O
Brasil é um dos países onde há mais pessoas com hipertensão, conforme o
levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os dados estimam
que 45%, isto é, 50,7 milhões de pessoas no país convivem com esse
problema, enquanto a média global é de 33%. Fatores como estresse,
excesso de peso, tabagismo e alto consumo de álcool são alguns dos que
podem influenciar na pressão arterial.
Entretanto,
outro fator que pode impactar nessa alteração é o racismo. Isso porque,
o estresse ocasionado pela discriminação pode estar atrelado à doença
em pessoas negras. “O estresse crônico estimula a produção de hormônios,
como a adrenalina, noradrenalina e cortisol, que agem no coração,
aumentando a frequência cardíaca e causando contrações dos vasos
sanguíneos”, explica o Dr. Bruno Ribeiro, profissional em
Cardiogeriatria da rede de clínicas médico-odontológicas, AmorSaúde.
O
médico ainda complementa que isso pode aumentar a inflamação da região
e, com o acúmulo de gorduras nas paredes dos vasos sanguíneos, impõe um
estímulo excessivo nos movimentos de contração e relaxamento, tornando o
sistema vascular menos eficiente. Esta situação está associada a um
aumento da pressão arterial.
Racismo e hipertensão
De
acordo com o profissional, estudos recentes demonstram que pode haver
uma correlação entre racismo e hipertensão, mas com ressalvas. “Vinte e
dois estudos feitos nos Estados Unidos da América, com 59% de
participantes negros, observaram associação entre discriminação e
hipertensão arterial. Porém, os estudos não permitem apoiar,
consistentemente, a hipótese de que o racismo está associado à maior
pressão arterial. Isso pode ser atribuído, em parte, às limitações dos
estudos”, detalha.
Contudo,
Ribeiro afirma que, em razão de alguns fatores genéticos da população
negra, esta pode estar mais predisposta à hipertensão arterial. Segundo o
médico, a presença de um gene economizador de sódio, que gera um
defeito hereditário na captação celular de sódio e cálcio, assim como em
seu transporte renal, pode ser um causador da doença.
Heranças históricas
É
importante ressaltar que essas questões de saúde podem ter heranças
históricas da escravidão. Um dos estudos destacado pelo profissional do
AmorSaúde aponta que, durante essa época, houve a introdução de uma
série de fatores de risco (estresse em excesso, por exemplo) de forma
abrupta, em uma população que, ainda que tivesse uma predisposição
genética, vivia em equilíbrio em sua terra originária.
Nesse
sentido, as microagressões raciais também podem contribuir para o
aparecimento de doenças crônicas. “Tanto a discriminação quanto o
racismo, podem afetar a saúde mental e física, direta ou indiretamente,
através da elevação dos níveis de estresse crônico, submetendo os
indivíduos ao risco aumentado de adotar comportamentos deletérios à
saúde, fatores de risco para a hipertensão arterial”, afirma o médico do
AmorSaúde.
Segundo
Ribeiro, é preciso diferenciar que esse estresse causado por situações
de racismo é diferente do estresse gerado por outras fontes. Estresse
agudo, pós-traumático, burnout
racial e estresse tóxico são alguns exemplos advindos da discriminação.
“O cérebro entra em estado de alerta constante, o que gera ansiedade,
depressão, prejudica a autoestima, promove o isolamento social, gera
transtornos alimentares, pesadelos e insônia, pode aumentar o uso de
substâncias psicoativas, a agressividade e gerar desesperança”, pontua.
Sinais
Para
essas pessoas, é essencial estar atento aos sinais da doença,
principalmente sob o contexto de estresse excessivo. Ribeiro salienta
que taquicardia, dor no peito, alterações na qualidade do sono e no
apetite, alterações do humor (depressão), fadiga inexplicável e até
arritmias cardíacas (palpitações) são alguns exemplos.
Tratamentos
A
resposta aos sinais e sintomas da hipertensão deve ser o tratamento
médico. Todavia, há outras possibilidades adicionais e complementares
que podem auxiliar no controle da doença, mais especificamente, na
redução do estresse. “A prática de exercícios físicos regulares, higiene
do sono, cessação do tabagismo e do uso abusivo de álcool, se submeter a
atividades prazerosas fora do trabalho, que estimulem o bem-estar
(esporte, atividades lúdicas, hobby, o convívio com amigos e
familiares”, elenca o profissional do AmorSaúde. Outros cuidados podem
ser a prática de meditações, cuidado com a saúde intestinal e com a
alimentação.
É
necessário ressaltar que as situações de racismo se configuram como
crime no Brasil. Nesse sentido, buscar grupos de acolhimento e canais de
denúncias é fundamental também no combate às práticas racistas e
discriminatórias.
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