Do Rio a Baku: o financiamento como discussão central para a ação climática Documento final assinado pelos líderes do G20, no Rio, repercutiu no Azerbaijão, na COP29, durante as negociações climáticas. Por lá, a discussão é como garantir o financiamento para reduzir os problemas causados pelo aquecimento do planeta. Por Tais Gadea Lara
“Estamos
decididos a liderar ações ousadas, oportunas e estruturais em nossas
economias nacionais e no sistema financeiro internacional com o objetivo
de acelerar e ampliar a ação climática, em sinergia com as prioridades
de desenvolvimento sustentável e os esforços para erradicar a pobreza e a
fome”, afirma trecho do documento. A
declaração foi divulgada no final da tarde desta segunda-feira (18) e
repercutiu do outro lado do oceano, em Baku, no Azerbaijão, onde, desde
11 de novembro, ocorre a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas (COP29). “A
reunião do G20 não é o lugar que salvará o mundo. Existem espaços
multilaterais onde são tomadas decisões com força legal, como a COP”,
esclareceu Enrique Maurtua Konstantinidis, consultor sênior de política
climática na Global Gas and Oil Network, uma rede europeia de
organizações da sociedade civil que apoia os esforços para deter a
expansão do petróleo e gás. “Os comunicados do G20 importam pelo que o
grupo representa”, completou. Os países do G20
são, juntos, responsáveis por 75% das emissões globais de gases de
efeito estufa. “Todos os países devem fazer sua parte. Mas o G20 deve
tomar a iniciativa”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António
Guterres, no início da COP29, argumentando: “são os maiores emissores,
com maiores capacidades e responsabilidades. Devem unir seus
conhecimentos tecnológicos, e os países desenvolvidos devem apoiar as
economias emergentes”. Na
declaração, os líderes do G20 se comprometem a acelerar a reforma da
arquitetura financeira internacional para ajudar os países em
desenvolvimento a lidar com as mudanças climáticas e a erradicação da
pobreza. “Para o financiamento, o texto é algo positivo. Mas aqui na COP
é onde os países precisam tomar decisões”, afirmou Luca Bergamaschi,
co-diretor da ECCO, uma organização da Itália que discute soluções sobre
mudanças climáticas. Sobre
as ações relacionadas às mudanças climáticas, em Baku, os países
discutem e negociam um tema fundamental para sua implementação: a Nova
Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês). O objetivo é
definir os detalhes sobre como ocorrerá a mobilização de recursos
financeiros dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, a
partir de 2025, para que estes possam implementar suas políticas
climáticas. Quanto dinheiro será mobilizado, quem deverá fornecê-lo,
quem será beneficiado, em que formato e sob qual marco de transparência
são alguns dos elementos em disputa entre os dois grupos de países. Na
declaração, os líderes do G20 se referem brevemente ao tema: “Esperamos
que em Baku se alcance um resultado satisfatório da NCQG. Estamos
comprometidos a apoiar a Presidência da COP29 e a realizar negociações
bem-sucedidas”. O secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças Climáticas, Simon Stiell, compartilhou sua
interpretação: “os líderes do G20 enviaram uma mensagem clara aos seus
negociadores na COP29: não saiam de Baku sem uma nova meta de
financiamento bem-sucedida. Isso é claramente do interesse de todos os
países”. Da
declaração, é possível identificar indiretamente dois dos elementos
mais controversos sobre a NCQG. Por um lado: quanto dinheiro essa nova
meta deve mobilizar? Deve ter um piso de 100 bilhões de dólares anuais
ou prover ao menos 1 trilhão, 1,1 trilhão, 1,3 trilhões ou 2 trilhões?
Essas são algumas das opções em discussão na COP29. Os
países em desenvolvimento e a sociedade civil defendem um salto
quantitativo de bilhões para trilhões — 100 bilhões de dólares anuais
foi a meta anterior. O Grupo Independente de Peritos de Alto Nível sobre
Financiamento Climático (International High-Level Expert Group on Climate Finance, IHLEG, na sigla em inglês) relatou na semana passada que os países desenvolvidos precisam de cerca de 1 trilhão de dólares anuais até 2030 para lidar com as mudanças climáticas. Embora
não se refira diretamente à NCQG, mas ao financiamento climático de
forma geral, a declaração exige esse salto nos investimentos, com um
detalhe: que os recursos sejam provenientes de todas as fontes. Ou seja,
não apenas de fundos públicos, mas também de investimentos privados, de
fundos multilaterais e de países, independentemente de sua categoria. Isso
se relaciona com um outro elemento crítico na discussão: quem deve
fornecer esse dinheiro. Nas negociações, os países desenvolvidos
argumentam não ter fundos públicos suficientes para uma meta de trilhões
e pedem a inclusão de países não desenvolvidos que possam estar em
condições de ajudar outros (como a China) e de um setor privado mais
ativo. Os países em desenvolvimento se baseiam no Acordo de Paris para
afirmar que a responsabilidade deve ser dos países desenvolvidos. Na
declaração, os líderes do G20 se referem tanto a fontes públicas quanto
privadas ao enfatizar a necessidade de maior colaboração e apoio
internacional para aumentar o financiamento e o investimento em ação
climática nos países em desenvolvimento. “Os
países desenvolvidos continuam impassíveis e não conseguem quantificar
os trilhões de dólares necessários, nem garantir que esses fundos sejam
entregues na forma de subsídios, algo essencial para alcançar a justiça
climática”, disse Harjeet Singh, diretor de engajamento Global da Fossil
Fuel Non-Proliferation Treaty Initiative, organização que busca
eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. “Se
não houver avanços decisivos em financiamento na COP29, estaremos
caminhando para um cenário catastrófico de temperaturas, no qual os mais
vulneráveis sofrerão as piores consequências”, acrescentou. A COP29 deve ser concluída nesta sexta-feira (22). As diferenças entre os países indicam que a conferência pode se estender. Com a chegada dos ministros do meio ambiente, as discussões técnicas foram elevadas ao nível político, na necessidade de reduzir as diferenças e alcançar os consensos necessários. “A COP é o lugar onde a política climática é decidida, não o G20”, disse Shreeshan Venkatesh, líder de política global na Climate Action Network International, rede composta por mais de 1.900 organizações não governamentais de mais de 130 países.
Crédito: Tais Gadea Lara* *a autorização para republicação do conteúdo se dá mediante publicação na íntegra, com crédito e redirecionamento (link) para a publicação original. O InfoAmazonia não se responsabiliza por alterações no conteúdo feitas por terceiros. |
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