Denúncias evidenciam que empresas faziam
acertos em licitações por todo o país; órgão vazou informações apenas
das investigações que atingiam adversários do PT
Matéria do portal
Veja.com:
O Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, abriu
processo administrativo para apurar suspeitas de cartel em quatro
Estados - São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul - e
no Distrito Federal. A decisão foi publicada na edição desta
quinta-feira do Diário Oficial da União, em portaria assinada
pelo superintendente-geral do Cade, Carlos Emmanuel Joppert Ragazzo. O
processo abrange licitações feitas entre 1998 e 2013, totalizando 18
empresas e 109 funcionários.
As provas colhidas durante operação de busca e apreensão realizada pelo Cade em julho passado demonstram que o
suposto cartel teria atuado em quinze projetos licitados pela Companhia
do Metropolitano de São Paulo (Metrô-SP), Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM), Companhia do Metropolitano do Distrito Federal
(Metrô-DF), Empresa de Trens Urbanos (Trensurb), Companhia Brasileira de
Trens Urbanos (CBTU) e Secretaria de Estado de Transportes do Rio de
Janeiro.
As empresas acusadas teriam adotado
diversas estratégias anticompetitivas, como a definição prévia de quais
fariam parte de determinado consórcio e quais participariam da licitação
apenas para apresentar propostas de cobertura, ou ainda a definição de
que um único consórcio concorreria no certame, mediante compensação às
empresas que ficassem de fora. ”Os beneficiários confessaram a
ocorrência de contatos entre concorrentes com o objetivo de eliminar a
competição em licitações públicas relativas a projetos de metrô e/ou
trens e sistemas auxiliares, desde, pelo menos, 1998″, segundo documento
do Cade.
Esses projetos totalizam contratos de
cerca de 9,4 bilhões de reais. O processo é fruto do acordo de leniência
firmado pela multinacional alemã Siemens com o órgão federal em maio de
2013. Além das empresas, responderão a processo 109 executivos e
ex-executivos das multinacionais. ”Os participantes do cartel teriam
dividido as licitações entre eles e simulado a competição nos certames,
por meio, por exemplo, da combinação prévia dos valores das propostas
comerciais a serem apresentadas pelas empresas e consórcios
concorrentes”, informou o Cade.
A investigação, contudo, deverá
ser mais ampla do que nos seis contratos denunciados pela multinacional
alemã, cinco no Estado de São Paulo e um no Distrito Federal, e abarcar
também contratos de metrô assinados por órgãos do governo federal. Além
dos metrôs de Porto Alegre e Belo Horizonte, há indícios de cartel em
outros locais. Além de empresas citadas pela Siemens, entraram
também no processo a Procint e a Constech, empresas de Arthur Teixeira e
Sérgio Teixeira – este já falecido. Eles são apontados em investigações
em curso no Brasil como lobistas que faziam a ponte entre as
multinacionais e empresas estatais de trens, e são suspeitos de pagarem
propina a agentes públicos.
O Cade investiga exclusivamente a
conduta anticompetitiva das 18 empresas, e pode sancioná-las pela
prática de cartel. O conselho deu prazo de 30 dias para que as
empresas apresentem defesa e informou que, caso tenham interesse em
produzir prova testemunhal, cada um dos representados poderá indicar
três testemunhas.
Entre as empresas que passam a responder
a processo no Cade estão Alstom Brasil Energia e Transporte Ltda.;
Balfour Beatty Rail Power Systems Brazil; Bombardier Transportation
Brasil Ltda.; CAF Brasil Indústria e Comércio; Caterpillar Brasil Ltda.;
e ConsTech Assessoria e Consultoria Internacional Ltda.. Em 2013 o Cade
condenou treze casos de formação de cartel em diversos locais do
Brasil, aplicando 483 milhões de reais em multas, e instaurou
aproximadamente dez novas investigações sobre supostos conluios.
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