Com seu descomunal poder de mando, o STF tem cometido trapalhadas monumentais. Artigo de Mary Zaidan, publicado no Blog do Noblat:
Mais uma vez – e não
têm sido poucas – o destino imediato e futuro do país estará nas mãos do
Supremo Tribunal Federal, ao qual tem cabido distribuir, recolher e
validar as cartas no Brasil de hoje. Não raro sacando coringas
escondidos nas mangas, e nem sempre preservando a Constituição que
deveria proteger.
É em torno da decisão
dos 11 ministros sobre o habeas corpus do ex-presidente Lula, prevista
para o dia 4, que manifestações de rua foram convocadas para hoje e para
terça-feira. E que mais de mil juízes e promotores deram aval a um
documento que será entregue amanhã à Suprema Corte.
Com o título
“Constitucionalidade da prisão em segunda instância e não violação da
presunção de inocência”, a nota técnica transformada em abaixo-assinado
do mundo jurídico impressiona. Em menos de cinco páginas, eles reúnem
argumentos para o STF manter a posição adotada por pelo menos três
vezes, a última há menos de dois anos, expondo quão calamitosa poderá
ser a reversão de tal entendimento.
E não se limitam ao
fim da Lava-Jato. “A mudança da jurisprudência implicará a liberação de
inúmeros condenados, seja por crimes de corrupção, seja por delitos
violentos, tais como estupro, roubo, homicídio, etc.”
O STF, com seu
descomunal poder de mando, tem cometido trapalhadas monumentais. O
adiamento da decisão sobre Lula e o salvo conduto deferido a ele são
pouco perto da prática de surrupio de funções do Executivo e do
Legislativo. Algo para lá de heterodoxo.
Está em dívida também
no que é de sua alçada exclusiva: o julgamento dos que têm privilégio
de foro. Uma excrescência que, aliada aos sucessivos recursos nas
diferentes instâncias, garante que autoridades e aqueles que podem
gastar fortunas com advogados permaneçam impunes.
Casos como o do
ex-prefeito e deputado Paulo Maluf, que correu por duas décadas, ou de
crimes de Romero Jucá, que acabam de prescrever depois de 14 anos, são
apenas alguns exemplos. Corroboram com a nota dos juízes e promotores,
para quem “a ineficácia da persecução penal não se situa na dosagem das
penas, mas na incapacidade de aplicá-las”.
No âmbito da
Lava-Jato é escandaloso: enquanto nas instâncias inferiores já foram
expedidas 188 condenações a mais de 150 réus, o STF não julgou um único
político depois de quatro anos. Prazo que o ministro relator Edson
Fachin considerou normal ao anunciar que deve despachar os primeiros
casos ainda neste semestre.
Um jogo de cartas
marcadas, de embuste nacional, que contribui para a descrença nas
instituições, que, convenhamos, não têm feito por merecer qualquer
crédito.
Entre a Páscoa e o
dia da mentira, fica a torcida para que o espírito do primeiro derrote o
segundo, na tentativa de livrar os outros 364 dias da danosa farsa que
impera no país.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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