Por João Gabriel | Folhapress
Ainda
nos últimos dias como titular da pasta, a ministra do Esporte, Ana
Moser, lamenta a sua demissão para acomodar o centrão dentro do governo
de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A sua saída do cargo foi anunciada pelo governo na última
quarta-feira (6), mas a sua exoneração oficial ainda não aconteceu. Quem
assumirá o posto será o atual deputado federal André Fufuca (PP-MA),
aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A ex-atleta e medalha de bronze do vôlei brasileiro nas Olimpíadas de
Atlanta, em 1996, irá se reunir com Lula na terça-feira (12), quando
pretende apresentar um balanço final dos seus oito meses de gestão no
Esporte. A cerimônia de posse de Fufuca está marcada para a quarta (13).
Em conversa com reportagem neste sábado (9), ela compara sua saída da
pasta à época em que uma lesão a forçou a abandonar o vôlei mais cedo
do que gostaria, com um jogo no ano 2000. Ela diz que, apesar de não ser
fácil viver a demissão, entende que já passou por momentos semelhantes
em sua trajetória.
"Minha vontade na época talvez fosse continuar jogando. Eu não parei
porque eu quis, eu parei porque algo me parou —no caso, o meu joelho.
Agora, não saio porque quis, mas por causa de um contexto [político]",
diz.
Neste contexto, diz, entra também uma questão de desequilíbrio de
gênero. "Não é uma questão de identidade, é uma questão de equilíbrio",
afirma Moser.
"É fato, não tem como negar: o poder é masculino, o esporte é
masculino, o Judiciário é masculino, o parlamento é masculino. Em outras
partes da sociedade, com certeza se avançou mais. Nesses setores, se
avançou só que a um ritmo mais lento."
Ao mesmo tempo que demitiu Moser para alocar Fufuca, Lula tirou
Márcio França (PSB) de Portos e Aeroportos —substituído por Silvio Costa
Filho (Republicanos)—, mas não o exonerou, criando uma nova pasta, a de
Pequenas Empresas, para acomodá-lo.
Ainda na noite do anúncio da demissão de Moser, o Ministério do
Esporte publicou uma nota institucional lamentando a decisão de Lula. No
dia seguinte, a ministra não compareceu ao desfile de 7 de Setembro.
Na sequência, recebeu o apoio de uma série de personalidades do
esporte, das causas sociais e até de integrantes do governo, como a
ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) e a primeira-dama, Janja.
"A minha atuação dentro do ministério era pela causa, não pessoal ou
por carreira [política]. Era simplesmente a aplicação de uma construção
que eu fiz pela minha vida toda em cima do desenvolvimento do esporte,
então com certeza não esperava sair tão cedo", diz.
Ela afirma reconhecer, contudo, que a situação está além de seu
poder. "Lamento que tenha esse preço, gostaria que fosse diferente, mas
entendo que seja esse o processo."
Desde que se aposentou do vôlei, Moser dedicou a carreira a projetos
sociais e à defesa do que chama de esporte para todos —visão da prática
aliada à saúde, educação e inclusão social. Criou o Instituto Esporte e
Educação e presidiu a Atletas pelo Brasil.
Diz que, quando foi chamada, Lula pediu que realizasse uma revolução
no esporte —e que aceitou o cargo pela possibilidade de tentar pôr em
prática aquilo que, como sociedade civil, defendia que os governos
aplicassem.
Na sua avaliação, foi possível concluir a reestruturação do
ministério, valorizando, por exemplo, o esporte de inclusão, o
paralímpico e o futebol feminino, além de fazer mudanças no Bolsa
Atleta, que inclui agora o pagamento a gestantes.
Ficará para a próxima gestão, diz, a estruturação da Lei Geral do
Esporte e do Sistema Nacional do Esporte, a articulação das políticas
esportivas com outras pastas e entes da federação, além do resultado do
grupo de trabalho sobre futebol feminino e a candidatura do Brasil para a
Copa do Mundo feminina de 2027.
Sobre seu futuro, ela critica especulações de que poderia assumir a
presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB) —uma instituição não
governamental que define seu mandatário por eleição— ou a Autoridade
Olímpica: "Não há como haver convite para algo que não existe".
Por outro lado, diz que é importante que as negociações políticas sejam expostas. "Quanto mais luz se colocar nesse debate [político], melhor vai ficar. A gente vai avançando como sociedade, para sair disso com algo melhor", diz.

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