Natação americana estremece com o caso de Lia Thomas, que antes era nadador e agora tem vantagem imbatível sobre outras jovens. Vilma Gryzinski:
Trinta
e oito segundos: foi esta a diferença enorme entre o primeiro lugar de
Lia Thomas numa competição de 1 500 metros nado livre e a segunda
colocada. No mesmo evento de natação universitária, Thomas bateu o
recorde feminino nacional nos 500 metros.
Antes
de deixar crescer o cabelo, passar um ano tomando inibidores de
testosterona e fazer a transição, ela competia como homem pela
Universidade da Pensilvânia, a Penn State. Tinha um corpo de nadador:
altura – mais de 1,80 metro – e ombros largos com musculatura bem
desenvolvida.
Estas características continuam as mesmas e ficam evidentes quando Thomas, de 22 anos, compete com mulheres biológicas.
É certo que, em nome da não-discriminação, ela tenha uma vantagem tão evidente?
Com
medo de parecer preconceituosas, um anátema especialmente brutal quando
envolve transgêneros, algumas nadadoras falaram em sigilo que se
sentiam mal, viram colegas sair chorando das piscinas e achavam que o
esporte estava terminado para elas. Alguns pais também se queixaram.
A
reação mais aberta, no meio, veio de Cynthia Millen, veterana da USA
Swimming, a entidade da modalidade, que renunciou ao posto e disse que
Lia Thomas eventualmente “estará destruindo a natação feminina”.
“A natação é um esporte em que corpos competem com corpos, não são em que identidades que competem com identidades”, disse ela.
“Os
meninos sempre terão maior capacidade pulmonar, corações maiores,
sistema circulatório maior, esqueleto maior e menos gordura. Não importa
quanto tome de drogas inibidoras de testosterona, ele sempre será um
homem biológico e terá estas vantagens.”
São
palavras que muitos teriam medo de dizer, temendo ser acusados de
discriminar pessoas transgênero. Em praticamente todas as esferas da
vida, é perfeitamente possível aceitar que um homem mude de identidade e
passe a viver como mulher. Cada um vive como quer e aceitar outros
modos de ser faz parte do manual de comportamento contemporâneo.
A
exceção é o mundo dos esportes competitivos, onde, por definição, todos
têm que partir de igualdade de condições. Michael Phelps, com seus 2,01
de envergadura oito centímetros a mais do que sua altura –, tinha uma
vantagem natural sobre os outros competidores? Sem dúvida. Imaginem se
ele competisse com mulheres.
Como
fazer justiça aos esportistas trans sem fazer injustiça com as mulheres
biológicas ainda é uma questão aberta a discussão – uma discussão em
campo minado, por sinal.
Outra
esfera na qual há dúvidas: homens que se declaram como mulheres, mas
continuam com o aparelho sexual intacto, devem dividir espaços
exclusivos para mulheres biológicas como abrigos para vítimas de
violência doméstica e penitenciárias femininas?
Ao
defender que só mulheres biológicas deviam ter acesso a abrigos, a
escritora J.K. Rowling comprou uma briga mundial. Foi rejeitada não só
por fãs de Harry Potter, como até pelos atores que fizeram sua fama com a
série de filmes baseados nos livros.
Entre
livros queimados e ameaças de morte, ela não cedeu. A última
manifestação da escritora sobre o tema foi uma reação à decisão da
polícia da Escócia, onde ela mora, de usar o tratamento feminino para
transgêneros que estupram mulheres.
Rowling
apelou a George Orwell de 1984: “Guerra é paz. Liberdade é escravidão.
Ignorância é força. E o indivíduo com pênis que te estuprou é mulher”.
O mundo caiu de novo sobre a cabeça de Rowling, mas ela entrou nessa piscina para se molhar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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