Carlos Guimarães Pinto publica artigo no blog português O Insurgente
que traz boas reflexões também para os brasileiros. Já que estamos
longe de uma tradição liberal, também aqui viceja a social-democracia,
sempre ambígua em relação ao Estado:
"Social-Democracia:
ideologia política que advoga a transição gradual e pacífica de uma
sociedade capitalista para o socialismo, utilizando os processos
políticos estabelecidos.(...) A social-democracia partilha as raízes
ideológicas do comunismo, mas rejeita a militância e totalitarismo".
Fonte: Enciclopédia Britânica
Não
há como rejeitar: esta é a definição de social-democracia e encaixa
perfeitamente nos partidos de esquerda portugueses, com excepção do
Partido Comunista. Tanto Bloco de Esquerda como o Partido Socialista
defendem uma transição para uma sociedade socialista através de
processos políticos estabelecidos em vez da via revolucionária. A
maioria dos deputados de ambos os partidos admitirão sem grandes
problemas serem sociais-democratas.
Em
1974, fazia sentido a alguém reformista e liberal como Sá Carneiro ser
social-democrata por três motivos. Primeiro porque o país estava
suficientemente longe do socialismo para poder ser positivo dar uns
passos naquele sentido (desde que não se chegasse ao destino). O Estado
tinha pouco peso na economia, na educação ou na saúde, pelo que aumentar
esse peso não era algo necessariamente prejudicial. Em segundo lugar
porque a alternativa mais imediata era caminhar para o socialismo por
via revolucionária (o comunismo). A única alternativa politicamente
viável ao socialismo revolucionário, era a social-democracia.
Finalmente, porque, pragmaticamente, todos nós sabemos o que acontecia
nessa altura a quem não defendesse o socialismo como seu objectivo
final. Não sendo possível fazer política com uma bala alojada no crânio,
qualquer liberal e reformista, teria que adoptar a social-democracia
com alternativa política (e mesmo assim Sá Carneiro acabou a sua
carreira da forma que todos sabemos).
Entretanto
passaram mais de 40 anos. O estado, que pesava menos de 20% na economia
hoje tem um peso acima de 50%. A economia está regulada até ao tutano,
ao ponto de existir um serviço de transportes de maior qualidade a
preços mais baixos (o objectivo normal da regulação) que é proibido. Os
partidos de centro-esquerda europeus (muitos dos quais designados de
social-democratas) já desistiram da via do socialismo, escolhendo uma
terceira via entre o socialismo e o capitalismo.
Neste
contexto, faz sentido a um partido que pretende ser alternativa
reformista de direita se continuar a declarar social-democrata? Alguém
acredita que se surgisse um Sá Carneiro hoje, com o mesmo espírito
liberal e reformista de 74 seria social-democrata em toda a sua
plenitude? Depois da falência do país, do sofrimento subsequente, do
peso do estado na economia, alguém acredita que o que precisamos é
caminhar para o socialismo e não fugir dele a 7 pés? Alguém acredita
verdadeiramente que Sá Carneiro defenderia hoje que continuassemos a
caminhar para o socialismo?
Uma
alternativa ao socialismo não se pode chamar social-democrata. Ou se
quisermos que se chame por motivos afectivos e emocionais, então é
preciso dar-lhe outro significado qualquer, para que ninguém venha ao
engano. Para que ninguém julgue que faz parte da alternativa, quando na
realidade é adepto do problema.
Sá
Carneiro seria hoje liberal. Seria hoje aquilo que muitos à esquerda
gostam de chamar "direita radical". Aliás, era isso que diziam que ele
era em 1974.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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