MEDIÇÃO DE TERRA

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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Brumadinho: DPU lança informe sobre atuação nos 3 anos da catástrofe

 

Defensoria Pública da União (DPU)


A Defensoria Pública da União (DPU) lançou hoje (25/01) o primeiro informe completo sobre a atuação relacionada à catástrofe de Brumadinho. A data marca os três anos do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, da companhia Vale S.A., localizada na cidade de Brumadinho (MG).
 
O documento, produzido pelo Comitê Temático Especializado da DPU (CTE Brumadinho/Rio Doce), aborda os relatos colhidos nas comunidades quilombolas e indígenas atingidas pela tragédia e as conclusões sobre as violações de direitos cometidas durante o processo de reparação socioeconômica. 
 
O rompimento da barragem espalhou um total de 13 milhões de m³ de rejeitos de minério de ferro e matou um total de 270 pessoas, seis das quais ainda estão desaparecidas. Atingiu casas e empreendimentos na região, destruiu a sede administrativa da empresa e alcançou o Rio Paraopeba, destruindo a vida marinha e prejudicando a vida de comunidades e moradores, causando danos socioambientais e socioeconômicos por toda a sua extensão.
 
Desde o início da crise, a DPU tem acompanhado os acordos e processos judiciais com o objetivo de defender os direitos e prestar assistência jurídica integral e gratuita às pessoas e grupos vulneráveis atingidos pelo rompimento. De acordo com o defensor público federal Murillo Ribeiro Martins, secretário de Acesso à Justiça e membro do CTE Brumadinho/Rio Doce, “a partir da atividade do Comitê, é possível a manutenção da memória de trabalho da DPU, bem como uma atuação articulada por grupo de defensores e defensoras especializados na temática em favor da população atingida, o que é fundamental, considerando a complexidade do caso, que envolve grave violação de direitos humanos pela empresa”.
 
A atuação da DPU é realizada pela Defensoria Nacional de Direitos Humanos (DNDH), pelo defensor regional de Direitos Humanos em Minas Gerais (DRDH/MG) e pelo Comitê Temático Especializado de acompanhamento e defesa dos direitos das pessoas e grupos vulneráveis vítimas dos danos provocados pelos rompimentos das barragens de Fundão, em Mariana (MG), e da Mina, em Brumadinho (CTE Rio Doce/Brumadinho), instituído em 2020.
 
O CTE focou no acompanhamento das ações de reparação em prol das comunidades quilombolas e indígenas que habitam regiões do entorno do Rio Paraopeba. “O CTE tem como planejamento dar continuidade ao acompanhamento das comunidades quilombolas e indígenas atingidas pelo rompimento da barragem de Brumadinho-MG, atuando na tutela de seus direitos e da busca pela reparação integral”, observa o defensor.
 
Acesse o Informe Defensorial sobre a atuação da DPU em Sobradinho na íntegra, clicando aqui:
 
SAIBA MAIS
 
Em fevereiro de 2021, um acordo judicial foi homologado entre a Vale S.A. e representantes do Estado de Minas Gerais, Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais (DPMG). O acordo tratou de valores de compensações ambientais e reparação dos danos coletivos causados pela tragédia, com um total de mais de 37 bilhões de reais que seriam repassados aos atingidos.
 
Os indígenas não foram contemplados no acordo realizado pela Vale e as instituições de Justiça. Para eles, Funai e Vale S.A. firmaram Termo de Ajuste Preliminar Extrajudicial (TAP-E), em que foram listadas medidas emergenciais em favor da comunidade, com direito a pagamento mensal emergencial aos indígenas, fornecimento de cestas básicas e contratação de entidades para diagnóstico dos danos e impactos socioambientais sofridos pelos povos. 
 
Posteriormente, a DPU também atuou no segundo termo aditivo ao TAP-E, com perspectiva do pagamento definitivo dos valores das verbas emergenciais, da permanência do serviço complementar de saúde e da criação de grupos de trabalho para analisar critérios de indenização individual.
 
Para auxiliar na resolução dos problemas, a DPU realizou visitas às comunidades quilombolas e indígenas localizadas na zona rural de municípios atingidos a partir de conversas com população para conhecer problemas e estruturas. Também foram promovidas reuniões conjuntas com as lideranças locais em busca de pontos comuns para a atuação institucional, com total consideração à atual vulnerabilidade enfrentada por essas comunidades. 
 
Quilombolas: entre o luto e a esperança
 
As comunidades tradicionais ainda buscam a reparação pelos danos causados pelo rompimento das barragens. Em comum, permanece o medo de não serem reparadas em sua integralidade pelo dano que sofreram e o cansaço por todo o caminho percorrido no processo, que ainda parece muito distante de chegar a alguma resolução. Todas as comunidades relatam a falta de apoio e de consulta popular sobre os processos de reparação.
 
Isoladas por muito tempo do centro urbano, as comunidades conviveram com dificuldades de transporte e escoamento de produção durante muitos meses, dado que a estrada que levava até as comunidades na região de Brumadinho foi destruída pelos rejeitos. 
 
No caminho até a cidade, ainda é possível observar a destruição causada pela tragédia, que tem grande impacto psicológico nos moradores. Apesar da reconstrução da via, os quilombolas ainda sofrem com problemas de comunicação, falta de internet e telefonia móvel, o que dificulta a relação com as organizações responsáveis por acompanhar a reparação.
 
Outras comunidades afetadas relataram danos causados pela poluição do Rio Paraopeba com os rejeitos de minério, o que afetou profundamente suas vidas e formas de sustento, em especial com os riscos do consumo de água na região e a interrupção da pesca no rio, com grande impacto no turismo e na extração do minhocuçu, atividade tradicional na região. 
 
As comunidades também sofreram graves danos quanto à produção agrícola, porque há grande receio da população quanto à qualidade da produção de alimentos na região.
 
Indígenas e a falta de reconhecimento
 
Nas aldeias, sobram reclamações quanto à postura da Vale. Para as lideranças indígenas, a Vale tem atitude que dificulta as negociações, que tem pouco avançado nos últimos três anos. Também reclamam do abandono e da qualidade do serviço de saúde complementar contratado pela empresa, que não respeita o modo de vida da comunidade.
 
Os povos indígenas Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe, estabelecidos na região do Rio Paraopeba, no município de São Joaquim das Bicas (MG), também foram visitados pela DPU. Desde que houve o rompimento da barragem, não podem mais realizar as atividades de pesca e caça na região e, com isso, garantir o sustento das 46 famílias que residem na comunidade. 
 
A água do rio, que era utilizada para consumo humano, lazer e atividades culturais e espirituais, continua sem condições de uso. Na visita, representantes da DPU foram com a liderança da aldeia até a margem do rio, que continua com uma cor forte avermelhada, causada pelos rejeitos de minério que ainda contaminam as águas.



Defensoria Pública da União

Defensoria Pública da União (DPU)
Gloria Melgarejo / Érica Bianco
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(85) 99999-9999

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