A imprensa brasileira ainda está longe de reconhecer alguns princípios e valores do conservadorismo. Reportagem de Bruna Komarchesqui e Maria Clara Vieira para a Gazeta do Povo:
Quando
os girondinos, grupo que representava a face mais “conciliadora” da
Revolução Francesa, se sentaram à direita da Assembleia Nacional
Constituinte de Paris para defender o estabelecimento de uma monarquia
constitucional – uma alternativa moderada à radicalidade dos jacobinos,
posicionados à esquerda -, em 1789, certamente não vislumbravam um mundo
no qual pessoas do mesmo sexo solicitariam o direito de se casar. É de
se esperar que, à época, mesmos os mais ávidos companheiros de
Robespierre considerassem a possibilidade um disparate, bem como a ideia
de que homossexuais pudessem adotar crianças.
Ainda
que, no alvorecer da Era Contemporânea, as definições de “direita” e
“esquerda” tenham nascido da contraposição entre a defesa da
continuidade, da moderação e da manutenção, ainda que parcial, do status
quo, e o clamor por mudanças radicais que reorganizariam por completo a
sociedade, mais de dois séculos depois, estes termos tão comuns ao
vocabulário político abrangem uma vasta gama de posicionamentos que não
se restringem sequer ao papel atribuído ao Estado. Eis a primeira razão
pela qual a pesquisa publicada no último domingo (3), pelo jornal O
Globo, intitulada “A cara da democracia”, é provavelmente um retrato restrito não apenas do público, mas sobretudo das próprias visões políticas que pretende analisar.
Conduzida
pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), a pesquisa entrevistou
presencialmente 2.538 eleitores em 201 cidades em todas as regiões do
país e, de largada, diz revelar "duas pistas da cabeça do eleitorado:
opiniões majoritariamente de direita, conservadoras ou 'linha-dura' -
cada vez menos envergonhadas - convivem, pontualmente, com visões de
mundo mais vinculadas à esquerda, aos direitos humanos ou à
diversidade". Ainda que admita que "a construção do que é ser de direita
ou esquerda faz parte do dia a dia político e seus significados sofrem
alterações ao longo do tempo", o texto não se furta em associar à
direita pautas que dividem liberais e conservadores de diversas matizes.
Mal comparando, é como colocar no mesmo balaio um libertário e um
monarquista, cujas visões acerca do papel Estado são fundamentalmente
opostas mas, ainda assim, são associados à “direita”. Isso sem falar na
própria definição de “conservadorismo”, associado a posições “linha
dura”, que sejam consideradas as nuances que cada posicionamento
implica.
Segundo
a pesquisa, por exemplo, “a maioria dos brasileiros tem posicionamentos
conservadores em temas como redução da maioridade penal (70% a favor) e
legalização do aborto (73% é contra), mas se posiciona contra a pena de
morte (53%) e apoia tanto o casamento entre pessoas do mesmo sexo (49%)
quanto, ainda de forma mais intensa, a adoção de crianças por casais
homoafetivos (56%)". Cada posicionamento desses exige uma análise menos
simplista sobre qual seria uma verdadeira visão conservadora. Mas é
preciso analisar com base obras de autores renomados e não apenas em
perfis de redes sociais.
O que significa ser conservador
Uma
das tentativas mais abrangentes e assertivas de retratar a origem das
divergências políticas é a obra do economista americano Thomas Sowell,
“Conflito de Visões”. De partida, o renomado intelectual reconhece que,
no cerne das diferentes opiniões que dividem liberais, libertários,
conservadores, progressistas e comunistas – e toda sua gama de
“variantes” - há uma questão essencial para que se escape de reduções
grosseiras: “Um olhar mais atento aos argumentos utilizados pelos dois
lados mostra que, em geral, essas pessoas estão raciocinando a partir de
premissas fundamentalmente diversas. (...) Eles têm visões distintas
sobre como o mundo funciona”.
Contrapondo
os escritos do filósofo político britânico William Goodwin e os do
filósofo e economista Adam Smith, Sowell identifica duas “lentes”
distintas para enxergar o mundo: a visão irrestrita e a visão restrita.
