Lucas Prates/Hoje em Dia
Obeso
Dono de restaurante, Peluso chegou a ser apelidado de “Zé Leitão”, mas diz não se incomodar


Os excessos sempre foram um problema para o aposentado Marcelo José de Souza. Exageros na alimentação, no fumo e na solidão, mas que não o impedem de fazer planos aos 41 anos, com 223 quilos. “Desejo emagrecer, encontrar uma pessoa e seguir minha vida”, diz.
 
“Marcelão” é um dos milhares de brasileiros que sofrem com o peso. Segundo o Ministério da Saúde, metade da população tem “quilos a mais” ou é obesa. Em Minas, a Coordenadoria Estadual da Rede de Hipertensão e Diabetes estima que 63,5% das pessoas com mais de 20 anos estejam na mesma situação.
 
REJEIÇÃO
 
Além de impactar a saúde, o peso excessivo afeta a autoestima, devido à discriminação, ao assédio moral e ao bullying.
 
Não há estudos quantitativos sobre o preconceito no Brasil. Mas a médica e psicanalista Soraya Hissa, que trabalhou por 20 anos com pacientes obesos, estima que 70% dessa população tenha problemas emocionais como tristeza, ansiedade, depressão e fobias sociais.
 
“As pessoas não gostam do que sai do padrão de magreza e beleza imposto pela sociedade. Aos obesos restam duas opções: mudar ou sem manter dessa forma”, afirma Soraya.
 
MUDANÇA
 
A discriminação e a busca pela saúde levaram o músico Jackson Melo a recorrer à cirurgia bariátrica há dez anos. 
 
Alimentação inadequada e falta de exercícios físicos desde a infância o fizeram chegar aos 134 quilos. Hoje com 82, ele tem outra rotina. “Minha família toda era gorda. Sentia cansaço e era muito tímido. Sempre havia zoações na escola”, conta.
 
Dono de restaurante italiano, Teodoro Peluso Filho, de 58 anos, sempre gostou de comida. Atualmente com 138 quilos, lembra um dos apelidos que recebeu, “Zé Leitão”, e diz não se importar. “Não ligo. Rejeito a cirurgia, mas tento me cuidar”.
 
Já Marcelo, que divide os dias entre a casa e as internações no Hospital São Camilo, em Conselheiro Lafaiete, região central do Estado, sequer tem a opção de passar pela cirurgia bariátrica, diz o médico Marcus Vinicius Nascimento.
 
O quadro depressivo, a falta de acompanhamento por parentes e a dificuldade de locomoção fragilizaram ainda mais o paciente, que hoje sofre com hipertensão, diabetes e insuficiência cardíaca, pulmonar e renal. 
 
“Ele precisa de cuidados da família e de uma equipe multidisciplinar, o que não há na rede pública de Lafaiete. Marcelo não toma os remédios e fuma, bebe e come compulsivamente. Mesmo se emagrecesse, o coração dele não resistiria”, diz o clínico geral.