Homenagem às vítimas do Holodomor, na Ucrânia. |
O "Quebrando o Tabu" causou indignação semanas atrás por afirmar que o regime comunista da China,
responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas, tinha pontos
positivos como "moradia para todos" e "estabilidade política".
O
post foi apagado logo em seguida e a página devidamente reconheceu o
absurdo da afirmação. Ainda assim, o caso mostra o desconhecimento mesmo
de brasileiros escolarizados sobre o assunto.
Parte da culpa é dos livros didáticos. Boa parte deles passa em branco pelas matanças praticadas por ditadores comunistas do século 20.
A coleção de Ensino Médio "Diálogos em Ciências Humanas", da editora Ática, percorre o século 20 sem gastar uma linha para tratar do Holodomor,
dos milhões de mortos na China de Mao ou dos crimes de Stálin. Até
mesmo no capítulo "Guerras, Holocausto e genocídio no século 20" não há
menção sobre matanças causadas por ditadores comunistas.
De
quatro coleções de Ensino Médio analisadas pelo economista Arthur
Cohen, a única a discutir algum genocídio comunista foi a
"Humanitas.doc", da editora Saraiva. Explica a falta de alimentos que
matou milhões de ucranianos de fome em 1932 e 1933 (tema, aliás, do excelente filme "A Sombra de Stálin", do Netflix).
Em
três livros de história do 9º ano do Ensino Fundamental, que serão
distribuídos em 2022 na rede pública, a situação é um pouco melhor. Dois
mencionam as mortes por fome durante o regime chinês e os crimes de
Stálin. Omitem o Holodomor e diversas outras mortes em massa. São os
livros "Araribá Mais História", da editora Moderna, e "História
Sociedade e Cidadania", da editora FTD.
Um
terceiro livro analisado, "Teláris História", editora Ática, menciona o
Holodomor, mas não a fome e as mortes na China de Mao.
Pesquisadores estimam que as mortes causadas pelo regime chinês cheguem a 55 milhões.
Falar sobre o século 20 sem citar essas atrocidades é uma omissão tão
grave quanto ensinar Brasil Colonial sem mencionar a crueldade da
escravidão.
Se depender dos livros didáticos de História, os estudantes se formarão acreditando que a crise de fome da Etiópia de 1984
foi causada pelo capitalismo, e não por um ditador que teve apoio de
Fidel Castro. E sem ter ouvido falar do genocídio do Khmer Vermelho, que
matou incríveis 21% da população do Camboja.
Muito
se comenta sobre narrativas de esquerda que professores e autores de
livros didáticos ensinam. Também é preciso ficar atento à história que
eles deixam de ensinar.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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