Para os adeptos da primeira, representados por Goodwin, a natureza
humana é perfectível - isto é, pode e deve ser melhorada e pode chegar à
perfeição. Para os que compartilham da “visão restrita” de Smith, ao
contrário, o homem possui limitações morais intrínsecas que não podem
alteradas, de modo que “o desafio moral e social fundamental consiste em
fazer o melhor possível dentro dessa limitação, em vez de gastar
energia em uma tentativa de se mudar a natureza humana”.
“Na
visão restrita, em que tudo o que esperamos são as contrapartidas, a
prudência é uma das tarefas mais elevadas. (...) Na visão irrestrita
está implícita a ideia de que o potencial é muito diferente do que é
real, e isso significa que existe para aprimorar a natureza humana rumo a
seu potencial, ou que tal recurso pode ser desenvolvido ou descoberto,
para que o homem faça a coisa certa pela razão certa, em vez de agir por
posteriores recompensas psíquicas ou econômicas”, explica Sowell.
Em
se considerando a definição de “conservadorismo” feita por um de seus
maiores expoentes da modernidade, o britânico Michael Oakeshott, fica
claro como a visão restrita identificada por Sowell tende a estar
associada a esta corrente política: "Ser conservador é, pois, preferir o
familiar ao estranho, preferir o que já foi tentado a experimentar, o
fato ao mistério, o concreto ao possível, o limitado ao infinito, o que
está perto ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao
perfeito, a risada momentânea à felicidade eterna. (...) Significa viver
dentro dos limites do patrimônio, usufruir dos meios possíveis à
riqueza, contentar-se com a necessidade de maior perfeição que é exigida
a cada um em dada circunstância".
Outra
tentativa de compreender o que está por trás das diferenças ideológicas
resultou na Teoria dos Fundamentos Morais, desenvolvida pelo psicólogo
Jonathan Haidt. Em seu livro, “A Mente Moralista: Por que as pessoas
boas se separam por causa da política e da religião?” (Editora Alta
Books), cuja síntese foi apresentada por Haidt em uma palestra na
conferência TED Talk em 2012, o psicólogo explica que, ao analisar um
extenso escopo de culturas, estudos antropológicos, correntes
filosóficas etc, percebeu a existência de cinco “instintos morais” aos
quais o ser humano tende a responder instintivamente; com base,
inclusive, em predisposições genéticas: cuidado, justiça, lealdade ao
grupo, autoridade e pureza.
Em
suma, pessoas que são, naturalmente, mais abertas à novidade e,
portanto, tendem a ser mais progressistas, dão muito valor à justiça
(também entendida como “equidade”) e ao cuidado com o próximo, mas quase
nenhuma importância à lealdade grupal, autoridade e pureza; enquanto
pessoas que valorizam a estabilidade e tendem ao conservadorismo
valorizam os cinco itens. Nesta reportagem, a Gazeta do Povo destrincha
como há, de fato, um abismo moral entre a imprensa e a população. Além
disso, é possível identificar a predileção pelos “canais morais” de
justiça e cuidado à visão irrestrita de Sowell, associada aos que
acreditam em soluções permanentes para problemas universais – a
insistência na proibição dos “discursos de ódio”, como se o sentimento
em si pudesse ser extirpado da terra, é um belo exemplo. Por outro lado,
o respeito à ordem e à autoridade como formas de contenção da
inevitável falibilidade humana são associáveis à visão restrita e ao
conservadorismo.
Disto
não decorre, contudo, que os conservadores não estejam preocupados com
questões de justiça ou cuidado, mas que tendem a equilibrá-los com
outros elementos também indispensáveis para a convivência (o próprio
Haidt avalia que todas as sociedades que evoluíram e prosperaram contam
com membros capazes de operar nos “cinco canais”). Não à toa, o filósofo
político Russell Kirk, um dos pais do conservadorismo contemporâneo,
afirma que “a permanência e a mudança devem ser reconhecidas e
reconciliadas em uma sociedade vigorosa”.
Cabe
retomar, por fim, o alerta do próprio Kirk acerca da definição do
conservadorismo: “Portanto, senhoras e senhores, caso estejais
procurando por algum ‘Manual Infalível do Conservadorismo Puro’ - ora,
estais perdendo o vosso tempo. O conservadorismo, não sendo uma
ideologia, não tem nenhum gabarito presunçoso, estimada criação de algum
terrível simplificador, ao qual o cândido devoto da salvação política
possa recorrer toda vez que tiver alguma dúvida”. O que nos leva aos
elementos avaliados pela pesquisa.
