do coração, venceu a
Libertadores, e o Cruzeiro, o campeonato brasileiro.
Curinga do pré-candidato do PSDB a presidente da República, na
construção das alianças eleitorais para a sucessão mineira e a campanha
nacional, Antonio Anastasia ficará disponível para colaborar na campanha
presidencial do senador Aécio Neves e na coordenação do programa de
governo. “Será o trabalho coletivo de muitas pessoas gabaritadas que o
senador está escolhendo”.
Antonio Anastasia terá o seu nome lançado ao Senado Federal, em junho.
Porém, condicionou sua candidatura às negociações partidárias. Se a vaga
for necessária para atrair o PMDB, não disputará eleição este ano.
“Sempre gostei de política. Se vier a ser eleito (ao Senado), vou
desempenhar o papel com muito gosto e dedicação”.
O governador disse que o aprendizado político começou cedo. “O meu avô
materno influenciou no gosto pela política. Era do velho PSD”, o mesmo
partido do avô de Aécio, Tancredo Neves.
Missão cumprida
Anastasia deixará o Palácio Tiradentes, dia 4 de abril, “com a sensação
de missão cumprida”. Ele avalia que fez um governo ético, probo,
correto e eficiente. “O saldo é muito positivo, com resultados concretos
em todas as áreas e o reconhecimento internacional de Minas Gerais.
Queremos fazer mais pelo Brasil”. Para o governador, a política e a
gestão pública “são duas facetas da mesma moeda”.
Jornadas de Junho
O momento mais difícil nos quatro anos de governo, segundo ele, foi
durante as Jornadas de Junho, em 2013. “Comparados com os últimos 20
anos, o aspecto econômico do país e as manifestações de rua da população
descrente com a classe política foram os mais difíceis. As
manifestações se desdobraram em violência”.
Na visão do governador, a melhor estratégia para enfrentar tal
dificuldade foi manter o diálogo diante dos desafios que surgiam. “Tenho
senso agudo de responsabilidade. O fato de ser professor me ajudou. O
diálogo é fundamental. Sou acostumado ao contraditório”, disse
Anastasia, que negociou com lideranças dos movimentos sociais que foram
às ruas da capital.
Para o governador, os protestos de rua nas principais cidades do país
tiveram efeito positivo para a democracia brasileira. Ele apontou a
necessidade da classe política ter maior diálogo com todos os segmentos
da sociedade.
Aliança com o PMDB
Perguntado sobre a possível aliança entre PSDB e PMDB nas eleições,
disse que o diálogo deve ocorrer com base em ideias-força. “Não tenho
preconceito de conversar com qualquer partido”. Ele lembrou, inclusive,
do acordo feito com o PT em 2008 para a eleição do prefeito de Belo
Horizonte, Marcio Lacerda (PSB).
Bipartidarismo
A polarização PT-PSDB, por si só, “não é nenhum demérito”, disse. Ele
citou os exemplos da Inglaterra e Estados Unidos, para acrescentar que
“o importante é que as ideias não fiquem esclerosadas”.
Reforma política
“A reforma política é o pressuposto das outras”, assinalou. Anastasia
considera que no país a atividade partidária ainda é pequena. “Não sou
contra o pequeno partido. O que temos de consolidar é o sentimento de
identidade partidária no Brasil”.
Federalismo
“A raiz do mal é a debilidade da federação”, disse, ao destacar as
dificuldades para a atuação conjunta de todos os entes federativos na
solução e no desenvolvimento de políticas sociais e econômicas
fundamentais ao país.
Segundo ele, o futuro presidente da República terá de abrir mão da
concentração dos recursos públicos, para que estados e municípios possam
se desenvolver e executar serviços e obras em prazo hábil e custos
menores.
O governador lembrou que a Constituição de 1988 buscou distribuir
competências e poderes entre a União, Estados, Municípios e Distrito
Federal, cada um com a sua autonomia política, administrativa e
tributária.
Pimenta da Veiga
Quanto ao perfil do candidato à sua sucessão, disse que o ex-prefeito e
ex-ministro Pimenta da Veiga não é um nome do passado. “Ele tem
trajetória política, é parlamentar renomado e bom gestor. Tem a
respeitabilidade nacional por ser administrador experimentado”.
Anastasia cita que 12 partidos na Assembleia Legislativa integram a
base de apoio ao governo. Na aliança eleitoral, 20 partidos já
prometeram apoio a Pimenta da Veiga. Como “o menor partido tem 37
segundos diários na propaganda de rádio e TV”, avalia que a soma do
tempo de propaganda eleitoral gratuita vai impulsionar a candidatura
tucana. Isso ocorreu em 2010, quando se elegeu governador, depois de
largar em desvantagem frente a Hélio Costa, da aliança PMDB-PT. Ele
cresceu “60 pontos em 40 dias” de campanha em rádio e TV.
Técnico ou político?
