Se Lula vencer em 2022, a tomada da América Latina pela esquerda populista estará consumada. Artigo de Alvaro Vargas Llosa publicado pela National Review e traduzido para a Gazeta do Povo:
País
após país tem sido enfeitiçado pela extrema esquerda na América Latina.
O resultado da eleição presidencial do Chile, que coroou Gabriel Boric,
um radical de 35 anos com compreensão alguma sobre o que proporcionou
sucesso ao seu país nas últimas décadas, confirma a tendência que
colocou grande parte da região sob governos não liberais, antiocidentais
e anticapitalistas.
Boric
pode acabar se revelando um moderado, mas sua demonização do modelo
socioeconômico bem-sucedido do Chile, seu apoio aos distúrbios violentos
dos últimos dois anos e sua aliança com o Partido Comunista indicam que
ele precisará de uma reviravolta espetacular para isso acontecer.
A
Colômbia, onde Gustavo Petro está à frente nas pesquisas, e o poderoso
Brasil, onde Luiz Inácio Lula da Silva lidera com 45% das intenções,
podem seguir o exemplo no próximo ano, assim como a Costa Rica, deixando
um pequeno número de países - República Dominicana, Uruguai, Equador -
do outro lado. Dos líderes que se opõem à extrema esquerda, alguns, como
Guillermo Lasso, do Equador, são vítimas de ataques bem organizados com
o objetivo de destruí-los.
Vários
fatores explicam essa maré: a cultura política da região não superou
sua tradição populista centenária e a pandemia fez o relógio retroceder
para milhões de pessoas que haviam ingressado na classe média baixa. De
acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, em
2020 a pobreza e a pobreza extrema atingiram níveis não vistos nos
últimos 12 e 20 anos, respectivamente.
Além
disso, os governos de centro-direita não promoveram reformas de livre
mercado significativas, muitas vezes impedidas por poderosos movimentos
populistas de esquerda, o que, juntamente com o fracasso dos governos
esquerdistas, manteve o crescimento médio do PIB em 0,3% ao ano entre
2014 e 2019. Finalmente, na era das comunicações globais instantâneas, a
desigualdade se tornou uma fonte de ressentimento e frustração: o
índice de Gini, que mede as disparidades de renda, aumentou quase 6% em
2020.
Não
estamos falando aqui sobre o pêndulo que vai do conservadorismo de
centro-direita para a social-democracia de centro-esquerda de estilo
europeu. Vimos várias formas de agressão à ordem constitucional,
praticadas por líderes ansiosos por mudar as regras do jogo (incluindo
as constituições de seus países); subverter o Estado de Direito e a
democracia liberal; e permanecer no poder por meio de apadrinhamentos,
programas de redistribuição, violência e propaganda rotulando oponentes
de “fascistas”.
Esses
líderes se opõem aberta ou hipocritamente à influência e ao capital
ocidentais, alimentam ressentimento social e racial e consideram
traidores os governos de centro-esquerda que desempenharam um papel
construtivo na região desde os anos 1990.
Nos
últimos 30 anos, os partidos de centro-esquerda, anteriormente
conhecidos como “Concertación”, estiveram no poder muito mais tempo do
que os partidos de centro-direita; eles foram tão difamados quanto,
senão mais que, os conservadores por extremistas de esquerda que
vituperaram a era pós-Pinochet.
Se
Lula - o ex-presidente brasileiro que esteve preso sob acusações de
corrupção e, junto com a sucessora Dilma Rousseff, mergulhou o país em
uma de suas piores crises políticas e econômicas - vencer em 2022, a
tomada da América Latina pela esquerda populista estará consumada.
Lula
apoia todas as ditaduras de esquerda e defendeu graves violações dos
direitos humanos em Cuba e na Nicarágua (ele recentemente perguntou por
que o mundo questiona o fato de que Daniel Ortega, da Nicarágua, está no
cargo há quase 16 anos, enquanto não se opôs a Angela Merkel permanecer
no poder na Alemanha pelo mesmo período!).
Quando
Hugo Chávez assumiu o poder na Venezuela, em 1999, o preço do barril de
petróleo era de US$ 8; depois ultrapassou a marca de US$ 100,
alimentando seu regime populista e facilitando a destruição do Estado de
Direito no país.
Estamos
entrando agora, ao que parece, em um novo boom de commodities, que
beneficiará muitos países produtores de minerais, hidrocarbonetos e
produtos agrícolas. Com exceção do México, onde os bens industriais
desempenham um papel maior na economia, isso ajudará os maiores países
da América Latina, vários dos quais já estão nas mãos de demagogos, e os
demais poderão estar em mãos semelhantes no final de 2022 ou início de
2023. É um cenário nada animador.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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