MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 5 de julho de 2022

CPI americana quer acabar com Trump para sempre, mas não é tão fácil assim.

 



Relato sobre um presidente fora de si, que agarrou volante de limusine e atacou agente do Serviço Secreto é desmentido - pelo Serviço Secreto. Vilma Gryzinski:


Toda CPI é política, embora siga procedimentos que lembram os da justiça regulamentar.

Portanto, o objetivo da comissão parlamentar que investiga os acontecimentos de 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão de trumpistas convictos entrou no Congresso, numa grave falha de segurança e de má orientação política, é claro: tirar de Donald Trump qualquer possibilidade de voltar a se candidatar a presidente.

Se possível, vários democratas e alguns dissidentes republicanos gostariam também que ele fosse levado a ferros para a Ilha do Diabo e esquecido lá para sempre.

Não é tão fácil assim. Todo o arcabouço montado para incriminar Trump sofre do mesmo problema ocorrido durante seu governo: os muitos pecados do ex-presidente, que é um especialista em disparar tiros no próprio pé e dar argumentos de bandeja aos inimigos, são excessivamente inflados, quando não altamente contestáveis.

O caso mais recente envolve Cassidy Hutchinson, a jovem, bonita e bem maquiada – até cílios postiços usou- na CPI que foi assessora do último chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows.

Cassidy pintou um quadro tétrico daquele dia: Trump queria ir ao encontro da multidão, os agentes do Serviço Secreto disseram que não havia segurança para isso. O presidente ficou furioso, soltou um palavrão, agarrou o volante da limusine presidencial e, impedido pelo principal agente no comando, Bobby Engel, investiu contra ele, segurando-o na altura das clavículas.

Detalhe importante: Cassidy estava relatando uma versão de segunda mão, baseada no que havia ouvido de Tony Ornato, um dos agentes em campo.

E mais importante ainda: Ornato disse que nunca havia falado com Cassidy Hutchinson a respeito. E o Serviço Secreto disse que os outros agentes, inclusive Engel, estão à disposição para desmentir a versão.

E tem mais: naquele dia, Trump estava sendo transportado numa SUV da frota do Serviço Secreto, não na limusine presidencial, a fenomenal máquina apelidada de The Beast, ou A Fera, blindada para resistir até as ataques com armas químicas – além de ter maçanetas que desferem cargas elétricas, lança-granadas, vidros de 13 centímetros de espessura e um frigobar cheio de bolsas de sangue do tipo do presidente.

A própria mecânica do gesto soa pouco realista. Trump, debruçado sobre o banco do motorista, pretendia dirigir até o Congresso? Enfrentaria na unha o motorista e mais dois agentes?

A reação dos antitrumpistas, no Congresso e na imprensa, tem sido a de tentar desmoralizar Tony Ornato. Ele foi até acusado de, indiretamente, tentar tirar o vice-presidente Mike Pence do local protegido para o qual tinha sido levado, no Congresso.

A dinâmica em torno de Pence é importante. Se tivesse sido removido, por motivo de segurança, a sessão que diplomou Joe Biden como presidente eleito não teria ido adiante, alimentando mais as manobras de Trump para tentar impugná-lo.

Ampliar ao máximo – e até um pouco mais – as atitudes e as intenções dos manifestantes que entraram, de início até cuidadosamente, no Capitólio, o prédio neoclássico, com o icônico domo, tem sido frequente entre democratas, simpatizantes e maioria da mídia.

Até o número de pessoais que morreram é manipulado. Não foram “até dez”, mas quatro, todos integrantes do protesto: dois de ataque cardíaco, uma de overdose de anfetamina e outra, o caso flagrado em imagens, Ashli Babbitt, veterana da Força Aérea baleada no ombro por Michael Byrd, da segurança do Congresso.

Brian Sicknick, da polícia do Congresso, morreu no dia seguinte aos eventos de AVC. Na época, foi dado como vítima de um golpe com um extintor de incêndio desfechado por um trumpista, mentira que se perpetuou até hoje. Outro agente de segurança, o policial Jeffrey Smith, suicidou-se, também no dia seguinte, e, absurdamente, é dado como vítima dos trumpistas.

O desejo de criar mártires é evidente e distorce os fatos, graves, mas não extremos como são pintados desde a época.

Trump queria usar a multidão para forçar uma mudança no resultado da eleição presidencial? Muito provavelmente.

Conseguiria fazê-lo? Completamente impossível. Mesmo que os manifestantes tomassem controle do Congresso, um fato consumado dessa natureza jamais seria aceito e acabaria reprimido com o devido rigor da lei. No máximo, teriam provocado incidentes de violência execrável, que provocaria repúdio maior ainda.

Mas as distorções continuam acontecendo e, provavelmente, perpetuarão a versão de que Trump agarrou a direção do veículo presidencial e investiu contra um agente do Serviço Secreto.

“Talvez partes da história de Hutchinson sejam verdadeiras (embora a parte que capturou as atenções e os clamores de processo – a de que Trump atacou seus agentes e agarrou o volante da Fera! – fosse altamente duvidosa), mas precisamos de ceticismo “jornalístico”, não de torcida”, espetou um especialista em controvérsias, Glenn Greenwald.

Ele acrescentou que é “literalmente impossível” contar quantas vezes um escândalo sobre Trump dominou o ciclo noticioso, só para ser desautorizado ou desmentido depois.

Como sempre, o desmentido ganha destaque infinitamente menor.

O novo desdobramento pode incentivar Trump a antecipar o lançamento da sua campanha presidencial para 2024.

Quanto mais Joe Biden continua na Casa Branca, menos inaceitável Trump parece. Na média das pesquisas, Biden tem 38,4% de aprovação e 56,9% de rejeição. Inflação, gasolina cara, o espectro da recessão e sinais de déficit cognitivo não são problemas que vão desaparecer magicamente – ou mesmo num período de tempo razoavelmente curto para facilitar uma reeleição em 2024.

Hoje, Trump teria 44% dos votos, contra 39% para Biden.

Mais de 840 pessoas foram presas pela invasão do Capitólio, enquadradas em crimes da esfera federal. Algumas penas parecem excessivas, chegando a cinco anos em casos comprovados de agressão a agentes da lei, mas todas seguem, obviamente, os devidos processos.

Para a CPI, o único nome que interessa é o de Donald Trump.

“Um homem tão perigoso como Donald Trump não pode absolutamente nunca mais ficar em qualquer lugar próximo do Gabinete Oval”, disse Liz Cheney, a deputada republicana que virou inimiga juramentada de Trump.

Mais explícita impossível.
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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