“O eleitor precisa identificar conteúdo nos candidatos. Ninguém conhece
todas as áreas, mas a política impõe certo conhecimento para aglutinar
apoios. O eleitor é soberano e levado por vários sentimentos. Ele vai
identificar o candidato que poderá dar continuidade ao governo”.
Chances de Aécio
“Pesquisas mostram que 60% dos brasileiros não sabem que o senador
Aécio será candidato a presidente da República. Por seu turno, a
presidente Dilma está de manhã, de tarde e de noite na televisão. Na
campanha isso muda. Estou muito otimista. Há um grau de insatisfação
grande com o governo federal”, afirmou.
Ele não concorda que o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE) encarne a
terceira via. “O candidato do PSB migrou para o campo da oposição. A
tendência é que o eleitor de Eduardo Campos vá apoiar a nossa campanha
no segundo turno”.
Nas contas do governador, Aécio terá em Minas Gerais vitória mais
expressiva que a de Dilma contra José Serra (PSDB-SP) em 2010. “A
tendência é Aécio ter performance muito boa em São Paulo”, maior colégio
eleitoral do país.
Efeitos do mensalão
Quanto à utilização dos processos do mensalão petista e o mensalão
tucano nas eleições, asseverou: “em toda eleição os especialistas dizem
que quem ataca, perde. A meu juízo, não tem efeito nenhum. Vamos ter uma
eleição de alto nível, com debates e apresentação de propostas
adequadas. Os candidatos têm boa formação”.
Eleições na rede social
Sobre a influência eleitoral das redes sociais, disse que 98% dos
usuários da web são corretos e 2% são caluniadores. “A legislação tem de
punir. Mas isso não afeta a eleição”.
Obras federais em MG
Ele lamentou que estados como o Rio de Janeiro obtiveram mais recursos
federais do que Minas Gerais, onde os grandes gargalos de infraestrutura
estão expressos na BR-381, no metrô e no Anel Rodoviário da capital.
“Tem 12 anos que o governo federal não coloca um centímetro de trilho no
metrô de Belo Horizonte”, disse.
Anastasia teria pedido ao governo federal, em 2011, que delegasse ao
estado a elaboração do projeto executivo do Anel Rodoviário de BH com
recurso federal. “Em abril deverá ser publicado o edital” para obras de
adequação de capacidade e melhorias do trecho. Quando à BR-381, disse
que o licenciamento das obras de duplicação da Fernão Dias foi feito
pelo estado. “O resto é com o governo federal”.
Minas está quebrada?
“Os salários do funcionalismo são pagos em dia. Os recursos para
investimento são oriundos de operações de crédito. A situação não é de
folga financeira, nem em Minas e nem na União”, disse. Segundo ele, o
governo federal não pagou ao estado os repasses da lei Kandir: R$ 200
milhões que deveriam ser quitados em 2013. “Ficou para 2014”.
A marca do governo
Anastasia elege a educação como a marca do seu governo. “Em 2011 e
2013, Minas Gerais obteve o primeiro lugar no Ideb” (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica), indicador criado pelo governo
federal em 2007 para medir a qualidade do ensino nas escolas públicas.
Outra conquista, de acordo com o tucano, foi a diversificação do perfil
econômico do estado. “As pessoas percebem e aplaudem o padrão de
governança adotado em Minas Gerais”.
Mais Médicos
“Ninguém pode ser contra o programa Mais Médicos. A questão que se
discute é a formação desses profissionais. O Sistema Único de Saúde
(SUS), implantado nos anos oitenta, hoje tem grandes deficiências, como a
tabela de serviços médicos sem reajustes e os problemas de gestão”.
Cultura em alta
“Nunca se investiu tanto em cultura em Minas Gerais. O padrão da gastronomia mineira mudou”.
Segurança Pública
“A piora nos indicadores de segurança pública ocorreu em outros estados
também. Minas Gerais tem o quarto melhor indicador entre todos os
estados brasileiros, mas a sensação subjetiva é de insegurança”,
admitiu. Ele citou que a população carcerária no estado passou de 20 mil
para 60 mil presos, e de três mil guardas penitenciários, passou para
20 mil agentes.
Perfil - Antônio Anastasia
Mestre em direito administrativo e professor da Escola de Direito da
UFMG, Antonio Anastasia se dedica à carreira pública há 26 anos, sendo
20 na vida política. Assumiu cargos nos governos de Minas e federal
entre 1991 e 1999, chegando a secretário-executivo do Ministério da
Justiça.
Foi o responsável pelo Choque de Gestão, reformulação do modelo de
gestão pública no estado. Em 2003, foi nomeado secretário de Estado de
Planejamento e Gestão. Em 2005, assumiu a Secretaria de Defesa Social,
responsável pela segurança e combate à criminalidade.
Em 2006, foi convidado a compor a chapa de Aécio Neves ao governo de
Minas como vice-governador. Assumiu o governo em março de 2010, quando
Aécio Neves se desincompatibilizou. Foi reeleito em 2010.
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