Artigo do
jornalista Carlos Alberto Sardenberg, publicado hoje no Globo, ressalta
que "a soma de roubo e incompetência resulta do aparelhamento promovido
nas gestões de Lula e Dilma":
Havia
desde muito uma desconfiança de que era exagerado o gasto do INSS com
auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. A direção do órgão
resolveu fazer um teste em Jundiaí, cidade no interior de São Paulo.
Resultado: metade desses benefícios foi cancelada. Os beneficiários
podiam, sim, trabalhar. Estavam apenas “encostados na caixa”, como se
dizia antigamente.
Essa
notícia saiu no mesmo dia em que a Polícia Federal e o Ministério
Público desfechavam a Operação Greenfield, para apurar roubos nos quatro
maiores fundos de pensão de estatais. Neste caso, há suspeita inicial
de desvio de R$ 8 bilhões
Já no caso do INSS, parece dinheiro pequeno. Benefícios de um salário mínimo, dois, três mil reais mensais, se tanto.
Nos dois
casos, porém, nos pequenos e nos grandes desvios de dinheiro público, a
história tem a mesma origem: uma combinação de fraudes e má gestão. Foi
assim também no caso da Petrobras e das demais estatais quebradas, como a
Eletrobras: roubo e pouco caso com o dinheiro dos outros.
A gente
até pode entender o dilema pessoal de um médico-perito do INSS, bem
intencionado. Ele sabe que a pessoa pode trabalhar, mas, caramba, são
apenas R$ 800, nada para o governo, uma baita ajuda para o beneficiário.
Mas,
guardadas as proporções, enormes, e ainda no campo das boas intenções, é
parecida a situação do gestor de um fundo de pensão que arrisca um
bilhão de reais numa ação de rentabilidade duvidosa.
O que há
por trás disso, antes de se falar em corrupção? A falta do “sentido da
coisa pública”. O cliente do INSS acha que não tem nada demais cavar um
auxílio-doença. O médico, apressado, com uma fila enorme para atender,
vacila, mas, vá lá.
O
operador do mercado financeiro acha que não tem nada demais cavar um
bilhãozinho com o colega gestor de um fundo estatal para turbinar uma
ação de terceira. O gestor vacila — mas quem sabe dá certo, não é mesmo?
Está aí o
ambiente perfeito para o desenvolvimento da corrupção. Se não tem
responsabilidade pública, se a gestão é frouxa, se parece que ninguém
está ligando a mínima, por que não botar a mão na grana de verdade? Tudo
considerado, dá numa enorme subtração de dinheiro público.
O INSS
gasta mensalmente pouco mais de R$ 1 bilhão com auxílio-doença pago há
mais de dois anos e R$ 3,6 bilhões com aposentadoria por invalidez
também por mais de dois anos. Ora, se metade disso está irregular, como
se verificou em Jundiaí, pode-se chegar a uma economia de R$ 2,3
bilhões/mês. O déficit mensal do INSS, neste ano, está na casa dos R$ 10
bilhões, de maneira que seria expressivo o ganho com o cancelamento dos
benefícios irregulares.
Na
história dos grandes fundos de pensão (Petros, dos funcionários da
Petrobras; Previ, do Banco do Brasil; Postalis, dos Correios; e Funcef,
da Caixa), a fraude inicialmente estimada chega a R$ 8 bilhões. Mas o
rombo dessas quatro instituições investigadas está em torno dos R$ 50
bilhões.
Aqui,
como no governo em geral e nas estatais em particular, essa soma de
roubo e incompetência resulta do aparelhamento promovido nas gestões de
Lula e Dilma. E não apenas o aparelhamento do PT, mas a entrega de
pedaços da administração para os partidos aliados e para os capitalistas
amigos.
O
discurso do PT sustenta que as elites deram um golpe para acabar com os
direitos do povão. Mas a LavaJato e seus similares estão apanhando
expressivos representantes das elites antes amigas e beneficiárias do
governo. E não se pode dizer que cancelar benefícios irregulares seja
tirar direitos.
Por outro
lado, entende-se por que tanta gente quer melar as investigações. A
corrupção espalhou-se dos pequenos aos grandes negócios.
Ainda
nesta semana, no mesmo pacote da avacalhação nacional, o Tribunal de
Contas da União encontrou indícios de irregularidades em um terço das
doações feitas por pessoas físicas para as eleições de outubro. Casos
mais frequentes: mortos e beneficiários do Bolsa Família doando dinheiro
vivo.
Costuma-se
dizer pelo interior, a respeito de empreitadas que acertam todas: cada
enxadada, uma minhoca. Pode-se dizer na era tecnológica: cada cruzamento
de dados, uma corrupção.
Por isso
que não é nem pouco exagerada a proposta de legislação anticorrupção
apresentada pelo Ministério Público. Exagerada foi a roubalheira.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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