Lúcido artigo de Ana Maria Diniz,
blogueira do Estadão, sobre a reforma do Ensino Médio apresentada pelo
governo Temer. Essa mudança já é discutida há muito tempo e dá
oportunidade ao aluno para escolher as áreas que
mais o interessam. Só medíocres críticos ideológicos são contra a
reforma, que não podia mais ser adiada, sob pena de prejudicar
gravemente o futuro do país:
Não
é preciso ser especialista em Educação para saber que há muito tempo
precisávamos reformar o Ensino Médio de nosso país. Qualquer pai e mãe
de jovens entre 15 a 17 anos que frequentam as escolas brasileiras sabem
que é impossível fazer com que seus filhos se interessem pelas 13
matérias que lhes são ensinadas durante três anos de forma completamente
superficial, fragmentada e desconectada da realidade. Ou seja, sem o
menor atrativo. Ele vai na escola para cumprir tabela.
A
reforma do Ensino Médio, anunciada semana passada pelo governo, não
podia mais esperar. Adiá-la seria comprometer ainda mais uma geração de
jovens que representa o nosso futuro.
Muito
se tem discutido sobre a forma com que isso foi feito, via medida
provisória. Num mundo ideal, este tipo de mecanismo só deveria ser usado
em situações extremas. A meu ver, o ministro da Educação Mendonça Filho
agiu de forma corajosa ao propor um plano de reformulação nessas
condições. Assim como o presidente ao sancioná-la.
Nada
disso, é bom reiterar, foi um ato voluntário do novo governo, uma
iniciativa sem fundamento tomada à revelia da sociedade. O conteúdo da
MP vem sendo discutido há anos com especialistas em Educação e com
outros atores envolvidos no processo educacional e está em linha com os
debates que levaram ao Plano Nacional de Educação e à Base Nacional
Comum Curricular, em construção. E haverá, ainda, um longo caminho até a
implementação, onde as questões em aberto poderão ser debatidas e
aperfeiçoadas pela sociedade.
Ao
propor a flexibilização do currículo e um agrupamento por áreas de
interesse do aluno em Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza,
Ciências Humanas e Ensino Técnico, o governo possibilita que os jovens
estudem aquilo que tem mais afinidade – o que mais vai servir para a sua
vida futura. Acho muito saudável que cada jovem aos 14 ou 15 anos passe
a refletir sobre o que gosta mais, o que lhe instiga a curiosidade e o
que tem facilidade de aprender. Este olhar para si o ajudará a encontrar
o seu caminho de forma mais autônoma e consciente.
É
uma pena que a Educação Física possa ficar de fora do currículo
central, pois os valores do esporte e a importância de desenvolver o
corpo nesta fase da vida são um alicerce fundamental do desenvolvimento
dos jovens em sua totalidade. Porém, aqui também é importante frisar, a
presença ou não dessas matérias ainda será tema de discussão, visto que,
à exceção de Português e Matemática, todo o conteúdo restante terá de
estar em sincronia com as determinações da base nacional.
Para
reduzir a falta de professores nesta etapa, situação que tende a se
agravar com a implementação do ensino profissionalizante, a medida
provisória prevê outra flexibilização: a da formação docente. Isso
permite que profissionais com “notório saber”, sem formação em Pedagogia
ou licenciatura, assumam a sala de aula. Este tema merece atenção
especial. É preciso garantir que esses profissionais dominem o
conhecimento. Acredito que a formação docente é o ponto crucial de um
ensino de qualidade. Professores precisam ser muito bem preparados,
frequentar faculdades de Pedagogia de excelência, conectadas com a
escola, que permitam a experimentação do dia a dia da sala de aula ainda
durante a graduação. Os notórios também deveriam ser preparados desta
forma.
Também
faz parte da reforma a ampliação da quantidade de horas que os jovens
ficam nas escolas, o chamado período integral. Eis um ponto que merece
destaque. Pesquisas comprovam que, que se o jovem passar mais tempo na
escola, ele aprende mais e pode ter uma educação de mais qualidade. Mas
isso só acontece se o modelo de escola integral não for apenas uma
extensão de horas na escola. Sem projeto pedagógico e um modelo muito
bem elaborado que faça sentido e agregue valor para o menino, não se vai
a lugar nenhum.
Temos
bons exemplos no Brasil de como isso pode funcionar. O modelo de
Pernambuco, que inspirou as escolas de período integral de São Paulo, é o
que eu mais conheço e acredito. Ele traz um tripé de sustentação
fundamental para que dê certo:
– Um currículo bem pensado onde há espaço para o protagonismo do aluno no processo de aprendizado;
–
Professores que entendem o modelo pedagógico e são de dedicação
exclusiva, portanto desenvolvem um vínculo e um compromisso muito maior
com os alunos e com a escola;
–
Um projeto de vida para os jovens que começa a ser arquitetado e
desenvolvido desde o primeiro ano do EM com o objetivo de provocar a
reflexão e a capacidade do jovem de projetar e ir buscar o seu futuro.
Eu
tive o privilégio de viver a implementação do modelo de escola integral
no Estado de São Paulo e sei que este modelo aumenta e muito a
atratividade e o interesse dos jovens por aprender. É disso que
precisamos fazer deixar a escola interessante e reacender a curiosidade
de nossos jovens pelo saber!
De
qualquer forma, acredito que hoje estamos melhor do que há uma semana.
Depois da promulgação da medida provisória 746/2016, temos ao menos uma
esperança e um direcionamento para trabalharmos em prol de melhorias na
Educação dos nossos jovens.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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