BLOG ORLANDO TAMBOSI
Enquanto elegermos populistas, o Brasil seguirá se distanciando da prosperidade econômica, da plena democracia e de um futuro melhor para os nossos filhos e netos. Luiz Felipe D'Avila para o Estadão:
O
populismo é um câncer que debilita o funcionamento da democracia,
corrói a credibilidade das instituições e destrói a confiança nas regras
do jogo. A estratégia dos populistas é fomentar a discórdia política – a
rivalidade entre “nós e eles” – para se manter no poder, aparelhar o
Estado e submeter as instituições aos seus caprichos, que consideram a
única expressão legítima da vontade popular.
Lula
seguiu à risca o roteiro populista nos primeiros meses de governo. Em
quase toda fala, culpou o seu antecessor pelos males da Nação e optou
por agradar apenas o cercadinho da militância petista. Atacou a
independência do Banco Central, sabotou a Lei das Estatais, gerou
apreensão no mercado ao criar um imposto sobre exportação de petróleo e
permaneceu mudo diante da aberração de invasões de terras produtivas.
Aliás, nada enfurece mais o governo petista do que empresas que têm
sucesso na economia de mercado. O lucro recorde da Petrobras, o sucesso
do agronegócio e as empresas de aplicativo que se tornaram fonte de
emprego e de renda para muitas pessoas que estavam fora do mercado de
trabalho recebem a condenação e o opróbrio do governo. Na política
externa, Lula rechaçou o apoio do presidente Joe Biden para o Brasil
ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) e recusou assinar um documento de mais de 50 países condenando as
barbaridades humanitárias cometidas pelo ditador da Nicarágua.
Infelizmente,
os sinais são claros de que Lula vai priorizar o corporativismo público
e privado em detrimento dos interesses nacionais. Em nome da
preservação da governabilidade, o governo abriu os cofres públicos e a
distribuição de cargos para o corporativismo, que avança como piranhas
esfomeadas para devorar as verbas públicas, as sinecuras e os subsídios
que são distribuídos para conquistar apoio político no Congresso e na
sociedade. Causa indignação ver o governo empenhado em reavivar empresas
estatais – como as famigeradas estatais do trem-bala e outra que
fabrica chip para bovinos – no momento crucial em que é imperativo
cortar gastos com pessoal, benefícios e privilégios da máquina estatal.
A
imoralidade pública reina sem nenhum constrangimento. Ministros usam
avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a leilão de cavalo de raça
e trabalham como lobistas para empregar familiares nos tribunais de
contas estaduais a fim de lhes garantir uma renda mensal no topo da
pirâmide dos salários e privilégios da República.
O
Brasil está à deriva. Desde o término da eleição presidencial, Lula não
apresentou um único projeto ou ideia que trata dos temas prementes do
País. Até o momento, o presidente da República cultiva um silêncio
sepulcral sobre o crescimento econômico, a abertura comercial e o meio
ambiente como alavancas da retomada do investimento, da renda e do
emprego. Não mencionou uma única palavra sobre a redução do gasto
público e as reformas administrativa e tributária. Um governo que se diz
preocupado com os mais pobres não se comprometeu com nenhuma meta para
erradicar a pobreza extrema que nos envergonha; tampouco deu alguma
declaração sobre a melhoria da qualidade do ensino básico e o
aprendizado das crianças e jovens como a grande alavanca de ascensão
econômica e social.
Essa
agenda de prioridades deveria ser tratada como política de Estado por
todos os governos, não importa o partido que esteja no poder. Temos de
dar continuidade às reformas iniciadas por governos passados, como é o
caso do marco do saneamento básico. Mas, ao ignorar o tema nos seus
pronunciamentos e não se empenhar na aprovação da regulamentação do
marco do saneamento, Lula dá sinais preocupantes de que os interesses
corporativistas (dos sindicatos e das estatais do saneamento) terão
preferência sobre os interesses da população. A aprovação do marco do
saneamento foi uma lufada de bom senso no governo passado. Deveria ser
prioridade do atual governo livrar o Brasil de uma herança vergonhosa de
100 milhões de brasileiros que não têm acesso ao esgoto tratado. A
regulamentação do marco do saneamento é vital para dar aos investidores a
segurança jurídica necessária e permitir que o setor privado invista R$
45 bilhões/ano para atingirmos a meta da universalização do saneamento
em 2033.
Como
dizia o grande dramaturgo Nelson Rodrigues, “o subdesenvolvimento não
se improvisa, é obra de séculos”. No caso do Brasil, é obra de duas
décadas de governos populistas e incompetentes, que não têm compromisso
com dar continuidade a um projeto de país e às reformas capazes de
garantir os pilares essenciais para o progresso de uma nação: abertura
econômica e crescimento sustentável; Estado eficiente e disciplina
fiscal; educação pública de qualidade e mobilidade social. Essa agenda
mínima só se torna realidade quando os cidadãos valorizam a
meritocracia, o liberalismo e a igualdade de oportunidade.
Nós
somos frutos das nossas escolhas. Enquanto elegermos populistas, o
Brasil continuará à deriva e se distanciando da prosperidade econômica,
da democracia plena e de um futuro melhor para os nossos filhos e netos.
Postado há 5 days ago por Orlando Tambosi
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