Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada neste domingo, dia 03 de julho:
Parece
incrível, mas há algumas semelhanças entre Mané Garrincha, um dos
grandes craques do futebol brasileiro, e o presidente Bolsonaro. E
muitas diferenças: Garrincha não guardava ódios, Bolsonaro guarda;
Garrincha era índio, Bolsonaro disse, em 2020, que índio ainda não é um
ser humano igual a nós, mas está chegando; Garrincha era de Pau Grande,
Bolsonaro não. Mas os dois têm admiradores fanáticos, geraram muitos
filhos, optaram pela extrema direita, fizeram o que quiseram. Como
Garrincha, que chamava todos os marcadores de João, e os ignorava,
Bolsonaro não precisa saber o nome de quem o combate: todos falam mal,
mas fazem o que ele quer.
Lula,
PSDB? Os últimos tucanos (com a solitária oposição de José Serra)
votaram junto com a bancada do PT e do PSB: obedecendo ao Governo. Em
tempo recorde, o Senado aprovou por quase unanimidade uma emenda
constitucional que permite agradar o eleitor com dinheiro público. Em má
posição nas pesquisas, Bolsonaro recebeu de presente a chance de chegar
ao segundo turno. Pela lei, é proibido oferecer benefícios aos
eleitores pertinho da eleição. Criaram então um “estado de calamidade”
causado pela guerra na Europa. A coisa é tão descarada que o benefício
aos eleitores só vale até o fim do ano. No ano que vem, que morram de
fome, com a alta da inflação.
Bolsonaro
agrada os caminhoneiros com o vale-diesel, dá uma graninha para quem
tem carro, e tudo isso com os votos da assim chamada oposição.
A tal calamidade
A
Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, há pouco mais de quatro
meses. A inflação come solta há quase um ano. Os caminhoneiros reclamam
do preço do diesel desde o governo Temer, há mais de quatro anos. E
agora é que surge a calamidade?
Sim: as eleições estão chegando. E a calamidade tem data certa para acabar, 31 de dezembro. Então, tá. A gente acredita.
Teto solar
Governo
e Congresso olham o céu, em Brasília, e se impressionam com a beleza do
cenário, que para eles, bem pagos e bem postos, demonstra que o Paraíso
existe. Só não percebem que essa bela vista demonstra uma coisa a mais:
que, na vida real, o teto já não existe.
Atos e fatos
Ele
só seguiu as normas: conservador nos costumes, liberal ao lidar com
mulheres submetidas às suas ordens. A mão que nas horas vagas controla o
dinheiro dos “pacotes de bondades” é a que manipula poupanças e
cofrinhos. Terrivelmente religioso, no trabalho estimula doações: ou dá
ou desce.
Eterna vigilância
E
é bom acompanhar o caso do ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Se
de repente baixam aí um sigilo de cem anos no inquérito, nem a rainha
Elizabeth saberá o que é que aconteceu. Guimarães deve ter amplo direito
de defesa, mas o processo deve andar normalmente e definir se ele é
culpado ou não. Apesar das muitas acusações, até o julgamento presume-se
a inocência.
Todos juntos, vamos
Sejamos
claros: tudo o que ocorre em Brasília, hoje, não tem qualquer outro
objetivo exceto a eleição. E isso submete o Governo, qualquer que seja o
eleito, à lógica da chantagem: se não pagar corre o risco de cair, se
pagar continua correndo o risco, a menos que concorde em pagar outras
vezes.
Voto caro
Cada
candidato à Presidência da República poderá gastar R$ 88 milhões no
primeiro turno (em 2018 eram R$ 70 milhões). Quem for para o segundo
terá mais 44 milhões para gastar (em 2018, foram 35 milhões). Tudo,
claro, dinheiro público. Dá para estranhar que haja tantos partidos no
Brasil?
A sorte do convidado
Já
estava tudo marcado: amanhã, segunda, Marcelo Rebelo de Sousa, o
presidente de Portugal, se reuniria com Bolsonaro no Palácio do
Planalto. Mas Bolsonaro ficou irritado com o presidente português porque
ele também deverá, hoje, se encontrar com Lula, e suspendeu o encontro.
Pensar
com o fígado dá nisso: por motivo semelhante, Bolsonaro não recebeu um
enviado francês, apesar da reunião marcada, e se fez fotografar cortando
o cabelo. Só que tanto a França como Portugal fazem parte da União
Europeia, com quem o Brasil, como parte do Mercosul, tenta inutilmente
colocar em prática um acordo comercial negociado por vinte anos. Para o
dirigente português, foi um golpe de sorte: quando almoçou com
Bolsonaro, teve de ouvir piadas e comentários de cunho sexual, pouco
usuais em reuniões entre estadistas.
Fascismo de esquerda
Três
políticos do Partido Novo, o deputado estadual Fernando Holiday, que
deve se candidatar a federal, e dois pré-candidatos à Assembleia, Lucas
Pavanato e Leo Siqueira, foram impedidos de participar de uma palestra
na Universidade de Campinas pela União da Juventude Comunista. O grupo
de baderneiros os cercou e tocou tambores para que não fossem sequer
ouvidos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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