O papel da escola e da família na educação
A
militarização das escolas (anseio de 67% dos ouvidos pela pesquisa) e a
opinião de que se deve ensinar a rezar e acreditar em Deus (84%) não,
por exemplo, bandeiras conservadoras para a educação. “Não existe isso
de que um conservador quer que os alunos rezem na escola, porque
conservadorismo não é religião. E o conservadorismo não tem a ver com a
ideia de que as escolas militarizadas são melhores que as outras, mesmo
porque, se ele se pauta por uma tradição, as escolas tradicionalmente
não são ambientes militarizados. Muito pelo contrário, são ambientes de
liberdade, de ensino, pedagógicos e não propriamente de regras rígidas e
militarizadas, como uma escola militarizada vai preconizar”, defende o
colunista da Gazeta do Povo Paulo Cruz, que é palestrante sobre educação
e professor de Filosofia e Sociologia em escolas estaduais e privadas
de São Paulo.
“Educar,
no sentido conservador do termo, é transmitir para a nova geração o
legado das gerações anteriores, o máximo daquilo que foi aprendido e os
erros cometidos também”, salienta. Nesse sentido, a grande crítica da
direita se dá mais no âmbito da nova pedagogia, que “rejeita não somente
a ideia da importância dos conhecimentos, mas também a das exigências, a
da autoridade do docente e das regras de conduta, assim como as
referências a uma cultura compartilhada”, como define a pedagoga sueca
Inger Enkvist, em seu livro Repensar a Educação.
“A
nova pedagogia passa a advogar um ensino para transformar o cidadão, ou
para criar cidadãos melhores, e abandona a tradição de educação, que
privilegia o ensino da tradição histórica do país e do mundo”, explica
Cruz. Como afirma Enkvist: “A nova pedagogia não se interessa pela
criatividade das grandes personalidades históricas: prefere a expressão
da criatividade no aluno”. Além disso, “não leva em consideração a
experiência de muitas gerações com relação à importância do professor
para criar entusiasmo pelo conhecimento”, o que, na opinião da autora, é
um erro.
“As
crianças aprendem mais com a ajuda dos adultos que de seus colegas
porque os adultos sabem mais e ensinam melhor. Entre pares, somente de
vez em quando costuma ser obtido um bom resultado, mas não há garantias.
O trabalho em equipe entre companheiros deixa de fora a
retroalimentação, muito importante para a aprendizagem, porque os alunos
ignoram se sua resposta é correta ou não”, explica a pedagoga, com base
em um estudo norte-americano sobre o pensamento infantil.
Mais
do que as disciplinas, acrescenta Enkvist, nessa corrente pedagógica o
foco são as diferenças sociais entre os alunos. “Decidiram que a escola
deve se transformar no lugar no qual se resolve de uma vez para sempre o
problema da desigualdade entre indivíduos. (...) O pedagogismo se opõe a
toda seleção e a qualquer livre opção de tom qualitativo. Concebe o
conceito de igualdade na educação como igualdade não tanto de
oportunidades como de direitos. Os jovens aprendem a não ter que assumir
as consequências derivadas de seus atos. As transgressões na esfera
pública não somente não se sancionam, como também não é infrequente que
sejam celebradas como uma genialidade”, critica.
A defesa do meio ambiente
Quando
se fala em preservação do meio ambiente no Brasil, a associação com a
esquerda é quase automática, mas sua ligação com o conservadorismo é,
inclusive, etimológica. Conservador vem do latim “conservare”, ou seja,
“manter intacto, guardar, preservar”, palavras caras também à causa do
meio ambiente, como lembra o ativista ambiental Jota Júnior, membro da
Youth Climate Leaders.
“O
conservadorismo, em sua essência, não é uma ideologia. Quando o
Bolsonaro fala que não vai demarcar um centímetro de terra indígena,
isso é ideologia, não tem a ver com ciência ou com análise situacional. A
visão conservadora exige uma análise circunstancial e situacional”,
defende. “O problema é que o conservadorismo acabou se afastando de
pautas tomadas pela esquerda. Mas eu defendo que precisamos oferecer
perspectivas acerca de pautas sociais, como questões raciais e LGBT, por
exemplo”, completa Jota.
