Carlos Newton
Não é possível esperar que Lula da Silva, a essa altura da vida, sem jamais ter lido um só livro, possa discutir seriamente uma questão intrincada como o uso da taxa básica de juros para combater a inflação, de acordo com a consagrada e jamais refutada teoria de Taylor (economista americano John Brian Taylor, professor PHD de Stanford).
Lula pode dar os chiliques e faniquitos que quiser, tentando culpar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela atual crise econômica, mas estará jogando conversa fora, porque os ministros que comandam a economia, Fernando Haddad e Simone Tebet, sabem que Campos Neto está no caminho certo e logo reduzirá os juros da taxa Selic.
PRIMEIRO E ÚNICO – O que Lula não sabe é que, nas últimas décadas, Campos Neto foi o primeiro e único presidente do Banco Central a praticar no Brasil taxas de juros reais negativas, entre agosto de 2020 a março de 2021.
Na época, o então presidente Bolsonaro não dava confiança aos banqueiros, nada entendia de economia e deixou Campos Neto à vontade. E assim, para surpresa dos especuladores (que aqui chamamos de investidores), a Selic passou seis meses estacionada em 2%, com taxas sempre inferiores à inflação, e só começou a subir novamente quando Bolsonaro, acobertado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, começou a estourar o Orçamento para garantir a reeleição.
Quando o governo rompe o teto de gastos, precisa se financiar, e o BC tem de elevar os juros básicos para garantir a colocação de títulos públicos com base na Selic, que têm grande aceitação interna e externa, devido aos juros acima da inflação.
ENDIVIDAMENTO ABSURDO – Campos Neto sabe que não há inflação de demanda. Segundo o Serasa, a inadimplência e o endividamento já atingem 68.4% milhões de brasileiros, que constituem a imensa maioria da população economicamente ativa, formada por apenas 79 milhões de trabalhadores.
Como presidente da República, cabe a Lula resolver a questão. Sua providência foi esculhambar o presidente do Banco Central, culpando-o pelos juros altos da Selic. Acontece que essa taxa básica pouco tem a ver com os juros praticados pelos bancos. Em média, estão cobrando 55% ao ano em empréstimos para pessoa física e 350% ao ano nos juros do cartão de crédito. São taxas de agiotagem e não de operações financeiras.
E o que Lula faz? Na sua ignorância, pensa (?) que, se baixar a Selic, os banqueiros reduzirão seus juros. Só pode ser Piada do Ano. Quando Campos Neto manteve juros negativos por seis meses, nenhum banco reduziu os juros.
APLICAÇÕES SECRETAS – O que dirá Lula ao saber que a forte alta de juros pelo Banco Central fez explodir a remuneração dos bancos comerciais na rubrica depósitos a prazo (aplicações dos clientes) por meio das operações compromissadas, cujos gastos com juros subiram nada menos que 161% em 2022, em comparação a 2021, tendo atingido R$ 133,2 bilhões no ano passado.
Além disso, os bancos lucraram ainda mais, porque o Banco Central mantém em sigilo os valores de mais uma remuneração deles, através dos “Depósitos Voluntários Remunerados”, criados em 2021 por projeto do senador Rogério Carvalho (PT-SE), que foi meteoricamente aprovado por Senado e Câmara, de forma discretíssima.
Nestes “Depósitos Voluntários”, com a taxa Selic a 13,75%, em 2022 os bancos tiveram lucro líquido de 8%, sem o menor trabalho e sem o menor risco, confirmando que no Brasil tenta-se desmoralizar o pensador Adam Smith e criar o capitalismo sem risco, que Karl Marx e Friedrich Engels previram 150 anos atrás, como fase extremada do capitalismo para beneficiar os “rentistas”, expressão criada por eles.
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