Walmir Rosário |wallaw1111@gmail.com
Esta greve, tida como dos vigilantes, apresenta um componente diferente, nem mesmo os funcionários de confiança dos bancos aparecem para o expediente interno.De antemão, vou logo avisando: o título acima está correto, pois desta vez não são os bancários que protagonizam o fechamento dos bancos em todo o Brasil. Entretanto, prospera uma dúvida de quem, na realidade, pode ser responsável pelo fechamento dos bancos: os próprios banqueiros ou os sindicatos de vigilantes espalhados pelo país afora?
Na minha simples visão, são os banqueiros, que economizam milhões de reais nas contas de água, luz, telefone, horas extras dos bancários, como normalmente acontece nos movimentos paredistas. Esta greve, tida como dos vigilantes, apresenta um componente diferente, nem mesmo os funcionários de confiança dos bancos aparecem para o expediente interno.
E mais, serviço como o depósito via caixas eletrônicos estavam sendo feitos nos terminais, bem como nos correspondentes bancários (lotéricas, farmácias e outros agentes). Pela primeira vez no histórico anual de greves bancárias isso acontece (deve ser uma inovação). Entretanto, o que não “fecha a conta” é que o acontecimento se dá numa greve que não é dos bancários.
Confesso que não nunca cheguei a conversar com amigos bancários (tenho-os muitos) se realmente eles acreditam que a segurança de suas vidas pode ser creditada aos vigilantes. Tenho diversas e fortes razões para não acreditar, até mesmo pelo histórico das notícias publicadas na imprensa sobre os assaltos a bancos e carros fortes. De acordo com as notícias, as primeiras vítimas dos assaltantes são justamente os vigilantes, cuja maioria é formada por pessoal sem o devido preparo, sem armas apropriadas e estratégia de enfrentamento. Chego até a pensar que o serviço de vigilância bancária é apenas o cumprimento de alguma portaria (ou coisa que a valha) emitida pelo Banco Central para que as agências possam funcionar.
Ganham os trabalhadores, que recebem um salário para o sustento de suas famílias – mesmo que isso importe não ter a certeza de que chegará no fim do dia em casa –, se locupletam as empresas, embolsando por um serviço que nem sempre tem competência para tal. Com disse antes, são as primeiras vítimas, obrigadas a entregarem as armas, e os que assim não procedem tombam mortos no valoroso exercício da profissão.
Não sou de ir muito às agências bancárias, pois não sou um cliente do jeito que gostam os gerentes dessas instituições, daqueles que tenham muita disposição para emprestar dinheiro barato e tomar empréstimos a juros mais altos. Nem poderia, dado ao meu perfil financeiro e econômico inadequado para as operações. Mesmo assim, sempre que vou, observo atentamente a postura desses trabalhadores.
Geralmente se recusam a conversar com um cliente, mesmo que para dar uma informação, sob a alegação de que é expressamente proibido. Concordo, pois um dos requisitos do vigilante é estar atento, vigilante, para não ser pego de surpresa pelos bandidos. Contudo, esse comportamento não tem o mínimo valor, caso seja solicitado por um bancário a orientar uma fila ou coisa que valha. Como diz o ditado: manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Mas voltando ao assunto, se não estou enganado, quem tem a obrigação legal de promover a segurança neste Brasil varonil – de norte a sul, leste a oeste – é o Estado e não o particular. Em nada deveria mudar o comportamento do expediente bancário numa greve de vigilantes, pois as polícias existem exatamente com essa finalidade.
Recuso-me a acreditar – e acredito que os bancários também – que estaremos mais seguros com os vigilantes do que com a Polícia Militar, cujos quadros são formados em segurança. Acredito, ainda, que o trabalho de inteligência das Polícias (militar, civil e federal) daria conta de manter os bancários, clientes e o dinheiro em segurança.
Sei que a greve é o último instrumento a ser lançado mão pelos trabalhadores, entretanto, uma pergunta que deve ser respondida por quem de direito é: a greve prejudica a quem? Aos banqueiros? Não. Aos ricos? Nem um pouco, pois continuam utilizando os serviços bancários, atendidos pelos gerentes. Aos mais pobres? Sim, pois são exatamente esses que não possuem os meios e as tecnologias para receber dinheiro e pagar as contas.
Como sempre, os trabalhadores fazem greve para prejudicar seus semelhantes, enquanto banqueiros e empresários do ramo da vigilância continuam na boa. E tudo sob os olhares complacentes das nossas autoridades, que não necessitam descer dos tronos e pedestais para tratar com o vil metal nas agências bancárias.
Walmir Rosário é radialista, jornalista, advogado e editor do Cia da Notícia.
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