MEDIÇÃO DE TERRA

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terça-feira, 2 de novembro de 2021

Ruy Barbosa, 100 anos depois

 


ABI apresenta, na sexta-feira (05), agenda comemorativa ao centenário de falecimento do jurista baiano


Tribuna da Bahia, Salvador
02/11/2021 11:03 | Atualizado há 6 horas e 10 minutos

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Foto: Divulgação

Sempre referenciado como um intelectual polímata, multifacetado, a importância de Ruy Barbosa vai além de ter exercido muitos ofícios. Para a Bahia e para o Brasil, Ruy deixou um legado de brilhantismo, seja na atuação em defesa das liberdades individuais e da liberdade de imprensa, seja pelas propostas políticas e educacionais. Instituições vinculadas à trajetória de Ruy pretendem lembrar os 100 anos do falecimento do jurista baiano, em 1° de março de 2023. Uma das guardiãs da memória dessa figura notável, a Associação Bahiana de Imprensa (ABI) vai receber em sua sede, no Centro Histórico de Salvador, autoridades e representantes das entidades promotoras do centenário. Com o objetivo de apresentar a agenda comemorativa, o encontro será realizado às 10h do próximo dia 5 de novembro, data de nascimento de Ruy Barbosa e Dia Nacional da Cultura. 

A memória do “Águia de Haia” está mais presente do que nunca. Em março deste ano, também se tornou centenário o seu notável discurso “Oração aos moços”, escrito para a turma de formandos da atual Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo de 1921, que o elegeu como paraninfo. Sem poder comparecer devido à saúde já fragilizada, Ruy Barbosa redigiu o discurso que foi lido pelo catedrático de Direito Romano, Reynaldo Porchat. Ali, o jurista, colocando-se como um companheiro e também estudante, recorda qual foi a régua moral de seu trabalho que o levou a alcançar a magnitude que teve como figura pública.  

“Estou-vos abrindo o livro da minha vida. Se me não quiserdes aceitar como expressão fiel da realidade esta versão rigorosa de uma das suas páginas, com que mais me consolo, recebei-a, ao menos, como ato de fé, ou como conselho de pai a filhos, quando não como o testamento de uma carreira, que poderá ter discrepado, muitas vezes, do bem, mas sempre o evangelizou com entusiasmo, o procurou com fervor, e o adorou com sinceridade”, pede, em sincero apelo aos futuros advogados e juízes da turma.  

O discurso é uma lição de apreço pelo trabalho, paixão pela justiça e vontade de lutar pela igualdade. Ruy foi escolhido paraninfo devido aos 50 anos desde sua consagração ao direito naquela mesma faculdade, e, tendo atuado brilhantemente, demonstrou aos alunos o que sua carreira e seus estudos haviam lhe ensinado. “(...) Não tergiverseis com as vossas responsabilidades, por mais atribulações que vos imponham, e mais perigos a que vos exponham. Nem receieis soberanias da terra: nem a do povo, nem a do poder. O povo é uma torrente, que rara vez se não deixa conter pelas ações magnânimas. A intrepidez do juiz, como a bravura do soldado, o arrebatam e fascinam”, afirma.  

“(...) tudo envidei por inculcar ao povo os costumes da liberdade e à república as leis do bom governo, que prosperam os Estados, moralizam as sociedades, e honram as nações”, recorda Ruy, ao narrar seus feitos que foram além do Direito. Foi abolicionista no Brasil colonial; foi republicano durante a monarquia; foi um “civilista” durante um governo de militares. Após uma vida de tantas lutas, ele se viu deslocado da política brasileira. Ainda assim, escreve “Tenho o consolo de haver dado a meu país tudo o que me estava ao alcance: a desambição, a pureza, a sinceridade, os excessos de atividade incansável, com que, desde os bancos acadêmicos, o servi, e o tenho servido até hoje”.  

Homenagens 

O trabalho em torno do centenário teve seu início em julho deste ano. Desde então, a ABI reúne instituições das áreas do direito, cultura, das letras e representantes do legislativo baiano, para preparar a programação do centenário de falecimento de Ruy Barbosa. Integram o colegiado representantes da Associação Comercial da Bahia (ACB), da Academia de Letras da Bahia (ALB), da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), Câmara Municipal de Salvador (CMS), Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Ordem dos Advogados da Bahia (OAB), Santa Casa de Misericórdia da Bahia (SCMB), Tribunal de Contas do Estado (TCE), Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJBA), Secretária de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de  Salvador (Secult). 

Organizadas em comissões, as entidades atuam na organização das atividades para a data e na captação de recursos nos setores público e privado. O jornalista Ernesto Marques, presidente da ABI, destaca o resultado do esforço coletivo. “Quando falamos em comemorar o centenário da morte de Ruy, falamos em ‘co-memorar’, ou seja em memorar juntos. É o propósito que faz liga neste colegiado de 13 instituições de alta importância para a Bahia, reunido para, em reverência e a partir do pensamento de Ruy Barbosa sobre o Brasil, refletirmos sobre o que nos legou a vida de um dos maiores brasileiros de todos os tempos”. 

A ABI, através do Museu Casa de Ruy Barbosa, inaugurado em 1949, promoveu ao longo dos anos a edição de diversas publicações sobre Ruy, além de eventos como conferências, seminários e exposições de seu acervo. “Procurar entender Ruy e o Brasil de seu tempo é até fácil, considerando tudo já pesquisado e publicado sobre ele. Desafiador é atualizar o pensamento de Ruy como construtor da nossa república, sobre temas como Justiça e sistema judiciário, direitos civis, federação, democracia, liberdades, liberdade de imprensa, militares na política”, reflete Ernesto Marques. 

O professor Edvaldo Brito, representante da Câmara Municipal de Salvador e presidente da Comissão Executiva do Colegiado, saúda a iniciativa das instituições. “As homenagens à memória de Ruy Barbosa, neste centenário de sua morte, são aquelas devidas pela Bahia ao seu ilustre filho. Por isso, guardo a expectativa de que nós, baianos, repetiremos as jubilosas manifestações de 1949, quando reverenciamos a data do seu nascimento”, afirma o acadêmico, recordando os festejos que movimentaram a cidade em razão do centenário de nascimento de Ruy. 

Como parte da programação do centenário, a ABI aprovou em Assembleia Geral a criação da Medalha Rubem Nogueira, honraria que será concedida a personalidades indicadas pelo Colegiado e que tenham tido importância para a história do Museu Casa de Ruy Barbosa. O professor e advogado escolhido para nomear a distinção foi um dos grandes “ruianos”, tendo se dedicado a escrever e pesquisar sobre Ruy Barbosa. Rubem Nogueira também foi jurista, advogado, consultor do Ministério da Justiça em plena ditadura - tendo atuado pela Lei da Anistia.

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