João Alfredo Lopes Nyegray*
No domingo, 26 de fevereiro, o comando da Marinha brasileira autorizou que dois navios de guerra do Irã atracassem no porto do Rio de Janeiro. Trata-se das embarcações Iris Makran, um porta-helicópteros com capacidade para transportar cerca de 80 mil toneladas de petróleo e 20 mil toneladas de água; e do Iris Dena, uma fragata de 95 metros de comprimento e capacidade de transportar torpedos, mísseis, armas variadas e até 140 pessoas.
A chegada dos navios iranianos e a recepção em portos brasileiros já haviam sido motivos de pressão dos EUA, nosso segundo maior parceiro comercial. Quando da visita do presidente Luís Inácio Lula da Silva a Washington, no início de fevereiro, os estadunidenses haviam pedido que o governo brasileiro não recebesse as embarcações – e esse pedido foi reforçado pela embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, em 15 de fevereiro. Passada a visita a Biden, o governo Lula voltou atrás e mudou de ideia, autorizando a atracação das embarcações de Teerã.
Em situações assim, a Marinha apenas autoriza a atracação de embarcações estrangeiras após sinal positivo do Itamaraty. O Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, leva em consideração questões como logística e o pedido da embaixada solicitante.
A mudança de ideia do presidente Lula da Silva e a autorização da Marinha do Brasil geraram um mal- estar com os EUA, segundo destino mais frequente dos produtos brasileiros. O Iris Makran e o Iris Dena chegaram ao Rio de Janeiro domingo, e, na terça-feira, o senador republicano Ted Cruz, membro dos comitês de Relações Exteriores e de Comércio, Ciência e Transporte do Senado dos EUA, criticou severamente o presidente brasileiro, afirmando que os Estados Unidos devem rever suas parcerias com o Brasil. É importante lembrar que o Irã é um dos países mais sancionados pelos EUA. Além disso, a chegada dos dois navios iranianos ocorreu na mesma semana em que o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, esteve no Brasil.
Se, por um lado, o Brasil deve de fato pautar sua política externa a partir dos próprios interesses – sem aquiescer a pressões externas e sem alinhamentos automáticos, de outro, é essencial considerar o momento em que o mundo se encontra. Os iranianos estão entre os principais fornecedores de armas para os russos, e são justamente drones iranianos que atingem alvos civis na Ucrânia com grande frequência.
Mais do que qualquer pressão estadunidense, o Brasil deveria ter considerado o quase uníssono coro global contra a invasão russa. Além do Irã, estão ao lado de Putin a Nicarágua e a Síria – praticamente párias internacionais, isoladas de boa parte das discussões políticas globais.
*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray
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