E-mails e documentos obtidos pela investigação sugerem que despesas do veículo podem ter sido pagas por Vieira
Alfredo Junqueira, de O Estado de S. Paulo
RIO - Relatório da Operação Porto Seguro indica que o
Mitsubishi Pajero TR4 de Rosemary Noronha, ex-chefe de gabinete da
Presidência da República em São Paulo, pertenceu à organização que
negociava pareceres técnicos desmantelada pela Polícia Federal e que era
comandada pelos irmãos Vieira, ex-diretores de agências reguladoras. Os
e-mails e documentos obtidos pela investigação sugerem que despesas do
veículo podem ter sido pagas por Paulo Vieira, apontado pela PF como
chefe do esquema.
Em um capítulo dedicado aos bens associados a Paulo Vieira, o relatório descreve um Pajero fabricado em 2010 e registrado em nome de Patricia Baptistella, funcionária da faculdade em Cruzeiro (SP) pertencente à família do ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Em e-mail de 2 de maio de 2011, Rose cobra de Vieira a transferência do veículo para seu nome e a quitação de despesas como seguro e licenciamento.
"Estou muito preocupada com a questão da Pajero. Fiz todos os trâmites necessários do Controlar. E o seguro, licenciamento, vc (sic) fez?", pergunta Rose. "Vc renovou o seguro? Quando pretende passar o carro para o meu nome?" Em 26 de abril de 2012, os investigadores checaram o registro do veículo no Infoseg, sistema integrado de informações de segurança pública. O Pajero está em nome de Rosemary Noronha. O relatório não diz quando ocorreu a transferência. Não há, nos e-mails interceptados pela PF, menções a pagamentos ou compra e venda do Pajero. Pela tabela Fipe, o carro vale hoje cerca de R$ 55 mil. Em maio de 2011, o preço estimado era de R$ 61 mil. Um modelo zero-km sai por R$ 73,4 mil.
No mesmo e-mail, Rose cobra de Vieira um depósito de R$ 5 mil em sua conta para cobrir despesas relacionadas a um sofá e uma estante para o apartamento de sua filha Mirelle, ex-assessora técnica da Diretoria de Infraestrutura da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), exonerada na terça-feira. O irmão de Paulo, Rubens Vieira, era diretor de Infraestrutura desse órgão.
"Conforme combinado, comprei o sofá e a estante para a Mirelle e o Sadao. Já foi entregue no sábado. Ficou tudo em R$ 5.000,00, vc (sic) pode fazer o depósito?", pede Rose, fornecendo os dados de sua conta. Na resposta enviada algumas horas depois, Paulo procura tranquilizar Rose.
"Sobre o seguro, não me lembro de ter renovado. Vou verificar com o banco, pois todos os meus seguros são renovados automaticamente, mas esse talvez não foi, pois foi feito no seu nome, mas não impedimento (sic) para você mesmo fazer se necessário", escreve Paulo Vieira.
Multa
Embora o Pajero esteja em nome de Patricia, e-mails de Paulo Vieira indicam que era ele quem ordenava o pagamento das despesas do veículo à subordinada. Em 18 de novembro de 2010, Patricia envia ao ex-diretor da ANA um e-mail com o valor do IPVA do veículo e uma infração de trânsito. Ela também pede que Vieira envie o "documento de transferência" para "fazer a transferência URGENTE, pois a multa vai para minha carteira".
A multa apontada no documento é uma infração à lei do rodízio municipal em São Paulo. Em 12 de abril de 2010, uma segunda-feira, o Pajero foi autuado às 8h17 na Rua 13 de Maio, na altura do número 1.854. Rose mora a 20 metros desse local, como indica a base de dados do Infoseg consultada pela PF.
Além do Pajero TR4, a PF investigou mais quatro veículos ligados a Vieira. Oficialmente, ele era dono de um Land Rover Defender 2008. Sua mulher, Andréia de Mendonça Vieira, também usa um Pajero.
Marcelo Vieira, irmão de Paulo, tinha em seu nome um GM Montana Conquest, mas, segundo a PF, era o diretor afastado da ANA que usava e bancava despesas do veículo. A PF identificou um Land Rover Sport 2012 no nome de Patricia que seria usado por Paulo. O Estado procurou os advogados de Rose, mas não obteve resposta.
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