MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 26 de maio de 2013

Trabalhadores ganham dinheiro recuperando áreas degradadas


Grupo de trabalho cria parcerias com algumas empresas privadas.
Em experimento na Bahia, o modelo usa três grupos de espécies diferentes.

Do Globo Rural

Para refazer, é preciso primeiro resgatar e, muitas vezes, o resgate está no alto: a 40 metros de altura.
Parece aventura, mas é trabalho pesado. Uma câmera foi instalada no capacete do David de Souza, conhecido como Marola, para acompanhar a subida dele na sapucaia. Ele busca sementes em propriedades particulares, com autorização dos donos e depois vende para viveiristas. Esse esforço todo é para garantir qualidade.
Embaixo da árvore fica cheio de fruto de sapucaia, eles caem no chão mas estão vazios, não tem nenhuma semente dentro. “Aqui nós temos uma concorrência muito grande, papagaios, morcegos e também as pacas que moram aqui na região. Quando ele abre lá em cima, o papagaio já come lá em cima mesmo. Aqueles que não conseguem comer, ele rói, então essa semente não tem mais como levar para o viveiro para germinar. À partir do momento que ele fere a casca da semente entra um fungo, pega uma bactéria e a semente apodrece", completa Marola.
A casa do Marola, que também é pastor, fica em um assentamento. É ali que ele guarda as sementes que coleta. Ele pega na mata de acordo com as encomendas."Minha família toda é sustentada com vendagem de semente", afirma ele.
O Marola é o primeiro elo desta cadeia de replantio, que tem ainda o Dilsinho e o Anilson, que plantam mudas, o Pedro e o Ricardo, que fazem projetos de restauração, o André, que é dono de um viveiro, o seu Domingos, que comercializa sementes, o Bruno, banqueiro que planta florestas para negociar no mercado financeiro e o Júnior, que tem palmeira ornamental em área de reserva legal. Todos movimentando dinheiro com o reflorestamento.
Voltando ao Marola, ele faz parte de uma cooperativa de Caraíva, distrito de Porto Seguro, a Cooplantar, Cooperativa de Reflorestadores de Mata Atlântica do extremo sul da Bahia. Caraíva é uma vila de pescadores conhecida pelo turismo e a comunidade é muito ligada  à preservação do lugar.

No verão, não falta trabalho para o pessoal de Caraíva. Entre dezembro e fevereiro, tem movimento de turista de dia, à noite e os moradores conseguem ganhar dinheiro nas pousadas, nos bares, nos restaurantes ou nos barcos, fazendo a travessia do rio Caraíva.
Na sede da Cooplantar, que foi fundada em 2007, a reunião hoje é pra organizar o grupo que vai a campo fazer a manutenção de uma área que eles restauraram.
“Nesse período todo da cooperativa, a gente já recuperou 604 hectares e demos manutenções também nessas áreas, incluindo também empresas de celulose e propietários rurais. Porque a empresas de celulose, é a maior proprietária de área aqui dentro dessa região da bacia do rio Caraíva. Então a gente precisa deles também como parceiros pra gente recuperar essas áreas dentro da empresa”, explica o agricultor José Dilson da Silva, o Dilsinho, segundo da rede.
A cooperativa tem 40 associados e participou do projeto de reposição florestal do gasoduto cacimbas-catu, da Petrobrás. Através de uma parceria com o Instituto Bioatlântica, foram plantadas ali 130 espécies nativas. Trabalho que trouxe de volta pra casa o Anilson Dias, o terceiro da nossa rede, que havia se mudado para Brasília atrás de emprego. Ele trabalha ali há dois anos e oito meses.
Para desenvolver o projeto, o pessoal da cooperativa  foi treinado  por uma equipe de pesquisadores da Esalq de Piracicaba, em São Paulo.
Este grupo  de trabalho cria parcerias com algumas empresas privadas, para testar modelos de recuperação ambiental, visando também o aproveitamento econômico.
Em um experimento em Mucuri, na Bahia, o modelo usa três grupos de espécies diferentes, de ciclos de crescimento distintos e funções diversas.
O primeiro grupo cresce mais rápido e serve para sombrear a área. Nesse caso foi usada a aroeira pimenteira ou pimenta-rosa. O segundo grupo é o das chamadas  espécies iniciais, que fornecem madeira, mas não demoram tanto tempo assim para crescer e nem têm valor de mercado muito alto. Nesse caso, o guapuruvu.
E, no terceiro grupo, as madeiras nobres, essas sim com aproveitamento financeiro maior, mas de crescimento lento, como o jatobá.
O agrônomo Pedro Brancalion , o quarto da nossa rede, explica a vantagem para o produtor:
Ele começa aos dois anos tirando frutos da pimenteira "Continua colhendo frutos da pimenteira. depois de cinco anos, ele já pode colher o guapuruvu. Madeira innicial. E depois de 15 a 20 anos ele já inicia a exploração de madeira nobre. E depois inicia-se um ciclo contínuo de exploração de  madeira nobre de espécies, com diferentes ritmos de crescimento. Então é um sistema que permite um ingresso econômico para o produtor constante, diferente dos modelos iniciais que plantavam apenas as espécies de cresdicmento lento, que demoravam pra sombrear o solo, que geram custos elevados de manutenção", explica ele

Acompanhamos o chefe da equipe de pesquisadores da Esalq, o biólogo Ricardo Ribeiro Rodrigues  - o quinto da nossa rede - em outro experimento, agora na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. Ali o modelo mistura nativas com eucalipto, por causa de uma grande empresa de produção de papel e celulose  da região. Muitos pequenos produtores optam por essa cultura, por causa da fábrica.
O professor Ricardo explica que esses estudos pretendem mostrar a viabilidade desses modelos em as áreas de reserva legal com aproveitamento econômico, principalmente nas áreas que ele classifica como de baixa aptidão agrícola. "A proposta desses experimentos é isso. Não é usar área agrícola de alta aptidão, não é substituir pasto produtivo, não é substituir eucalipto produtivo, não é nada disso. É ocupar essas pastagens que estão alocadas em áreas de baixa aptidão agrícola, que são essas encostas, morros, esses fundos de grotas, e que poderiam estar sendo ocupadas por um processo de plantio de nativas  para exploração exonômica, num ciclo de exploração econômico que vai causar um rendimento econômico pelo menos três a quatro vezes maior do que com o rendimento hoje com essa pecuária de baixa produtividade".

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