"O Brasil ordeiro merece
um gesto das autoridades repudiando o terrorismo de Boulos, não pode
mais ficar à disposição das patologias ideológicas da súcia terrorista
nem das “patologias de consciência” dos representantes da lei que se
calam. Integrantes do Judiciário/MPF não são todos lulopetistas, claro,
mas predominam entre eles teses caras ao PT dos anos 1980, de um PT
limpinho que, grosso modo, reencarna no PSOL. É a “ideia” lavada a
jato". Valentina de Botas, via Augusto Nunes:
Então atire a
primeira cobrança quem nunca deixou de cumprir uma promessa. Volto a
falar de Lula tendo prometido a mim mesma que não mais o faria depois de
comentar a prisão dele. Não previ isso, mas, como diz Genoveva, quando
prometi era verdade. Pertence à fase madura de Machado de Assis o famoso
conto Noite de Almirante (publicado pela primeira vez em 1884, no
Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro) que me traz Genoveva para minha
defesa e refúgio. Nesta fase, praticamente extinguiu-se o verniz sutil
de sofisticada ironia que nosso magnífico autor derramava sobre a
superfície das coisas e que, num prazer adicional da leitura, o leitor
mais lapidado o penetra e descobre, como num palimpsesto ─ e a cada nova
leitura, novas camadas interpretativas se revelam ─, o profundo das
coisas na fundura da galhofa apenas residual e da melancolia
predominante. Exemplo máximo disso entre os contos, acho eu, é o duro
“Pai Contra Mãe” em que a linguagem exata e a sintaxe enxuta agudizam a
crueza de uma realidade sem concessões e em que os personagens fazem
escolhas como a pedra que, lançada, decidisse onde cair, segundo a
imagem com a qual Espinoza define o livre-arbítrio.
Assisti ao vídeo em
que Guilherme Boulos destampa um trololó aparentemente delirante sobre a
invasão do prédio do triplex do Lula comandada pelo sem-teto de
boutique, aterrorizando moradores. Aí, sabe como é: uma coisa
desagradável leva à outra coisa desagradável, então acabei revendo o
último discurso de Lula em liberdade para averiguar nexos no palavrório
de Boulos. Naquele discurso, o caudilho dialogou com os próprios afetos e
desordens (essencialmente, a horrenda “ideia” Lula), ainda que numa
fala racional, coesa e coerente para determinada essência política ─ e,
nesse sentido, dirigiu-se à militância, que é o que os consubstancia
externamente. Inertes, MPF e demais autoridades deixam um bando
autoritário colonizar o espaço no noticiário sem lhe fazer um
contraponto nesta que é também uma guerra de valores. E a militância
chafurda na sua libido deformada. É para a sustentação do moral dela que
Boulos e seus bandidos amestrados continuam delinquindo já que a pátria
dos petistas não é o Brasil, mas o petismo. Seus habitantes, alheios à
realidade exterior, não são apenas aquelas poucas centenas que se
entrincheiraram no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo (aliás, a
legislação proíbe atividade político-partidária de sindicatos, não é,
Ministério Púbico?) ou os acampados em Curitiba emporcalhando tudo em
volta e infernizando o cotidiano dos moradores.
Eles são também “a
ideia” no palimpsesto de certa imprensa escrita e falada que ainda
escolta o triplex de Lula com um “suposto”, mantendo a mentira,
substância última dessa porcaria toda, na crônica dos fatos. São a
“ideia” que aparelhou o MPF (que, muitas vezes, me lembra um PSOL
concursado) e porções do Judiciário, desde antes de o PT assumir a
presidência, que silenciam diante da carreira criminosa de Boulos. À
sombra desse frondoso silêncio, o PT sustenta seu enredo embusteiro
também pela omissão de agentes da lei que decidiram participar
politicamente do debate público ─ sobretudo procuradores do MPF ─,
desrespeitando os limites de suas funções institucionais, atacando
todos-os-políticos, mas, nominalmente, quase sempre apenas contra
aqueles opostos ao campo ideológico da “ideia”. A choldra deita e rola.
O Brasil ordeiro
merece um gesto das autoridades repudiando o terrorismo de Boulos, não
pode mais ficar à disposição das patologias ideológicas da súcia
terrorista nem das “patologias de consciência” dos representantes da lei
que se calam. Integrantes do Judiciário/MPF não são todos lulopetistas,
claro, mas predominam entre eles teses caras ao PT dos anos 1980, de um
PT limpinho que, grosso modo, reencarna no PSOL. É a “ideia” lavada a
jato. Imunda, ela ainda lidera as pesquisas eleitorais de dentro da
cadeia (o Brasil vai me intrigar para sempre), seguida pelas versões
higienizadas: Marina Silva (que sugere a PMDB, PSDB e PT que se
aposentem para que ela governe com a Rede e o PSOL), Joaquim Barbosa (o
candidato da agenda policial) e Jair Bolsonaro (o autoproclamado liberal
que aplaude agressões ao estado de direito quando elas não o atingem,
conduta que nega a essência do liberalismo). Três figuras autoritárias
revigoradas no lixo tóxico produzido pela criminalização da política
como via institucional para encaminhar as demandas da sociedade,
criminalização esta promovida pelos mesmos agentes que, em nome do
combate aos políticos corruptos, aproveita para combater também os
políticos de que não gosta inspirando na população o desejo de eleger
alguém-que-ponha-ordem-em-tudo-isso-que-está-aí. Enquanto isso, Boulos
não é incomodado e nem sequer agradece, ele quer é mais, pois essa gente
não deseja participar democraticamente da disputa legítima pelo poder,
mas se impor pela truculência e pela mentira, chegando ao limite do
grotesco e dando mais um passo sem ativar o ativismo blogueiro do MPF.
Autoritários do bem e os do mal debocham do Brasil ordeiro.
O marujo Deolindo
partiria numa viagem de 10 meses e trocou promessas de fidelidade com a
mulata Genoveva. Quando os amantes se reencontraram, Genoveva se
apaixonara por outro. Deolindo, do fundo de seu desencanto, ainda
balbuciou uma cobrança que era menos isso e mais uma verbalização de seu
choque: “mas você prometeu, Genoveva”. “Ah, Deolindo, deixe disso,
quando eu prometi era verdade”. Depois de ouvir Lula, me sinto suja da
voz roufenha excretando senhas para a barbárie e, para lidar com essa
realidade incessante, faço um tipo de profilaxia com algum humor ou
ironia, alguma literatura, música ou poesia porque a beleza ─ em
qualquer forma ─ é, para mim, revestimento pessoal para sobreviver às
mazelas do mundo. Por isso afirmei que o conto é um refúgio, essa
encantadora narrativa de um desencanto amoroso com toda a breguice de
uma ilusão amorosa ─ claro, não é todo amor que é brega, só os
verdadeiros, ou você nunca ouviu Roberto Carlos ou Billie Holiday (cuja
morte completa 50 anos em 2019) se acabando em “I’m a fool to want you”?
─ tratada com a genialidade de Machado para falar da volubilidade do
coração humano, de fidelidade, inconstâncias e a imprevisibilidade da
vida, que a faz menos perigosa. Já pensou que perigo uma vida sem
imprevistos? A vida acontece à nossa revelia. Uma “ideia”, não.
Portanto, senhores e senhoras agentes da lei, ajam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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