Coluna de J. R. Guzzo, publicada na edição de Veja de
2 de maio de 2018, sobre a sofreguidão dos partidos em relação ao
"fundo partidário" (verdadeira propina às custas dos cidadãos),
observando que, "até
o momento, só o candidato João Amoêdo, do Partido Novo, recusou-se a
receber essa propina: o partido deixou parados no banco os 2 milhões e
pouco de reais que o Fundo depositou em sua conta".Segue o texto na
íntegra:
O que se
pode esperar de bom de uma eleição para presidente da República em que
todos os candidatos, com exceção de um só, vão fazer sua campanha com
dinheiro que roubaram diretamente de você? Eis aí uma das mais
espetaculares safadezas que estão sendo praticadas neste exato momento
pelos políticos brasileiros — da extrema direita à extrema esquerda, na
cara de todo mundo e em plena luz do dia. Não é pouco: o Tesouro
Nacional vai doar aos políticos, para suas “despesas de campanha” deste
ano, um presente extra de 1,7 bilhão de reais, já separado no Orçamento
de 2018. É uma aberração que tiveram a coragem de chamar de “Fundo de
Defesa da Democracia”, ou algo assim. Vem se somar ao “Fundo
Partidário”, vigarice antiga criada para dar aos partidos políticos, a
cada ano, quantias desviadas dos impostos e destinadas a ajudar na sua
“manutenção”.
No ano
passado, com um projeto de lei relatado na Câmara pelo deputado Vicente
Candido, do PT, e gerido no Senado por ninguém menos que o senador
Romero Jucá, fizeram uma mágica que multiplicou dramaticamente, numa
tacada só, os valores que a população deste país será obrigada a
entregar aos políticos no decorrer de 2018. É uma conquista notável para
os anais da arte de roubar. Quatro anos atrás, a mesada anual das
gangues que fazem o papel de “partidos” no Congresso Nacional era de 300
milhões de reais. Foi aumentando, aumentando — e agora, diante da
necessidade de “defender a democracia”, está reforçada por esse novo 1,7
bi. A desculpa é que há eleições neste ano e as doações de “caixa
dois”, imaginem só, foram proibidas pelos nossos tribunais superiores. É
mais ou menos assim: como está teoricamente mais difícil praticar crime
eleitoral, chama-se o público para fornecer o dinheiro que os
criminosos desembolsavam até agora. Brilhante.
Era para
ser pior. Os partidos queriam 3,5 bilhões de reais. O PT, então, exigia
até 6 bi, ao fixar o valor do Fundo numa porcentagem do Orçamento da
União. De um jeito ou de outro, é bom para as “orcrims”, bom para os
políticos e ruim para você. Esse dinheiro, obviamente, não é inventado —
tem de sair de algum lugar, e esse lugar é o seu bolso. Também não pode
ser duplicado. Se foi para os partidos é porque não foi para ninguém
mais; no caso de 2018, quase 500 milhões de reais foram desviados das
áreas de saúde e educação para o cofre dessas figuras que estão se
propondo a salvar o Brasil. O fabuloso “Estado” brasileiro, essa
entidade sagrada para o pensamento da esquerda nacional, não tem
dinheiro para comprar um rolo de esparadrapo. Mas tem, de sobra, para
dar a qualquer escroque que consegue o registro de uma candidatura.
Claro que tem. O dinheiro não é “do Estado”, ou “do governo”, ou “do
Temer”. Isso não existe. Estado algum tem dinheiro; quem tem o dinheiro
que eles gastam é você. É de você que eles roubam, e são justamente os
mais pobres que ficam com o prejuízo pior. Quando se tira dinheiro dos
ricos e dos pobres ao mesmo tempo, quem é que sofre mais?
A isso o
PT e a esquerda em geral dão o nome de conquista democrática popular — é
o prodigioso “financiamento público das campanhas eleitorais”, que,
segundo o seu evangelho, elimina a influência “das grandes empresas” nas
eleições etc., etc. É um espanto, pois o PT foi o mais voraz de todos
os tomadores de dinheiro de empreiteiras de obras e outros magnatas que
jamais passaram pela política brasileira. Agora, está avançando também
sobre os impostos pagos pela população — e faz isso com o apoio
apaixonado dos seus piores inimigos na cena política, os famosos “eles”
amaldiçoados pelo ex-presidente Lula há mais de trinta anos e acusados
de criar todas as desgraças do Brasil. Até o momento, só o candidato
João Amoêdo, do Partido Novo, recusou-se a receber essa propina: o
partido deixou parados no banco os 2 milhões e pouco de reais que o
Fundo depositou em sua conta. Por que nenhum outro fez a mesma coisa?
Não perca o seu tempo ouvindo explicações complicadas. Os demais não
fizeram porque não quiseram fazer; o que querem mesmo é o dinheiro. É
uma atração e tanto. Derruba até figuras com os teores de pureza
revolucionária da candidata Manuela D’Ávila, que faz cara de horror
diante da hipótese de sujar as mãos com essas sórdidas questões
financeiras. Prefere enfiar as mesmas mãos diretamente no seu bolso —
como se assim o dinheiro roubado ficasse limpo. Da direita velha nem
adianta falar; roubar é o seu destino. Mas quando a jovem de esquerda
age igual, e nem se dá ao trabalho de disfarçar, é que a coisa está
realmente preta.
Publicado em VEJA de 2 de maio de 2018, edição nº 2580
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário