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Gregorio Vivanco
Lopes
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A
todo momento lê-se na imprensa, vê-se na televisão, ouve-se no rádio que é
preciso tomar medidas contra a desigualdade, que esta aumenta, que o governo não
consegue controlá-la etc. etc.
Mas nunca se faz a distinção –
absolutamente indispensável – entre a desigualdade exagerada e abusiva, portanto
condenável, e a desigualdade boa e legítima, que está de acordo com a ordem
natural das coisas. De modo que a impressão subliminar que o noticiário
transmite é de que toda desigualdade, seja qual for, é sempre um mal e deve ser
erradicada.
Segundo essa concepção, o ideal
— não explicitado, mas latente — seria alcançado numa sociedade onde houvesse a
igualdade absoluta, de todos os modos e em todas as formas. É a utopia
revolucionária em sua formulação crua e nua.
Tal teoria acaba arrombando as
portas das mentes das pessoas, que não se dão ao trabalho de refletir e analisar
aquilo que vem subentendido no noticiário, instalando-se assim no universo de
conhecimentos de cada indivíduo como uma espécie de verdade evidente, que não é
preciso demonstrar.
* * *
Ora, nada de mais falso. As
desigualdades exageradas e abusivas são más, não por serem desigualdades, mas
por serem exageradas e abusivas. As desigualdades justas e harmônicas são um
bem. Não seria difícil provar essa tese, mas seria longo e não caberia nesta
seção. Baste-nos lembrar o ensinamento de Plinio Corrêa de
Oliveira:
“Em um universo no qual Deus
criou desiguais todos os seres, inclusive e principalmente os homens, a
injustiça é a imposição de uma ordem de coisas contrária a que Deus, por
altíssimas razões, fez desigual. Assim, a justiça está na desigualdade. [...]
Com efeito, Deus criou as desigualdades, não aterradoras e monstruosas, mas
proporcionadas à natureza, ao bem-estar e ao progresso de cada ser, e adequadas
à ordenação geral do universo. E tal é a desigualdade cristã” (A
justiça está na desigualdade cristã, “Jornal da Tarde”,
9-6-1979).
Para o espírito malfazejo da
Revolução, toda desigualdade deve gerar um ódio e uma luta de quem é menos
contra quem é mais. Pelo contrário, onde entrou o espírito autenticamente
cristão, a desigualdade gera respectivamente o serviço e a proteção, ligados
pelo laço do amor a Deus.
Foi o que se deu, por exemplo,
com as santas Perpétua e Felicidade (século III). Perpétua era uma nobre romana
muito rica, que se converteu ao cristianismo. Felicidade era sua escrava, que
igualmente se converteu. Por isso foram conduzidas à prisão e condenadas à
morte. Amarradas com arame e colocadas na arena diante de uma vaca brava, esta a
princípio as atacou, mas depois desistiu.
O
povo sanguinário que a tudo assistia pediu então que lhes cortassem as cabeças.
A senhora e a escrava abraçaram-se emocionadas. Felicidade teve sua cabeça
cortada por um golpe de machado. O verdugo, muito nervoso, errou o golpe em
Perpétua. Ela deu um grito de dor, mas em seguida posicionou melhor a cabeça e
indicou ao verdugo onde deveria atingi-la.
De
tal modo elas foram unidas na fé, que a senhora e a escrava morreram juntas,
sendo por isso seu martírio celebrado pela Igreja no mesmo dia 7 de
março.
Sem querer de nenhum modo
justificar aqui a escravidão romana, que tinha aspectos altamente censuráveis, a
lição que nos dão Perpétua e Felicidade é de como a fé cristã e o amor de Deus
unem de modo perfeitíssimo pessoas colocadas nos extremos opostos da escala
social. Perpétua não desprezou Felicidade, nem esta se revoltou contra a sua
senhora. Permanecendo cada uma na sua condição social, o amor de Cristo as uniu
na Terra e na Eternidade.
Como é
injusta e antinatural a pregação de uma
igualdade a
qualquer preço!
(*) Gregorio Vivanco
Lopes é advogado e colaborador da ABIM
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domingo, 29 de maio de 2016
O exemplo de Perpétua e Felicidade
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