Bruno Boghossian
Folha
Poucos fatores podem drenar a popularidade de governantes e produzir problemas políticos como os preços dos combustíveis. O gás de cozinha mais caro pressionou FHC, a gasolina alimentou o mau humor de opositores com Dilma Rousseff, o diesel jogou uma greve de caminhoneiros no colo de Michel Temer, e Jair Bolsonaro lutou contra as bombas durante a campanha à reeleição.
Lula tenta adiar seu encontro com essa maldição. Assim que voltou ao Planalto, o petista prorrogou o corte de tributos sobre combustíveis —um explosivo deixado por Bolsonaro. A decisão contrariou a equipe econômica, mas o presidente preferiu fugir a todo custo de uma má notícia no primeiro dia de mandato.
ESCALADA DE PREÇOS – O assunto voltou à mesa de Lula porque o governo quer evitar uma escalada de preços quando a desoneração acabar, na quarta-feira (1º). Depois de passar a campanha prometendo baratear os combustíveis, o petista pretende desviar esse peso dos consumidores num momento de inflação já pressionada.
O ministro Fernando Haddad é contra esticar mais uma vez o corte de impostos, que custa alguns bilhões de reais por mês ao governo e atrapalha sua missão de equilibrar as contas.
Os conselheiros políticos de Lula argumentam, por outro lado, que uma nova prorrogação é necessária para dar tempo à Petrobras de adequar sua política de preços e amenizar o impacto nas bombas.
PENALIZAR O CONSUMIDOR – Voz influente nas decisões tomadas por Lula, a presidente do PT disse que taxar os combustíveis agora seria “penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de campanha”.
Em outras palavras, Gleisi Hoffmann insinuou que a equipe de Haddad propõe uma medida que causa prejuízos à população e danos políticos ao presidente.
A maldição dos combustíveis agora ameaça Haddad. Não é pequena a chance de o ministro da Fazenda ser obrigado a absorver uma derrota pública para a ala política do governo nesse embate, além de ter que acomodar o custo da desoneração por mais dois meses.
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