Estudos apontam que quase 40% das puérperas tiveram depressão pós-parto na pandemia
Estudo
conduzido em dois serviços de saúde da Universidade de São Paulo (USP),
em 2020, revelou que 38,8% das mulheres que deram à luz nos hospitais
públicos da capital paulista apresentaram sintomas de depressão
pós-parto. O percentual corresponde a quase o dobro da taxa de estudos
nacionais anteriores ao período de pandemia.
A
depressão pós-parto é uma doença que se inicia algumas semanas após o
nascimento da criança, podendo se estender sem limitação de tempo.
Resumidamente, a mulher fica sem forças e energia para seguir sua
rotina. A doença não possui causa única, mas pode ser explicada pela
fase de puerpério – período após o nascimento do bebê, marcado por
alterações físicas, hormonais e emocionais
“No
decorrer da gestação, a mulher é submetida a altas doses de hormônios
que afetam sua locomoção, raciocínio e memória. Após o parto, durante o
puerpério, essa quantidade de hormônios cai rapidamente, o que pode
desencadear transtornos pós-parto, como a depressão”, explica Yara
Leite, gerente de Enfermagem do Hospital Bom Pastor, unidade própria da
Pró-Saúde que atua como referência em Obstetrícia e Pediatria na região
de Guajará-Mirim (RO).
Além
da deficiência hormonal, a falta de uma rede de apoio e a sobrecarga
materna, associadas ao medo de contágio pelo coronavírus e a necessidade
de isolamento social – em decorrência da pandemia da covid-19 –, se
destacam como motivos para a crescente taxa de depressão pós-parto no
país.
A
rede de apoio é um grupo composto por todas as figuras que os pais e,
principalmente, a mãe, podem contar para cuidados com o bebê, suporte
emocional e escuta. Culturalmente, os avós fazem parte da rede de apoio
e, sendo esse o grupo de risco para a covid-19, sua ausência acabou por
agravar o estresse constante e consequente quadro de depressão sofrido
pelas mães.
Daniela
Dias, psicóloga do Hospital Materno-Infantil de Barcarena (HMIB),
unidade referência em atendimento à gravidez de alto risco no interior
paraense, analisa a relação entre a pandemia e a taxa apresentada.
“No
contexto da pandemia que enfrentamos, o medo do vírus se tornou um
fator de risco para o desenvolvimento de estresse pós-traumático, que
aliado à necessidade de isolamento em um momento muito marcante da vida,
deixaram muitas mulheres sem amparo para seus pensamentos e angústias”,
explicou a especialista.
Em
2020, Jéssica Mendes se tornou mãe pela primeira vez, no
Materno-Infantil de Barcarena. Com o nascimento prematuro da filha em
meio à pandemia, a jovem, de apenas 26 anos, precisou de auxílio para
lidar com os novos sentimentos que surgiram.
“Com
a gravidez e parto vêm mais nervosismo, ansiedade, insegurança e medo.
Ser mãe antes da previsão de parto, em meio a uma pandemia, foi muito
pra mim. Foi meu primeiro bebê e tive dificuldade em lidar com
sentimentos. Você nunca se sente preparada para isso”, relatou à época.
Prevenção à depressão pós-parto
O
diagnóstico precoce é a principal forma de se prevenir contra a
depressão pós-parto. Por isso, é fundamental que os médicos estejam
preparados e tenham condutas atualizadas e as mulheres pacientes possam
identificar os sinais de alerta, para buscar ajuda profissional. Daniela
explicou a lógica que envolve a depressão pós-parto e aponta os
principais sintomas da doença.
“A
tristeza não está relacionada só com o nascimento da criança, ela
permeia todas as atividades que antes eram prazerosas para a mulher,
desde assistir sua série favorita, a ir ao trabalho. Nesse caso, os
sintomas mais comuns são sonolência, falta de energia, alterações no
apetite e ansiedade, como crises de pânico e cuidado excessivo com o
bebê”, destacou a psicóloga.
Amamentação é grande aliada
Além
da prevenção, existem outras medidas de proteção como, por exemplo, a
amamentação. Especialistas apontam que amamentar é fundamental nesse
papel, porque além de fortalecer a conexão com o bebê, a prática
beneficia a saúde mental da mãe devido à liberação de ocitocina,
conhecido como “hormônio do amor”, que provoca sensação de bem-estar e
relaxamento.
“Essa
carga hormonal ajuda a mulher a se sentir mais feliz e auxilia na
recuperação da depressão pós-parto. Entretanto, o processo de
amamentação também demanda uma rede de apoio que a ampare e,
consequentemente, ajudando na recuperação da doença”, ressaltou Yara.
Além da promoção do aleitamento materno, há outras dicas para ajudar na prevenção e proteção contra a depressão pós-parto:
· Construir e acionar uma rede de apoio;
· Ficar atenta às emoções;
· Identificar casos de depressão pós-parto na família;
· Realizar atividades físicas;
· Manter a qualidade do sono e períodos de descanso;
· Participar de grupos de mães;
· Buscar por ajuda especializada.
Vale
ressaltar que em casos mais graves de depressão, a mulher corre
inúmeros riscos. Por isso, é sempre recomendado entrar em contato com
profissionais da saúde, como médicos obstetras e psicólogos, que
ajudarão na identificação da doença, e psiquiatras, responsáveis pelo
tratamento da doença por meio de psicoterapia e medicamentos compatíveis
com a amamentação.
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