Já não se trata de cumprir o sonho. 60 anos depois, os atuais ativistas desfizeram o sonho de Martin Luther King, Jr. Vicente Ferreira da Silva para o Observador:
Qualquer
homem, independentemente da sua raça, da sua etnia e da sua
nacionalidade, pode ser preconceituoso. O preconceito é uma forma de
discriminação, manifestável através de pensamentos e de acções. Ora, o
preconceito e a discriminação não são circunstâncias novas ou recentes.
Existem desde que há diversidade biológica, contexto humano e
organização social. O racismo é um preconceito.
Não
deve surpreender ninguém que a definição de racismo tenha evoluído de
forma a acompanhar o desenvolvimento e a complexidade da sociedade. De
todas as diferentes formulações, saliento a de Kovel, Dovidio e
Gaertner, que definiram o racismo aversivo como os comportamentos
raciais dum grupo étnico ou racial, que racionalizam através de
estereótipos a sua aversão face a um outro grupo. Este tipo de pessoas,
que julgam advogar crenças igualitárias, negam a sua postura racial,
mesmo perante a evidência da discriminação que promovem para com outros.
Dito
isto, é importante ter em mente que tanto a ignorância como a
manipulação alimentam o racismo. E estas características são importantes
para classificar movimentos como o Black Lives Matter (BLM) e o
pseudo-activismo da Cancel Culture e do movimento Woke. Estes exemplos
são a negação das ideias e dos ideais de Nelson Mandela e de Martin
Luther King, Jr.
Hoje,
já não se trata de cumprir o sonho. 60 anos depois, os actuais
activistas, ditos defensores dos direito civis, desfizeram o sonho de
Martin Luther King, Jr. e a postura de Mandela ao repudiar o seus
exemplos. Depois de ter passado 27 anos na cadeia, Mandela foi
libertado. Saiu das grades com o perdão no coração e foi capaz de
unificar o seu país. Martin Luther King, Jr., defendeu os direitos civis
e políticos através da não-violência e da desobediência civil
(inspirado pelo activismo não-violento de Mahatma Gandhi).
Sobre
a não-violência, em 1958, Martin Luther King, Jr., afirmou que “só
através de uma abordagem não violenta os medos da comunidade branca
podem ser mitigados. Uma minoria branca cheia de culpa vive com medo de
que, se o negro algum dia alcançasse o poder, agiria sem restrições ou
piedade para vingar as injustiças e a brutalidade dos anos. É algo como
um pai que maltrata continuamente o filho. Um dia aquele pai levanta a
mão para bater no filho, apenas para descobrir que o filho já está tão
alto quanto ele. Subitamente, o pai fica com medo de que o filho use seu
novo poder físico para retribuir todos os golpes do passado.”
Em
1964, discursando perante a audiência que o ouvia na Universidade de
Oslo, Martin Luther King, Jr., expressou que “a violência como forma de
alcançar a justiça racial é impraticável e imoral. É impraticável porque
é uma espiral descendente que termina na destruição para todos. A velha
lei do olho por olho deixa todos cegos. É imoral porque procura
humilhar o oponente em vez de conquistar a sua compreensão; procura
aniquilar em vez de converter. A violência é imoral porque prospera com
base no ódio e não no amor. Destrói a comunidade e torna a fraternidade
impossível. Deixa a sociedade em monólogo em vez de diálogo. A violência
termina por se destruir. Cria amargura nos sobreviventes e brutalidade
nos destruidores.”
No
meio destes dois episódios, a 28 de Agosto de 1963, precisamente há 60
anos, Martin Luther King, Jr., proferiu o discurso “I have a dream” onde
disse sonhar com um mundo onde os “meus quatro pequenos filhos viverão
um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela
qualidade do seu carácter”.
Mamadou
Ba e os BLM são um insulto à memória de Martin Luther King, Jr. (e de
Nelson Mandela). Ao serem apologistas do fim da violência contra negros,
e apenas contra os negros, são sectários. Consideram-se inspirados pelo
Movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, mas não só
renegam a não-violência como, ao permanecerem em silêncio, defendem
abertamente o discurso do ódio e a promoção da violência pela destruição
e pilhagens. Para mim, inspiram-se muito mais nos Black Panthers, que
tinham como fonte de inspiração Frantz Fanon – um dos heróis de Mamadou
Ba – um homem que só tinha ódio no coração e que defendia a violência
como única solução.
Os marxistas jamais abdicarão da violência. 60 anos depois, o sonho foi desfeito.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi

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