Artigo de Juan Arias, no El País,
sobre o falastrão José Luiz Datena, que anunciou sua candidatura ao
Senado por São Paulo (eu não votaria nesse sujeito nem para síndico de
condomínio):
O apresentador José Luiz Datena, que anunciou sua candidatura ao Senado
em São Paulo, o Estado mais importante do país, com uma população maior
do que muitos países europeus, foi apresentado como o primeiro “não
político” lançado na arena das eleições e já são feitas profecias sobre o enorme sucesso de sua candidatura.
Em sua
primeira aparição pública como concorrente ao Senado alardeou seu
desprezo pela chamada velha política que chamou de “corrompida,
carcomida e podre”. Fiel a sua linguagem nada formal, defendeu que os
que não estão de acordo com ele “se explodam”.
Datena,
que quer se apresentar como “não político” ou “político novo”, se
preferir, ganhou fama nos últimos anos de sua carreira na televisão por
seus programas de cunho policial e populismo da violência
apresentada com a morbidez do sangue e da crueza. Se alguns
pré-candidatos à Presidência são acusados de ter peregrinado por até
oito partidos, como Bolsonaro e Ciro Gomes,
o novo político Datena também não pode apresentar credenciais de
fidelidade profissional e política. Peregrinou como afiliado a partidos
tão diferentes como o PT e o PP e agora é candidato pelo DEM. E viveu
essa mesma peregrinação com as emissoras de televisão em que trabalhou,
das locais às nacionais, Globo, Rede TV, Record e Bandeirantes. E nem
sempre pacificamente.
O apresentador candidato ao Senado lembra por suas declarações aos que nessa mesma coluna
chamamos de “magos de receitas simples para problemas complexos”, que é
tudo o que o Brasil não precisa nesse momento de tensão social. Os
problemas que assolam esse país, sua política, sua Justiça e suas
instituições em geral, são complexos e com raízes em velhas práticas
coloniais que acabaram criando um país de casta com graves feridas de desigualdade social.
Em um
ímpeto de sinceridade populista, o guru televisivo iniciou sua carreira
de político novo com essa confissão, publicada pela Folha de S. Paulo:
“Não queria estar aqui, estou aqui a contragosto para caramba, mas estou
aqui por um compromisso sagrado com o povo do Brasil”, e acrescentou: “Vocês podem ter um político de péssima qualidade, uma porcaria, mas terão um cara que vai ser uma coisa só: honesto com vocês”.
É
inegável que o Brasil precisa de políticos honrados, pelo grau de
corrupção que tantos deles demonstram, praticamente de todos os
partidos. Acreditar, entretanto, que um “político de péssima qualidade,
uma porcaria”, como Datena se define, pode governar um país império como
o Brasil, com mais de duzentos milhões de habitantes, somente não
aparecendo na lista dos corruptos, soa a demagogia.
Que a
velha política brasileira, como em parte a mundial, precisa de sangue
novo é indiscutível. O mundo de hoje decorre acelerado e tudo envelhece à
grande velocidade. Está órfão de grandes estadistas capazes de captar
ao mesmo tempo as ondas de desencanto e as ânsias de novidade que
fermentam na sociedade. Capazes de interpretar os sonhos não fáceis das
novas gerações que assassinaram o pai e lutam por uma nova identidade.
Para isso não servem santos e demônios, heróis e redentores. A política é
uma arte e uma ciência ao mesmo tempo, que exige de quem a exerce a
capacidade de interpretar o melhor e mais complexo da nova sociedade e
fidelidade a sua etimologia de entrega à “polis”, às pessoas. De serviço
às necessidades da comunidade e não de trunfo para inconfessáveis
sonhos de poder.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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