Edésio Reichert
Há cerca de 35 anos estava em uma festa e após o almoço, duas senhoras, uma lavando a louça e outra secando, conversavam animadamente.
A que estava lavando começou falar de sua viagem de férias com a família, que havia ocorrido há pouco tempo. Tinha sido uma semana maravilhosa, com muito sol, com passeios, com mergulho, etc. A outra senhora que secava a louça, assim que a primeira deu uma “parada pra respirar”, começou falar da sua viagem de férias, também para a praia. Porém ao contrário da anterior, tinha sido uma semana muito ruim, com muita chuva, com vômitos, com queimaduras de água viva, etc. Deu uma “parada pra respirar”, a que estava lavando continuou falando de sua semana, que foram para um parque de diversões, que foram em restaurantes ótimos, etc. A senhora que estava secando, retorna falar outros relatos ruins de sua viagem.
O tempo que fiquei observando, em nenhum momento uma fez perguntas sobre a viagem da outra; ambas apenas falaram, cada uma de sua viagem.
Passados uns 20 anos daquela primeira observação, certo dia presenciei um senhor que chegou onde tinha mais pessoas e disse: esta noite dormi mal, muita dor de cabeça, que noite horrível. Imediatamente outra pessoa falou: eu também dormi mal, mas pra mim foi dor no estômago, nossa, passei muito mal.
Em 2012 após iniciar a divulgação do livro Professor não é Educador, as questões ligadas à educação das pessoas - não da instrução - cada vez mais entraram no meu radar de observações.
Em 2014, a partir de reflexões do livro acima, criamos o Movimento Pessoas Melhores - movimento que deixou de existir naquele formato, e de certo modo, transformou-se no Instituto Pessoas Melhores - que tinha entre seus objetivos, ajudar pais a educar melhor os filhos. Lembrando daqueles episódios descritos acima, incluímos entre as características de uma pessoa bem educada, o que na ocasião denominamos de “saber ouvir”.
Esta questão foi central: o que é recomendável para ouvir bem quem está falando? Prestar atenção no assunto que está sendo falado, olhar para a pessoa, observar sua expressão e fazer perguntas do mesmo assunto. Imagine aquelas senhoras perguntado uma à outra: em que praia foram? Conheceram outras praias? Foram só com a família ou mais alguém? Os problemas de saúde passaram logo ou duraram mais tempo? Etc. E o interlocutor poderia ter falado àquele senhor: de fato, é horrível quando não se dorme bem. Tem dor de cabeça com frequência? Desconfia do que pode ser a origem dela? Fez alguma coisa para amenizar? etc.
Passados mais alguns anos, li o livro do Bob Chapman, “Todos São Importantes”, e nele, Bob fala que “...a coisa mais poderosa que um líder pode fazer é escutar de forma profunda e verdadeira. Escutamos as palavras, mas raramente diminuímos a velocidade para escutar e sentir com nossos ouvidos para entender emoções, medos e preocupações ocultas....”
Tratando desse assunto com o amigo e Psicólogo Fabian Giordani, ele falou em ‘escuta ativa’, que da mesma forma, significa estar presente, prestar atenção, fazer perguntas para bem compreender a pessoa que está falando.
Por fim, a cereja do bolo, com os livros do Marshall Rosenberg, “Comunicação Não Violenta”, e “Vivendo a Comunicação não Violenta”, confesso, livros que deram um nó no cérebro levando-o a rever conceitos, hábitos, sobretudo ligados a muitos desnecessários julgamentos. O caminho para a verdadeira empatia passa por evitar juízos, evitar avaliações e apenas observar, a si próprio e ao outro, tentar captar os sentimentos e necessidades das pessoas envolvidas. “O primeiro passo da conexão empática é o que Martin Buber chamou de dádiva mais preciosa que um ser humano pode dar a outro: a presença”. E continua, “...receber a mensagem com empatia, conectando-se com o que está vivo na pessoa, sem fazer julgamentos”.
Esta comunicação proposta pelo Rosenberg, que já está produzindo efeitos positivos, dada a sua profundidade e sutileza, poderá, com o tempo, e muito, mas muito treino, em vários outros aspectos, ser incorporada na minha rotina diária.
Caro leitor, se ainda não havia feito reflexões a este respeito, experimente observar a si próprio e a outras pessoas. Muitos têm por hábito falar apenas de si, de seus projetos, de suas realizações, do que assistiram, do que conheceram, etc, muito à semelhança dos relatos acima.
Concentrar-me na pessoa que está falando, tentar captar o que verdadeiramente está tentando dizer, fazer perguntas para melhor compreendê-la, é uma prática que requer bastante atenção e colabora para fazer progressos na direção da escuta com empatia.
E certamente como resultado, a sua vida e da outra pessoa será enriquecida, tornando-as mais maravilhosas.
* O autor, Edésio Reichert, é pequeno empresário no Paraná.
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