Minha querida Floripa dando exemplo, graças à atuação competente das
autoridades do município, entre as quais o médico e professor Carlos
Alberto Justo da Silva, secretário de Saúde da capital. Reportagem de
Rosana Felix para a Gazeta do Povo:
Em meio a milhares de mortes Brasil afora causadas pela Covid-19,
Florianópolis tem se destacado como exemplo positivo no controle de
casos. Favorecida geograficamente, com acesso principal por uma ponte
que a liga ao continente, a capital catarinense foi uma das primeiras a
criar restrições para conter o avanço do coronavírus. Junto com
investimentos, tanto em ações básicas como outras inovadoras, as medidas
deram resultado: por mais de três semanas, desde 4 de maio, o número de
mortes permanece estável em um total de 7.
Florianópolis, que tem população estimada de 500 mil pessoas, segundo
o IBGE, tem até a tarde desta quinta-feira (28) um acumulado de 691
casos confirmados, dos quais 12 internados, 92 com o vírus ativo e sob
acompanhamento, 7 mortos e 592 recuperados. Havia ainda outros 1.540
casos em análise. Esse número elevado revela uma estratégia que o Brasil
não conseguiu executar: testagem em massa.
“Desde o começo adotamos testes em massa. Enquanto na maioria dos
locais só se testavam pessoas em situação grave, sempre testamos os
contaminados, suspeitos e contatos. Isso nos permitiu ter todos os casos
diagnosticados e determinar o isolamento”, afirmou o secretário
municipal de Saúde de Florianópolis, Carlos Alberto Justo da Silva.
Segundo ele, inicialmente eram feitos testes moleculares (PCR-RT)
pelo Laboratório Central (Lacen) de Santa Catarina. Em abril, foram
adquiridos 30 mil testes. “Seguimos o modelo da Coreia. Fizemos teste
PCR para todo suspeito caso estivesse entre um a sete dias do início dos
sintomas; se os sintomas tivessem aparecido antes, fazíamos o teste
rápido, e com todos os contatos que o caso suspeito teve”, acrescentou.
Com essa estratégia, Florianópolis tem até 28 de maio um total de
5.463 casos notificados, dos quais 3.232 mil descartados. Foram feitos
testes no aeroporto e rodoviária. Nos supermercados, foi exigida a
aferição de temperatura dos clientes a partir de 27 de abril.
Isolamento para conter a Covid-19
Outro fator do sucesso foi o isolamento precoce, diz Justo da Silva.
Os primeiros casos confirmados em Florianópolis foram divulgados em 12
de março. No dia seguinte, a prefeitura já baixou determinações contra
aglomerações, proibindo o uso de ar condicionado em escolas e no
transporte coletivo, e determinando disponibilização de álcool em gel em
estabelecimentos, ventilação adequada e distanciamento de 1,5 m entre
as mesas de restaurante. A suspensão das aulas ocorreu em 19 de março,
mas com faltas abonadas desde o dia 17. No dia 18, o governo de Santa
Catarina determinou o fechamento de todo o comércio do estado.
Com essas medidas, o índice de isolamento em Florianópolis, medido
pela empresa de tecnologia In Loco a partir de dados de celulares,
chegou a 55% em 19 de março, bem acima do que outras capitais
registraram na mesma data: em Curitiba, esse índice foi de 38%; em Porto
Alegre, 42%; em São Paulo, 39%; e no Rio de Janeiro, 44%.
Organização da rede de saúde
Com a circulação reduzida de pessoas, o município conseguiu organizar
sua rede de atendimento básico e especializado, conta Justo da Silva.
Tal como muitas cidades, o município lançou um serviço de
teleatendimento, o Alô Saúde, para prestar orientações de forma remota e
reduzir o fluxo em unidades de saúde. “É um atendimento pré-clínico
funcionando 24 horas por dia com enfermeiros e médicos orientando
pessoas e encaminhando para testes”, explica.
