Edifícios
substituíram antigos casarões; vias de terra foram pavimentadas; o
cenário colonial deu lugar a uma metrópole urbanizada. Apesar de tantas
mudanças, desde o século XVIII uma parte de Recife (PE) se mantém
praticamente inalterada: o conjunto arquitetônico formado pela Igreja de
São Pedro dos Clérigos e o Pátio de São Pedro. Nesta sexta-feira (10),
às 9h30, a igreja vai sediar um evento para celebrar a entrega do
monumento à população.
A
fim de que este monumento religioso continue a compor a paisagem de
Recife e o cotidiano da população, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) investiu aproximadamente R$ 7,3 milhões em
serviços de restauração do bem cultural. O valor inclui os R$ 3,2
milhões designados para as intervenções realizada entre 2013 e 2016, com
enfoque na obra civil, que contemplou melhorias estruturais na
edificação. Já a segunda etapa, com cerca de R$ 4,1 milhões,
concentrou-se nos bens integrados, como galeria, sacristia e elementos
artísticos de modo geral.
A
segunda obra realizou serviços de desinfestação, limpeza, nivelamento,
reconstituições de ornatos, douramento dos ornatos da capela mor, entre
outras intervenções. Uma etapa se destaca para os entusiastas do
Patrimônio Cultural: a recuperação do forro da nave, que vai valorizar
ainda mais a obra do mestre João de Deus Sepúlveda.
O
célebre pintor do Brasil no período colonial buscou inspiração no
barroco português para representar, em perspectiva, São Pedro abençoando
clérigos e religiosos. Sepúlveda se debruçou sobre esta obra de arte
entre os anos de 1764 e 1780. A observação da pintura cria a ilusão de
adentrar um espaço formado por uma sucessão de balcões e arcadas. Assim,
o efeito ótico gera sensação de movimento e de amplitude infinita.
O conjunto arquitetônico
Considerada
uma das mais monumentais do Brasil, a Igreja de São Pedro dos Clérigos
foi um dos primeiros bens tombados pelo Iphan, em 1938. Autarquia
federal vinculada ao Ministério da Cultura, o Instituto foi criado um
ano antes, em 1937. O conjunto arquitetônico foi inscrito nos Livros do
Tombo Histórico e das Belas Artes.
Graças
à integridade do monumento, caminhar pelas edificações nos desloca para
a Recife de outros tempos. Situado à frente da Igreja, o Pátio de São
Pedro garante uma visão global da igreja, emoldurada pelo casario
antigo. O conjunto tombado é formado pelo templo, pátio e por outras 63
edificações, entre casas térreas e sobrados.
A
baixa estatura do casario ao lado realça a grande verticalidade do
templo, o que ajuda a compor uma curiosa paisagem de contrastes. No
interior, a disposição simétrica estabelece um jogo de espaços cheios e
vazios. Já as torres esguias oferecem uma vista tão singular que,
durante os séculos XVIII e XIX, eram utilizadas como pontos de
orientação para pequenas embarcações.
Com
planta idealizada por Manuel Ferreira Jácome, a construção da igreja
teve início em 1728. A fachada apresenta proporções rigorosas, o que
remete a uma possível influência da arquitetura clássica. Além disso, a
edificação agregou traços estilísticos de expressões artísticas como o
maneirismo, o barroco e o rococó.
Longe
de ser um cenário passivo para a vida dos recifenses, este bem abriga
manifestações de caráter popular e de tradição pernambucana. Das
fantasias irreverentes que passeiam ao som de marchinhas carnavalescas
às tradições que se perpetuam na culinária e nos costumes de São João,
as principais manifestações populares do Recife adotam o Pátio como um
de seus palcos, como o movimento mangue. Desde que foi construído, no
final do século XVIII, o monumento ecoa e reverbera a riqueza do
patrimônio recifense. Imerso em tradição, o local reforça o laço de
pertencimento da população com a cidade.
Localizado
no bairro de São José, é considerado o berço da cultura negra no
Recife, símbolo de luta e resistência dos povos de matriz africana. Lá
se encontram marcos que irradiam o legado de toda a região Nordeste: a
Estátua do poeta negro Solano Trindade, o Memorial Chico Science, a Casa
de Carnaval, o Museu de Arte Popular, o Memorial Luiz Gonzaga e o
Núcleo Afro do Recife.
O Iphan em Pernambuco
O
Instituto tem trabalhado em uma série de ações para o Patrimônio
Cultural edificado em Pernambuco. Nos últimos anos, já foram mais de R$
40 milhões investidos em obras no estado.
No
Recife, além da restauração completa da Igreja de Nossa Senhora da
Conceição dos Militares, com obras civil e de seus bens móveis e
integrados, também já foi concluída a obra civil da Igreja Matriz de
Santo Antônio. Na cidade, também se encerrou recentemente a
requalificação do terreiro de Pai Adão.
Em
Olinda, vizinha à capital Recife, encontram-se em obra três
intervenções em bens tombados da cidade: Seminário de Olinda; Museu de
Arte Sacra de Pernambuco; e Convento Franciscano, com serviços para
estabilização dos azulejos. O Convento recebeu, em 2018, intervenções
para requalificação do Adro, restauração do Cruzeiro e melhorias na
fachada e na torre sineira. Já em 2021, passou por serviços para
estabilização dos azulejos. Três bicas públicas da cidade também foram
restauradas recentemente com recursos do Programa de Aceleração do
Crescimento das Cidades Históricas (PAC CH).
Imagens: Marília Cavalcanti
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