Por Ricardo Haag
Ninguém gosta de tomar decisões difíceis. Mas, elas são necessárias para garantir a sobrevivência das empresas e manter suas operações rentáveis e saudáveis. Em um momento atípico em que vivenciamos uma onda crescente de demissões em massa, a redução salarial de CEOs vem se tornando uma estratégia urgente para a salvação de muitos negócios. Apesar de delicada, essa pode ser uma boa saída para enfrentar este cenário, desde que seja muito bem conversada e acordada entre todos para evitar desentendimentos e insatisfações internamente.
Só nos dois primeiros meses desse ano, mais de 50 empresas anunciaram demissões em massa no país – dentre elas, a grande maioria pertence ao setor tecnológico. Os dados assustam, mas não são uma completa novidade. Desde o início da pandemia, muitas companhias se viram obrigadas a cortar gastos para sobreviverem, seja no desligamento de funcionários, redução de jornadas ou outras medidas similares.
Todo negócio é cíclico, e deverá passar inevitavelmente por épocas de reestruturação que priorizem a boa performance organizacional. Entretanto, essa não é uma medida unilateral, e não deve impactar apenas uma ponta da cadeia de trabalho. Por isso, os CEOs de diversas empresas estão mandando um recado muito importante de companheirismo aos seus times, ajustando a coerência de tais decisões ao mostrar que não ficarão de fora destas reduções salariais necessárias para ajustar financeiramente as estratégias internas.
Analisando economicamente, as remunerações destes executivos são as maiores de toda a empresa. Apenas no Brasil, como exemplo, um relatório divulgado pela Ibovespa constatou que a média salarial anual destes profissionais, em 2021, girou em torno de R$ 12,57 milhões – em uma discrepância significativa da média dos outros colaboradores, a qual permaneceu em um valor médio anual de R$ 192,57 mil. Diante destes números, qualquer corte salarial de um CEO já representa uma diferença enorme que pode ajudar a companhia a reajustar suas finanças, trazendo ainda outros pontos positivos importantes em cenários instáveis como o de agora.
Além de contribuir para uma reestruturação financeira do negócio, essa redução da remuneração pode garantir o emprego de muitos outros profissionais valiosos para a organização, impedindo que percam sua fonte de subsistência e integrem as estatísticas de demitidos que preocupam a todos. E, fora as questões econômicas, aceitar essa diminuição deixa uma imagem de parceria extremamente importante dos CEOs para as equipes – mostrando que, apesar de ocuparem diferentes cargos, todos estão juntos no mesmo barco para qualquer situação que vier.
Agora, toda moeda tem seus dois lados. Qualquer decisão de corte salarial que não seja acordada ou bem comunicada com estes executivos pode gerar consequências drásticas para a empresa. Principalmente, no que diz respeito ao comprometimento de sua satisfação na empresa e seu consequente pedido de demissão. Esse é um cenário que todo gestor deve evitar ao máximo, considerando o papel vital que um CEO possui nos negócios para administrar as operações, lidar com os times e muitas outras decisões importantes de serem tomadas diariamente.
Essa falta de alinhamento não pode existir em hipótese alguma, e pode ser extremamente perigosa para as companhias. Muitas distorções em discursos são comuns de ocorrerem no mercado, e a melhor maneira de evitar estes problemas é prezando por uma comunicação clara e próxima entre os times, para que qualquer anúncio ou decisão seja compreendida por todos.
Os CEOs são peças fundamentais para o bom desempenho das empresas, principalmente para garantir o engajamento e felicidade de todas as equipes. Por isso, o anúncio de uma redução salarial destes profissionais vai muito além do que uma decisão financeira – reforçando sua responsabilidade de manter a equipe unida e não acentuar sua diferenciação entre os demais membros.
Essa é uma ferramenta de gestão que sempre poderá ser puxada da manga em prol de manter o funcionamento dos empreendimentos, mas que apenas trará os resultados desejados se for muito bem comunicada e prezar pela coerência entre o discurso destes líderes e a prática para um bom relacionamento e confiança entre todos.
Ricardo Haag é sócio da Wide, consultoria boutique de recrutamento e seleção.
Sobre a Wide:
Com mais de 30 anos somados de recrutamento especializado e mais de 20 mil entrevistas realizadas, o propósito da Wide, empresa de recrutamento e seleção de alta gerência, é construir legados, seja o das empresas contratantes, o dos candidatos e o seu próprio.
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