Nós, liberais, desde Adam Smith, queremos igualdade de permissão. Coluna de Deirdre McCloskey para a Folha:
Seu país e o meu sempre figuram em posição baixa no ranking de igualdade.
Os economistas esquerdistas como Thomas Piketty ou Mariana Mazzucato
encaram o Brasil e os Estados Unidos como os bad boys. Querem que nossos
governos resolvam o problema. O direitista desagradável escarnece:
"Quem se importa com isso? A desigualdade paga por meu clube de tênis no
centro do Rio, para eu poder jogar numa quadra iluminada."
Nenhum
dos dois lados é justo, sensato ou científico. Os economistas ficaram
obcecados com a igualdade. Mas não pensam filosófica ou economicamente
sobre qual igualdade devemos valorizar eticamente ou o que podemos
alcançar com prudência.
Um
tipo de igualdade é o de renda. Faz sentido numa família pequena. Todo
mundo, em sua família, deveria receber a mesma alimentação e habitação
com sua renda. A esquerda, então, extrapola a vida familiar para um país
de 213 milhões de habitantes. Mas se um cirurgião e um gari recebessem o
mesmo resultado, haveria garis demais e cirurgiões de menos. Aos olhos
de Deus, os dois têm valor igual. Mas para possibilitar o grande
enriquecimento dos mais pobres, que ocorreu de fato entre 1800 e hoje,
os incentivos humanos têm importância. Ao pagar mais aos cirurgiões, a
economia está dizendo: "Mais cirurgiões, por favor. Mais inovações como
celulares e Uber."
Outro
tipo de igualdade é o de oportunidades. Novamente, seria bom. Se todo
mundo tivesse o talento de Pelé, o futebol seria ainda melhor. Se todos
tivessem exatamente os mesmos genes, sorte, altura, beleza, pais,
inteligência, nacionalidade, geração, reinaria a igualdade de
oportunidades. Mas subsídio algum pode chegar perto de alcançar isso.
Kurt Vonnegut Jr. escreveu um conto, "Harrison Bergeron", imaginando um
futuro em que Pelé, por exemplo, fosse obrigado a carregar pesos como um
cavalo de corrida para garantir igualdade exata de oportunidades. Uma
insensatez. E isso impossibilitaria o grande enriquecimento. Financiar
escolas, sim. Obrigar Pelé a jogar carregando pesos, não.
Então
eu não me importo com a igualdade? Me importo, sim, profundamente. Nós,
liberais, desde Adam Smith, queremos igualdade de permissão. Que Pelé
possa inventar seu jogo. Que as mulheres possam ser pilotas comerciais.
Que os moradores da Rocinha sejam donos dos terrenos. Que todos, como
dizem os britânicos esportivos, "tenham a chance de tentar".
A igualdade de permissão, na realidade, rendeu bastante igualdade de renda e de oportunidades. Sim, é claro, queremos um pouco das outras igualdades por meio de subsídios.
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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