Não há ideologia que derrube estes valores, nem Estado que os substitua,
pois as grandes dificuldades, o sofrimento e o medo só se vencem numa
estrutura, antes de qualquer outra: a Família. Artigo de Joana Bento
Rodrigues, publicado pelo Observador:
A desconstrução da família tradicional, tendo como fim último a sua
destruição, tem estado, nos últimos anos, na ordem do dia de grandes
organizações e fundações internacionais, inspiradas no marxismo e no
comunismo.
A agenda é bastante ampla. O “empoderamento” da mulher, patrocinando
os activismos feministas mais radicais, que, reproduzindo o pior do
machismo e da misoginia, mais não pretendem do que aniquilar o homem e
renegar a maternidade. A liberalização do aborto e da eutanásia, que,
negando o valor da inviolabilidade da vida, resulta na quebra do vínculo
sagrado entre gerações. A implementação da ideologia de género, que
promove uma nova revolução cultural e social, retirando aos pais o
direito de decidir que valores devem presidir à educação dos filhos.
Deste modo, pretendem estas organizações, através da intervenção do
Estado, subverter o modelo natural de família, cuja existência é
inegavelmente anterior à do próprio conceito de Estado,
desconstruindo-a, desvalorizando-a, substituindo-a ou promovendo a
formação ou redução a micro-agregados familiares, sem particular
compromisso, ou mesmo a vida a sós, como meio egocêntrico para atingir a
prosperidade material.
Ora, numa altura de crise sanitária, social e económica mundial,
assistimos a infames ofensivas, de quem começa a perceber o falhanço de
todo o investimento aplicado ao longo de décadas.
De forma provocatória, no momento em que o mundo luta literalmente
pela vida e em que as famílias em confinamento procuram proteger-se e
cuidar-se, de modo especial, assistimos à proclamação do “fim da família tradicional” ou da necessidade da defesa do “aborto como uma prioridade durante a pandemia”.
É evidente que tentam desesperadamente desvalorizar e iludir a inegável força indestrutível da Família.
Milhões de pessoas confinadas nos seus lares, com tempo, preocupações
e deveres que ultrapassaram os rotineiros assuntos profissionais. Pela
primeira vez, muitos têm a oportunidade de parar, afastar-se de quase
tudo e todos, fazer silêncio, reflectir e compreender o que realmente os
move, os motiva, e fixar-se no que é essencial.
Mães e pais passaram a cuidar dos filhos a tempo inteiro. Muitos
filhos passaram a olhar pelos pais fragilizados, pela idade ou pela
doença, e tantos outros passaram a desempenhar ambos os papéis.
Tempos altamente desafiantes. Em coabitação continuada e forçada,
pais ouvem os filhos chamar por si “mil vezes ao dia”; há cantos da casa
que, arrumados e limpos, ao segundo olhar já não estão; móveis ou
madeiras cuidadas que conhecem as primeiras mossas; as refeições e as
roupas que não dão descanso; são os pequenos irmãos em corridas ruidosas
entre divisões, entrando em repetidos conflitos; as desobediências; os
adolescentes que se isolam nos quartos, em mundos virtuais, evitando as
aproximações forçadas aos pais; os pais que insistem em atribuir tarefas
domésticas aos filhos que pretendem estar quietos e sossegados. E os
cônjuges, que passando a partilhar mais tempo, enfrentam também
adversidades, esperando atenções mútuas que não se concretizam. São os
idosos e doentes que, sentindo-se sozinhos na dor e desconforto, apelam
insistentemente, e os filhos e cônjuges cuidadores que enfrentam por
vezes o desespero, dado o pouco tempo de descanso e as noites mal
dormidas, que os levam à exaustão.
Alguns não aguentarão o pesado fardo: ou nunca amaram ou não
perceberam que amar é acção, compromisso para a vida, que exige doação,
sacrifício e altruísmo, sem prazo de validade. Mas os que o perceberem
sairão mais fortes desta crise.
Os sorrisos e risos, os abraços, as cumplicidades, as gentilezas, as
doçuras, as partilhas, os olhares que dizem “gosto de ti” ou “fazes-me
falta”, a confiança de que o outro não abandona – a essência da Família –
mostram que ultrapassam todas as dificuldades.
É por isso que se sente o desespero de quem tanto tem investido na
senda de destruição dos valores cristãos, que incluem a Família como
célula da sociedade, onde se aprende a solidariedade, a entreajuda e a
caridade.
Não há ideologia que derrube estes valores, nem Estado que os
substitua, pois as grandes dificuldades, o sofrimento e o medo só se
vencem numa estrutura, antes de qualquer outra: a Família.
A autora não reconhece o AO 1990.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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