Segundo
a pesquisa, na área ambiental os brasileiros tendem a ser mais de
“esquerda” ao rejeitarem supostos “temas caros ao bolsonarismo”, como a
liberação de mais agrotóxicos (83% são contra) e a permissão para
mineração nas terras indígenas (72% discordam). O ambientalista Jota
Júnior, que se define como conservador, é favorável aos agrotóxicos -
embora seja contra o PL 6.299/2002 e a favor da demarcação de terras
indígenas. “A análise de dados mostra que, quando o objetivo é a
preservação da floresta, as terras indígenas têm sucesso, com menos de
1% de desmatamento. O conservadorismo é muito mal comunicado através da
mídia, com esse conservadorismo de rua, brutamontes, como o do
Bolsonaro. A pesquisa traz rótulos que me colocariam na esquerda”,
pondera Jota.
Guilherme de Carvalho, um dos fundadores da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência, critica
conservadores que desprezam as árvores e zombam dos verdes”. “Cuidar da
família, da mulher, do nascituro e do meio ambiente: todos pertencem à
mesma lógica da mordomia da criação, da ética do cuidado, de um
conservadorismo generoso”, reforça.
O
tema, inclusive, merece um capítulo inteiro no best-seller “Como ser um
conservador”, de Roger Scruton, que é considerado por alguns o “guru da
nova direita brasileira”. “[Conservadores] acreditam que a coisa mais
importante que os vivos podem fazer é radicar-se, construir um lar e
deixá-lo como legado para os filhos. Oikophilia, o amor pelo lar, serve à
causa do ambientalismo”, afirma.
Scruton
acredita em conquistas concretas, em pequena escala, “que mudariam a
face da Terra” caso reproduzidas em escalas maiores, por sua ligação com
um “motivo natural - o vínculo compartilhado com um lugar comum e com
os recursos que oferecem para os que nele vivem”. É nesse sentido que
ele separa o conservadorismo das “formas de ativismo ambientalista em
voga”. “Ambientalistas radicais têm uma tendência a definir as
finalidades em termos globais e internacionais, e apoiam organizações
não governamentais e grupos de pressão que lutarão contra as predadoras
multinacionais no território delas e utilizando armas que prescindem da
soberania nacional.”
A defesa da vida e da dignidade humana
Ao
contrário do que indica a pesquisa publicada pelo O Globo, também não
há uma contradição entre ser contra o aborto e não desejar a prisão de
uma mulher que tenha abortado. “É possível se posicionar moralmente
contra o aborto com bastante firmeza e não achar que uma mulher deve ser
presa, não vejo relação. O criminoso vai preso porque tem uma culpa
diante da sociedade, precisa ser isolado do convívio social para não
cometer mais crimes e precisa reparar. No caso de uma mulher que toma a
decisão de abortar, esses critérios não são muito óbvios. Ela faz mais
pelo desespero, por várias razões, é muito mais da natureza psicológica
do que psicopata. Mas é moralmente grave, moralmente ilícito, não
precisa ser criminoso para estar errado”, defende o professor de
filosofia Francisco Razzo, autor do livro “Contra o Aborto”.
A
educação da consciência moral para a dignidade da vida do nascituro,
portanto, tem mais valor para o conservadorismo nesse debate. “O
liberalismo tende a transformar a moralidade em foro íntimo, em
privacidade, como se fosse uma experiência subjetiva, e é errado. Moral é
o que tece nossas relações na sociedade e fundamenta, inclusive, alguns
princípios fundamentais do Direito”, reforça Razzo.
É
próprio do conservadorismo analisar e compreender as situações em suas
particularidades. Assim, ainda que o aborto seja um atentado contra a
vida humana em todas as etapas da gestação, Razzo defende que haja
punição quando praticado em fases mais avançadas. “Uma mulher com seis,
sete meses que enfia uma agulha na barriga, aí acho um caso limite de
ter que responder penalmente e talvez ir presa mesmo”, analisa.