Ao mesmo tempo, o secretário conta que a cidade aprimorou os contatos
feitos via equipes de Saúde da Família: “A cada 3 mil habitantes há uma
equipe responsável, e a população tem um número de telefone para falar
com essa equipe, ou pode ainda buscar o Alô Saúde”. Há um esforço para
monitoramento constante de portadores de doenças crônicas, gestantes e
idosos. “Pelo temor de sair de casa, muitos deles deixam de se cuidar,
mas é preciso continuar a realizar exames ou outros procedimentos,
verificar se estão indo buscar os remédios já prescritos. Estamos
cuidando para não haver uma nova onda de contaminação, e para que
mantenham a saúde. Caso contrário poderão ter complicações e ocupar
leitos que são importantes no combate à Covid”, relatou o secretário.
Os efeitos do contingenciamento são bem visíveis agora, quando se
completam três meses desde a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no
Brasil. Conforme levantamento infográfico da Gazeta do Povo, em 27 de
maio Florianópolis tinha taxa de 14 mortes por milhão de habitantes;
Curitiba, 19 por milhão; Porto Alegre, 22 por milhão; São Paulo, 290 por
milhão. O Rio de Janeiro tem proporção de 421 mortes por milhão de
habitantes.
População carente atendida e alertas geolocalizados
Um dos obstáculos para frear a contaminação pelo novo coronavírus é a
realidade socioeconômica dos brasileiros. Para evitar proliferação
entre famílias e comunidades que não têm cômodos suficientes para
isolamento, a prefeitura de Florianópolis está pagando estadia em hotel
para aqueles que testarem positivo para a doença.
“Por enquanto é só uma sugestão, um convite para a pessoa poder fazer
o isolamento da melhor forma possível, que vale para todo a população
carente, como morador de rua. Estamos fazendo todo o possível para
impedir a circulação viral pela cidade”, relatou o secretário, que é
médico, com experiência na gestão do Hospital Universitário da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde também foi
vice-reitor.
A cidade também trabalha a comunicação de casos à populção.
Noticiando a geolocalização dos casos confirmados de Covid-19 por
bairros desde o início da pandemia, a prefeitura de Florianópolis adotou
um sistema de alerta: um SMS é enviado a cada morador para avisar sobre
a existência de infectados em um raio de 200 metros nas proximidades.
“Com isso a pessoa pode redobrar a atenção com medidas de higiene, uso
de máscaras e conveniência de sair de casa. Para cada situação
confirmada, é emitido um alerta”, destacou.
Comércio ativo e Covid-19 controlada
Com casos sob controle, Florianópolis autorizou a reabertura do
comércio de rua em 20 de abril. O governo de Santa Catarina permitiu o
retorno de shoppings, academias, restaurantes e atividades religiosas em
22 de abril. Desde o começo, o uso de máscaras já era obrigatório
dentro dos estabelecimentos.
O índice de isolamento da cidade nos dias úteis caiu de 55% no início
das medidas restritivas para em torno de 42% nos últimos dias. Mesmo
assim, não houve incremento no número de casos. “Todo esse conjunto de
fatores do qual falei nos deixou tranquilos para a reabertura do
comércio, que segue portarias rigorosas de controle no número de
clientes e higienização. Com o distanciamento social, não fomos
surpreendidos com aumento de casos”, relatou Justo da Silva.
Próximos passos
Justo da Silva, que é nascido em Curitiba, observa que a capital
paranaense já superou uma fase ainda não vivenciada em Florianópolis,
que é a volta da circulação do transporte coletivo. Até o fechamento
desta edição, a prefeitura local não tinha decidido como faria. Mas,
mesmo sem ônibus, a população local está saindo de casa: o índice de
isolamento social nos dias úteis ficou em torno de 44% a 47% no fim de
abril ficado em torno de 42% nos dias úteis, segundo dados da In Loco.
De todo modo, por meio de uma ferramenta batizada Covidômetro, o
município pretende mapear potenciais fatores de risco que levem a um
aumento de casos. “Estamos dando transparência ao que dá para abrir e o
que precisa fechar Há quatro variáveis importantes. Epidemia vai
continuar. A sociedade tem que entender. Se cair muito a taxa de
isolamento, pode voltar a fechar. Deixa de haver uma pressão unilateral e
passa a ser uma decisão muito transparente”, definiu o médico. Para
ele, a epidemia vai durar um longo período, e é preciso colaboração da
sociedade para entender as medidas restritivas, quando necessário.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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