Brasília-DF, 24/10/2024
- Estudo promovido por pesquisadores associados ao Programa de
Doutorado em Direito da Universidade de Brasília (UnB) e ao Mestrado em
Comunicação Digital do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e
Pesquisa (IDP), mapeou os elementos utilizados por fake news para
acionar gatilhos mentais e serem compartilhadas com mais facilidade.
A
pesqusia descobriu que a desinformação tem mais chances de ser
compartilhada quando é atribuída a figuras de autoridade, como líderes
religiosos ou políticos, o que reforça o que os pesquisadores chamam de
‘viés de autoridade’. A taxa média de tendência de compartilhamento de
conteúdos reconhecidos como falsos no WhatsApp ficou em 8%. Quando a
fake news é distribuída em forma de card, as chances sobem para 10% e
disparam para 31,75% quando estão na forma de vídeo.
O
estudo mostra que conteúdos que evocam fortes emoções, como raiva, medo
ou indignação se aproveitam de gatilhos mentais e têm maior
probabilidade de serem compartilhados. Quando o conteúdo desinformativo
apela para temas morais e emocionais, seu impacto é ainda maior. “Temas
que tocam a moralidade e utilizam categorias religiosas, como ‘pecado’
ou ‘salvação’, tendem a gerar reações emocionais muito fortes, o que
amplia a capacidade de replicação dessas mensagens nas redes sociais”,
destaca o estudo.
Para acessar o conteúdo da pesquisa, clique aqui.
Realizado
em setembro de 2024 por pesquisadores o estudo desmistifica o
estereótipo de quem compartilha fake news. “Não estamos falando de
pessoas ingênuas, sem acesso à informação ou sem estudos. Pelo
contrário, o compartilhamento é uma forma de se conectar com outros
indivíduos que compartilham as mesmas crenças. As pessoas repassam as
fake news para ter algum tipo de reconhecimento social, mesmo em
microcosmos, como grupos de whatsapp”, explicou José Jance Marques
Grangeiro, um dos coordenadores da pesquisa.
Forma, gesto e cores -
A pesquisa demonstrou que os vídeos desinformativos, por sua natureza
multimodal, têm uma capacidade maior de engajar a audiência, tanto no
nível cognitivo quanto no afetivo. Esse formato combina imagens, sons e
narrativas de forma a criar um impacto mais profundo, como foi
demonstrado pelos picos de atividade nas ondas cerebrais beta e gama dos
participantes durante a exposição aos vídeos. “Os vídeos estimulam
diversas áreas do cérebro simultaneamente, o que intensifica a retenção e
o impacto emocional da mensagem”, explicou Grangeiro.
Os
elementos visuais também se destacaram como fatores cruciais na
propagação de desinformação. Cards que utilizam imagens impactantes e
cores vibrantes, especialmente o vermelho, chamaram a atenção dos
participantes e demonstraram alta capacidade de retenção da informação.
Mensagens que mostravam figuras públicas utilizando expressões enfáticas
ou gestos corporais demonstraram ser mais convincentes e geraram um
maior envolvimento emocional do público. “Esse tipo de comunicação
visual não verbal cria um vínculo de proximidade e confiança, que
aumenta a predisposição das pessoas a acreditarem no conteúdo, mesmo sem
provas”, destacou Grangeiro.
Desafios -
Além de relevar o impacto das fake news no cérebro, a pesquisa permite
entender os gatilhos mentais que tornam o conteúdo desinformativo tão
atraente e pode contribuir na construção de conteúdos legítimos.
“Compreender como essas mensagens conseguem engajar a audiência pode nos
ajudar a criar campanhas de conscientização mais eficazes, que promovam
a verificação de fatos e o consumo crítico de informações. As técnicas
utilizadas para disseminar desinformação podem ser adaptadas para a
produção de conteúdo legítimo, ampliando o alcance de mensagens
verdadeiras e promovendo um debate público mais saudável”, explicou
Grangeiro.
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