Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais de domingo:
Pois
veja bem, del Nero é um homem de sorte. A FIFA o acusa de ter recebido
altas propinas – a multa de um milhão de francos suíços, uns R$ 3,5
milhões, não fará seus bolsos ficarem menos recheados. E a proibição de
exercer cargos no futebol veio pouco depois de, aos 77 anos, ter deixado
a Presidência da CBF para o candidato que apoiou. Com que outros cargos
sonharia del Nero, com essa idade e com receio de viajar ao Exterior?
Pois seu aliado e antecessor na CBF, José Maria Marin, viajou – e
terminou preso na Suíça pela Polícia americana. Hoje cumpre pena em Nova
York.´
Del Nero
é um homem inteligente. No Brasil não pode ser capturado por policiais
de outros países. E, apesar de ter o nome de Marco Polo, como o grande
viajante que foi da Península Itálica à China e trouxe o macarrão para o
Ocidente, desistiu de viajar e se contentou com a massa aqui mesmo
produzida. Afinal de contas, já conhece Nova York e sabe os riscos de
lá.
Caro
leitor: quando as autoridades tomam contra alguém aquelas providências
que aprovamos, cuidado: podem estar proibindo alguém de fazer exatamente
aquilo de que não gosta. Aqui, somos mestres nisso.
Nem
sempre Goebbels, o marqueteiro de Hitler, está certo. Frequentemente a
verdade, repetida mil vezes, se transforma em mentira.
Assim é…
Anote a
data: 2 de maio, quarta-feira que vem. Por proposta do ministro Luiz
Roberto Barroso, o Supremo Tribunal Federal limita o foro especial para
deputados e senadores a problemas ocorridos durante o mandato, que
tenham relação com sua atividade parlamentar. Alguém que esteja sujeito a
processo poderá se eleger, mas responderá perante um juiz de primeira
instância. Se, no exercício do mandato, atropelar alguém, também não
terá a proteção do foro especial. Sete ministros (num total de onze) já
se manifestaram a favor da modificação. Em princípio, será aprovada.
Feliz com essa medida, que reduz os privilégios dos parlamentares?
…se lhe parece
Pois é.
Acontece que em algum momento – provavelmente depois das eleições de
outubro, para não dar a impressão de que a medida visa apenas beneficiar
o ex-presidente Lula – o Supremo deve mudar a norma pela qual os
condenados em segunda instância estão sujeitos à prisão. A norma foi
aprovada por maioria mínima, 6×5; há ministros que mudaram de opinião,
como Gilmar Mendes, invertendo a maioria. Imaginemos um parlamentar
envolvido em crime do colarinho branco: será julgado em primeira
instância, apresentará embargos infringentes e embargos de embargos, e
irá até a quarta instância, o que pode levar anos. Se até hoje o Supremo
não julgou ninguém acusado pela Lava-Jato, os anos serão muitos, e
lentos.
Só porque…
O
empresário pernambucano Eduardo Queiroz Monteiro, filho e irmão de
ministros, grande produtor de açúcar e álcool, dono do jornal Folha de
Pernambuco, foi condenado em primeira instância a nove anos de reclusão
por gestão fraudulenta, quando dirigia o Banco Mercantil de Pernambuco. A
sentença é da juíza federal Amanda Torres de Lucena Diniz Araújo.
…você quer
Eduardo
Queiroz Monteiro não corre risco imediato de prisão: pode recorrer da
sentença ao Tribunal Regional Federal 5. O Banco Mercantil de Pernambuco
sofreu intervenção do Banco Central em 1996.
A hora de Dilma…
A
delação de Antônio Palocci – ministro de Lula, ministro de Dilma – já
está na Polícia Federal. Palocci diz que conversou com o presidente Lula
e a candidata Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, sobre levantar
dinheiro para a campanha na construção de sondas de águas profundas.
Segundo o colunista Cláudio Humberto,
Palocci vai também detalhar a reunião com Lula, Dilma e Emílio
Odebrecht, em 2010, mal encerradas as eleições, para acertar a vitória
da empreiteira em grandes licitações e a propina que deveria pagar –
quanto, a quem e como.
…a vez de Palocci
Só há um
problema: faz tempo que Palocci disse a Sérgio Moro que tinha
explosivas revelações a fazer, revelações que dariam à Lava Jato pelo
menos mais um ano de trabalho. De lá para cá o Ministério Público
rejeitou qualquer acordo com ele, até que a Federal entrou no circuito. O
MP quer exclusividade na negociação de delações premiadas e isso pode
atrapalhar a colaboração de Palocci. Além disso, parece que ele tem a
contar algo sobre a atividade bancária nas eleições, e bancos odeiam
aparecer nessas horas.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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