O novo surto de covid na Europa lança luz sobre a importância da vacinação, único meio de acabar com a pandemia. Editorial do Estadão:
A
Europa voltou a preocupar as autoridades sanitárias por causa do
aumento expressivo do número de casos de covid-19 no continente. Beira o
inacreditável a esta altura, mas se trata de uma alarmante realidade.
De acordo com Hans Kluge, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS)
para a Europa, departamento que também abrange países da Ásia Central,
houve um aumento de 55% no número de casos diários de covid-19 na região
em outubro. “Estamos, mais uma vez, no epicentro de uma onda de
covid-19”, disse Kluge. Segundo ele, sobre a região paira “uma ameaça
real de ressurgimento da doença.”
Não
custa lembrar que, essencialmente, uma pandemia só será extinta, ou ao
menos estará controlada, quando todos os países afetados tenham adotado
as medidas voltadas para esse fim dentro de seus limites. Vírus, por
óbvio, desconhecem fronteiras, sobretudo em um mundo hiperinterligado
como hoje.
Há
duas causas para o retrocesso europeu. A primeira é a desigualdade da
cobertura vacinal, não obstante a facilidade de acesso a vacinas na
região. Tanto entre países como entre cidadãos de um mesmo país, ainda é
muito significativa a diferença entre vacinados e não vacinados. Por
razões que vão desde crenças pessoais à manipulação política da
informação, ainda há muitas pessoas que duvidam da segurança e da
eficácia das vacinas contra a covid-19, a despeito de robusta produção
científica e da observação empírica atestando o exato oposto. Além
disso, epidemiologistas avaliam que o relaxamento de medidas de
segurança sanitária autorizado por governos de diferentes países
europeus pode ter sido prematuro ou desordenado.
A
Alemanha, um dos países que têm registrado aumento recorde no número de
casos de covid-19, é um caso que desafia a compreensão. A despeito de
ser o país mais rico da Europa e ter um dos povos mais bem educados do
mundo, a cobertura vacinal naquele país está muito abaixo de seu
potencial. A resposta para o enigma? “Estamos vivendo uma pandemia de
não vacinados e a quarta onda avança com força total (entre nós)”, disse
recentemente o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn. Apenas 66,5% dos
alemães estão totalmente imunizados contra a covid-19, porcentual muito
abaixo do de outros países europeus, como Portugal (90%) e Espanha
(80%).
A
situação não é muito diferente na Itália, país que foi devastado no
início da pandemia. Na cidade portuária de Trieste, onde houve
aguerridos protestos contra o “passaporte da vacina” determinado pelo
primeiro-ministro Mario Draghi, o número de casos de covid-19 tem
crescido perigosamente. “É o momento de dizer com clareza: chega de
idiotice”, disse o governador de Friuli-Venezia Giulia, Massimiliano
Fedriga, sobre os cidadãos que se recusam a receber o imunizante.
Na
era da desinformação, o óbvio precisa ser dito: vacinas salvam vidas. A
única saída para debelar a pandemia é a vacinação maciça da população.
Nos Estados Unidos, onde também se observa grande número de não
vacinados por vontade própria, o presidente Joe Biden determinou há
poucos dias que as empresas com mais de 100 funcionários deverão exigir o
certificado de vacinação de seus colaboradores ou submetê-los a testes
semanais para detecção do coronavírus.
Em
São Paulo, onde 94% da população adulta já está totalmente imunizada,
os números de casos, internações e mortes decorrentes de covid-19
despencaram. Entre os dias 3 e 4 deste mês, a capital paulista registrou
apenas uma morte por covid-19. “É um fato fantástico, que mostra o
controle da pandemia (na cidade) e a eficácia das vacinas”, disse ao
Estado o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.
Brasil
afora, o quadro positivo não é muito diferente. A cultura vacinal da
população prevaleceu sobre o negacionismo e a desídia do governo de Jair
Bolsonaro. Basta dizer que até hoje a coordenação do Programa Nacional
de Imunizações (PNI) segue acéfala, mas tão valoroso é seu quadro
funcional, e tão forte é o desejo da maioria dos brasileiros de receber a
vacina, que a vacinação avança no País – e a sociedade volta a
experimentar uma certa normalidade após muitos meses de luto e
apreensão.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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