Outro
tema comumente ligado à direita é a defesa da pena de morte. Embora
muita gente que se considera conservadora expresse opiniões favoráveis, a
dignidade da vida e a desconfiança natural do Estado (que, em última
instância, decidiria quem vive e quem morre) são alguns dos valores do
conservadorismo atentados pela pena capital. Mesmo que a dignidade moral
possa ser livremente perdida, ela também pode ser recuperada por
decisão do indivíduo, mas nunca retirada. Assim, mais eficiente que a
pena de morte seria o fim da impunidade, a celeridade na Justiça e a
adoção de penas proporcionais à gravidade dos crimes.
O problema das drogas e da segurança pública
Tão
problemática quanto a associação da pena de morte ao conservadorismo é à
da frase “bandido bom é bandido morto”, rejeitada por 59% dos
entrevistados na pesquisa e associada a posições “linha-dura” na
segurança pública, que incluem a redução da maioridade penal (70% de
aprovação). Enquanto a primeira incorre em uma distorção do
conservadorismo, a segunda não representa sequer uma unanimidade na
direita – que inclui liberais, libertários e afins -, tal como ocorre
com a descriminalização das drogas.
Tome-se,
como exemplo, os escritos do economista austríaco Ludwig von Mises: “É
fato notório que o alcoolismo, o cocainismo e o morfinismo são inimigos
mortais da vida, da saúde e da capacidade de trabalho e de lazer; e o
usuário deveria, por conseguinte, considerá-los vícios. (...) Não é de
modo algum evidente que tais intervenções do governo sejam de fato
capazes de suprimir tais vícios; e, mesmo que este objetivo fosse
atingido, não é nada evidente que tal intervenção não irá abrir uma
caixa de Pandora de outros perigos não menos nocivos que o alcoolismo e o
morfinismo”.
Alguém
que se declare "de direita" pode, portanto, posicionar-se em qualquer
um dos polos no tocante à maioridade penal ou à descriminalização das
drogas. Imbuído de uma visão circunstancial, calcada na experiência e na
moralidade, um conservador pode, por exemplo, posicionar-se contra as
drogas com base nas experiências fracassadas de outros países, ou ter visões pontuais acerca de usos específicos destas substâncias.
O casamento LGBT
“O
casamento fornece uma âncora (…) no caos do sexo e dos relacionamentos a
que todos somos propensos. Fornece um mecanismo para estabilidade
emocional, segurança econômica e a criação saudável da próxima geração”.
Assim o jornalista britânico Andrew Sullivan defendeu, em um famoso
artigo publicado em 1989, que a união entre pessoas do mesmo sexo
poderia ser abraçada por conservadores.
Não
se pretende, aqui, entrar em discussões religiosas acerca do assunto
nem nos elementos que justificam a intervenção do Estado na relação
entre dois adultos. Ocorre que a pesquisa publicada por O Globo parece
assumir que entre os autodeclarados conservadores, “linha-dura” e
supostamente contrários à diversidade, haveria uma ampla rejeição aos
homossexuais. Mas o artigo de Sullivan mostra que o tema ainda é
controverso. Ou seja, um conservador alinhado com o autor seria
considerado de esquerda pela pesquisa.
Outro
exemplo recente que parte de um autor apreciado entre conservadores
brasileiros aparece na conversa entre o psicólogo canadense Jordan
Peterson e o jornalista Dave Rubin, que é homossexual e pai de dois
filhos. “Eu nunca forçaria uma igreja, mesquita ou sinagoga a realizar
um casamento que fosse contra suas crenças, mas da perspectiva secular,
se você não der às pessoas a mesma oportunidade de estar em um
relacionamento duradouro e aprender tudo o que conversamos [a
importância de relações estáveis e duradouras para o amadurecimento
pessoal], o que sobra para elas?", declara Rubin, a certo ponto. Ao que
Peterson comenta: “Quem sabe o que pode acontecer quando você não tem
permissão para ser quem é? Parece bastante provável que [nessa situação]
um excesso de rebeldia comece a parecer atraente”.
Rubin,
então, reforça sua crença na família como elemento essencial à
sociedade e diz se solidarizar com conservadores que, hoje, lutam contra
o autoritarismo dos ativistas queer. Há, inclusive, quem defenda que a
rejeição popular ao casamento gay se deve sobretudo a estes excessos,
que descambam para a defesa de cirurgias de transição sexual em crianças
e o completo apagamento do termo “mulher”, por exemplo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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