Doença é responsável por 5% de todos os quadros demenciais e pode ser curada com cirurgia para drenar líquido do crânio
Mariana Lenharo - O Estado de S.Paulo
Quando o idoso começa a perder memória, é comum que a
família fique em alerta para a possibilidade de Alzheimer. O que
geralmente não se considera é a hipótese de os sintomas estarem ligados à
hidrocefalia de pressão normal, doença responsável por 5% dos quadros
de demência.
Ernesto Rodrigues/Estadão
Melhora imediata. Farid Abraão se submeteu à cirurgia
De acordo com o neurocirurgião Fernando Campos Gomes Pinto, chefe do Grupo de Hidrodinâmica Cerebral do Hospital das Clínicas da USP, a doença, que atinge principalmente idosos, também pode vir acompanhada de alterações na marcha e incontinência urinária.
Os sintomas decorrem do acúmulo do líquido cefalorraquidiano, que banha o crânio e a medula espinhal. O excesso desse líquido afeta áreas importantes do cérebro, como lobos frontais, tálamos e gânglios da base.
“A pessoa tem uma vida normal e, aos poucos, começa a ter o quadro clínico que apresenta os três pontos principais: dificuldade para andar, incontinência urinária e perda da agilidade mental”, diz o neurocirurgião.
O diagnóstico é feito com tomografia de crânio e ressonância magnética. Segundo o neurocirurgião, existem dois tratamentos cirúrgicos possíveis, que têm o objetivo de drenar esse líquido excedente.
Antes da cirurgia, o paciente é submetido a um teste: sob anestesia local, são retirados 40 ml de líquido da medula espinhal. O procedimento reverte momentaneamente o excesso de líquido que banha o sistema nervoso. Caso os sintomas melhorem nas horas seguintes, existe 90% de chance de a cirurgia ser eficaz.
O bacharel em Direito Farid Abraão, de 73 anos, achava que fosse natural da idade ter declínio no raciocínio e dificuldade para andar. Por insistência dos filhos, marcou consulta com um neurologista. A hipótese de hidrocefalia só apareceu no segundo profissional que consultou.
Constatado o problema, submeteu-se à cirurgia em junho. “Comecei a ficar melhor imediatamente. Não tive mais problema de incontinência e minha marcha melhorou sensivelmente. Minha memória está boa.”
No caso da professora universitária Ana Maria, que preferiu não divulgar o sobrenome, a doença a manteve afastada do trabalho por um ano. Ela demorou alguns meses até se decidir por fazer a cirurgia, em abril. “Foi a melhor coisa que fiz. Continuo me recuperando. Se deixasse passar mais tempo, poderia ser irrecuperável.”
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