Com razão, Rodrigo Constantino
desce a lenha no escritor gaúcho Luiz Fernando Veríssimo, um primata
socialista, defensor de Dilma e de Lula, que malha os ingleses pelo
Brexit. É um sujeito que envergonha a memória de Érico, seu pai e grande
escritor:
Já
publiquei aqui vários textos com argumentos em defesa do Brexit, da
escolha dos britânicos, em plebiscito democrático, de sair da UE. Há,
claro, bons argumentos contrários a essa decisão também, já que não se
trata de um tema simples, o que deveria servir para rejeitar as análises
simplistas, do tipo “só ignorantes, movidos pela xenofobia, votaram
pela saída”.
Demétrio Magnoli, um sociólogo de esquerda que tem o meu respeito, apresentou alguns desses argumentos legítimos em sua coluna de hoje. Discordo dele, como em muitas ocasiões, mas é alguém com quem se deve manter um diálogo construtivo. Diz Demétrio:
"Atrás do
resultado do plebiscito, espreita uma “excepcionalidade inglesa”
incrustada no passado distante. Os defensores do Brexit insistiram na
ideia de “recuperar o controle”, tocando no nervo sensível do conceito
de soberania. Desde a Magna Carta, a Inglaterra elaborou uma identidade
política organizada em torno de um foco único de soberania, que é o
Parlamento. Na Europa continental, em contraste, a autoridade política
dividiu-se em complexas camadas superpostas, entrelaçando ducados,
principados e reinos. A submissão parcial do Parlamento nacional a
Bruxelas — isto é, às instituições europeias — nada tem de chocante na
experiência histórica alemã, mas representa uma anomalia para os
ingleses. Nesse sentido, é temerário prever que o Brexit produza efeitos
em cascata, derrubando uma a uma as peças que formam a coleção da UE.
A “história
profunda” conta, mas existe a história recente. O projeto da unidade
europeia recebeu impulso decisivo do “fator Stalin”, ou seja, da
percepção de que a URSS representava uma ameaça existencial às
democracias ocidentais. O Tratado de Paris de 1951, ponto de partida da
aventura europeia, foi firmado apenas dois anos depois do Tratado do
Atlântico Norte, que criou a Otan e conectou aos EUA o destino
geopolítico da Europa Ocidental. A Otan, por sua vez, nasceu no berço da
primeira grande crise da Guerra Fria: a bipartição da Alemanha em dois
Estados. “Europa”, na Guerra Fria, significava uma fortaleza protegida
pelos mísseis americanos e pelas instituições supranacionais da
Comunidade Europeia. O Reino Unido, que ingressou nessa fortaleza sob a
dupla pressão de Washington e do desmantelamento do Império Britânico,
decide abandoná-la quando já não mais existe a ameaça original".
Sim, o
Reino Unido não gosta da ideia de abandonar seu poder para o poder
distante de Bruxelas, e está certo nisso. Sim, a UE surgiu para tentar
trazer paz para a região após tantas desgraças, mas seu papel nessa
conquista parece supervalorizado. Sem o poderio americano ali, nada
seria possível. E o casamento político forçado não é garantia de paz no
convívio. Talvez seja até o contrário. O debate é legítimo, porém.
Mas você sabe que os britânicos tomaram a decisão acertada quando aparece um
socialista como Verissimo, defensor do PT, para lamentar sua escolha,
culpar o “populismo” (nessa hora a esquerda odeia a democracia e o
povo), e aproveitar para elogiar Karl Marx no caminho. É um show de
horror! Vejam:
"Se a União
Europeia foi uma das melhores invenções da humanidade depois da escada
rolante e do pudim de laranja, é triste ver a Inglaterra liderando o que
pode muito bem ser o começo do fim da comunidade. A velha Inglaterra de
Cromwell e os primeiros suspiros republicanos, do parlamentarismo
espalhado pelo mundo junto com as canhoneiras, da Revolução Industrial e
científica, dos poetas, de Shakespeare, dos Beatles, meu Deus, da Kate
Winslet! — dando um passo atrás e recolhendo-se ao seu isolamento. E
pior, pelo medo de estrangeiros, logo ela, que levou o terror do
imperialismo branco a todos os cantos da Terra.
Foi a
intensa cobrança feita no Parlamento inglês que, finalmente, levou à
Abolição da Escravatura, não por qualquer questão econômica, mas por uma
imposição moral. A resistência inglesa aos ataques da Alemanha nazista
durante a Segunda Guerra Mundial inspirou o mundo. Talvez tenha sido uma
nostalgia atávica do sentimento que manteve a ilha sem ajuda mas unida
durante os ataques que inspirou o voto populista, agora. Seria melhor se
a inspiração viesse da luta pelo fim da escravatura.
Foi na sala
de leitura do British Museum em Londres que Karl Marx escreveu boa parte
do “Das Kapital” e desfiou suas ideias sobre uma comunidade humana
unida pela solidariedade e pela justiça, sem fronteiras nacionais ou de
classes. O sonho utópico de Marx era uma união pelo comunismo, mas só a
parte sobre a solidariedade sem fronteiras já serviria, se o populismo
não tivesse ido longe demais. Triste, triste".
Triste é
ver esses “intelectuais” tupiniquins defendendo o marxismo em pleno
século XXI, tentando enganar trouxas com esse papo de “solidariedade”.
Triste é ver alguém dizendo que os britânicos escolheram o isolamento, e
não a independência. Triste é ver o espaço que alguém tão limitado como
Verissimo tem nos jornais brasileiros, o que explica muito de nosso
fracasso fabricado. Triste mesmo, mas muito triste, a ponto de se tornar
hilário, é ver um defensor do PT querendo dar aulas de democracia para
os ingleses. Para os ingleses!!!
Verissimo
certamente lamentou quando os conservadores Churchill e Thatcher
chegaram ao poder no Reino Unido, para salvar a nação do caos. Verissimo
só não é mais ridículo por falta de mais espaço ainda na imprensa. Se
ele tivesse uma coluna diária em dez jornais, em vez de escrever “só”
umas 4 vezes por semana em uns 3 jornais importantes, sem dúvida ele
provaria que o céu é o limite para tanta falta de noção e bom senso. O
pobre e ignorante britânico deveria escutar mais o sábio e esclarecido
Verissimo. Quem sabe assim o Reino Unido não poderia ser uma potência
como a Venezuela!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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