BLOG ORLANDO TAMBOSI
Não é certo que perante uma catástrofe evidentemente suscitada pelo PS os nossos concidadãos desatem a concluir que a catástrofe se deve ao PS. O bom povo não é bom a interpretar evidências. A crônica semanal de Alberto Gonçalves para o Observador:
As
sondagens continuam a mostrar o PS ao lado do PSD. Independentemente
dos méritos (?) do actual PSD, numa sociedade normal o PS estaria ao
lado do Livre e do PAN, a batalhar com empenho pela fasquia (sempre quis
escrever “fasquia”) dos 1,5%. Em sociedades normais, sete anos de
desnorte, incompetência, arrogância, prepotência, nepotismo, trafulhices
e miséria costumam ter consequências aborrecidas para as agremiações
responsáveis. Em Portugal, nem tanto.
Em
Portugal, há imensa gente a desejar a continuação do governo
socialista. Os que são marxistas por convicção e que, apesar das três
mil setecentas e doze medonhas experiências anteriores, acreditam mesmo
que essa é a única via para a felicidade dos homens (e das senhoras). Os
que fazem carreira no PS. Os que aspiram a fazer carreira no PS. Os que
lucram com a presença do PS no poder. Os que aspiram a lucrar com a
presença do PS no poder. Os que empobrecem com a presença do PS no poder
mas engolem a propaganda oficial e julgam estar benzinho. Os que,
devido à presença do PS no poder, vivem na penúria absoluta mas padecem
de perturbações cognitivas que os impedem de reparar nos aspectos subtis
da realidade, como o preço do arroz e dos combustíveis, as negociatas
omnipresentes e o riso escarninho do dr. Costa.
Há
outro conjunto de pessoas interessadas na continuação do governo
socialista. Não são pessoas que votam PS. Também não são pessoas que
gostam do PS. Na verdade, são pessoas que acham trágica a governação do
PS e que, apesar disso ou graças a isso, querem que a tragédia prossiga
até às últimas instâncias. O argumento é o de que é necessário que o PS,
conforme lhe compete, rebente com isto tudo de modo a que se perceba
claramente que foi o PS a rebentar com isto tudo. Ou seja, permite-se
que o PS complete a tarefa de desgraçar os portugueses e, na ausência de
bodes expiatórios plausíveis ou implausíveis, os portugueses irão
finalmente culpar o PS pela desgraça e agir em conformidade, privando a
quadrilha de frequentar a sociedade civilizada e as disputas eleitorais.
É
uma tese curiosa. De repente, lembra a “vacina” de Henry Kissinger, que
em 1975 nos achava perdidos para o comunismo e pretendia exibir-nos a
título dissuasor ao resto da Europa. No caso em apreço, os destinatários
da dissuasão somos nós próprios. É um plano matreiro. Infelizmente,
conta com um ou dois obstáculos.
O
primeiro é a estratégia implicar um salto de fé, para usar expressão
cara a um filósofo dinamarquês. Salvo no curto prazo, o PS nunca pagou
politicamente – ou judicialmente, já agora – pelas três bancarrotas que
provocou durante o regime. Nada garante que pague pela quarta, por
devastadora que esta venha a ser. Dito de maneira diferente: não é
certo, longe disso, que perante uma catástrofe evidentemente suscitada
pelo PS os nossos concidadãos desatem a concluir sem hesitações que a
catástrofe se deve ao PS. O bom povo não é bom a interpretar evidências.
Nem a estabelecer nexos de causalidade. Nem a admitir o erro de eleger
sucessivamente o PS.
O
segundo obstáculo é o tempo, que na situação vigente é um luxo a que
não nos podemos dar. Além de uma crueldade escusada, prolongar a agonia
das pessoas apenas para tentar demonstrar que o PS, espanto dos
espantos, governa contra elas é, no mínimo, um acto leviano e
susceptível de danos irreversíveis. Os danos já causados são suficientes
e suficientemente complicados de reverter. Quando um sujeito recebe
recorrentes mocadas na cabeça, não é preciso esperar que o crânio se
estilhace em pedacinhos a fim de provar que o exercício faz mal. É
melhor parar enquanto há crânio. É melhor parar enquanto há país. Não
importa o método (há vários), e não importa se há alternativa impecável
(não há): importa compreender que, assim, isto não aguentará muito mais.
Para
cúmulo, a demolição e o saque levados a cabo pelo PS têm vindo a
intensificar-se desde que se livrou dos partidos assumidamente
leninistas e adquiriu maioria absoluta. Em parte por fervor ideológico,
em parte para monopolizar a esquerda, o leninismo vive confortavelmente
na corte do dr. Costa, a qual, só a título de exemplo, nos últimos dias
anunciou o ataque à propriedade privada e a veneração de Lula em
“Abril”. Depois das casas e do célebre condenado brasileiro, nada impede
que em breve se passe a confiscar carros ou camisas e a homenagear
Putin ou Maduro. Nada impede – a menos que alguma coisa, quiçá um
milagre, impeça o PS de prosseguir e aprimorar a loucura em curso.
É
uma loucura que a História não ensina: há quase meio século, o PS de
então fez por assegurar que Portugal não cairia no abismo comunista e
desmentiu Kissinger. Hoje o PS faz por dar-lhe razão. Convinha não lhe
fazer a vontade.
Postado há Yesterday por Orlando Tambosi
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