Eugenio Moraes - Hoje em Dia
Mina de Brucutu tem capacidade inicial de produção três vezes menor do que a S11D, no Pará
Mina de Brucutu tem capacidade inicial de produção menor do que a S11D, no Pará

É uma questão de tempo para que Minas Gerais perca o protagonismo na mineração brasileira. O envelhecimento das minas do Estado, a proximidade de áreas de exploração com centros urbanos e a consolidação do Pará como nova fronteira minerária têm contribuído para desbancar a mineração mineira do topo do ranking nacional de produção e exportação de minério de ferro.

A liderança na atração de investimentos em novas minas já teria sido perdida, segundo especialistas. Os novos projetos em mineração são direcionados para o Pará também pela qualidade do minério. A Vale, por exemplo, em Minas Gerais, explora itabiritos pobres, que necessitam de beneficiamento para atingir “nível de exportação”, aumentando os custos. O teor de ferro nas minas de Itabira é de 46%, enquanto o novo projeto da empresa no Pará, o S11D, vai extrair hematitas com 66,7% de ferro, prontas para embarque, e com diferencial no preço dada a sua qualidade.

Migração

“A migração da mineração para o Pará é um fato. O que Minas Gerais tem que fazer é garantir a sustentabilidade das minas já existentes no Quadrilátero Ferrífero, o que não é tarefa fácil porque temos aqui condições muito piores do que lá”, disse o professor de Engenharia de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Hernani Mota de Lima. De 2010 para 2015, as exportações de minério de ferro do Pará saltaram 66,2%, e as de Minas Gerais, 17,2%. Em Minas, foram 190 milhões de toneladas embarcadas em 2015, contra 123 milhões do Estado do Norte do país, uma diferença de 67 milhões de toneladas.
No final de janeiro deste ano, a Vale iniciou a operação em fase de testes do projeto S11D, em Canaã dos Carajás, que tem uma capacidade de produção de 90 milhões de toneladas. A expectativa é a de que o nível máximo de produção seja atingido em 2018. Como a tendência é ganho de produção em minas de custo mais baixo, as mineradoras devem priorizar as operações no Pará, e a oferta em Minas deve cair, uma vez que não existem novos projetos em vias de serem executados. Na Vale, esse posicionamento é declarado.

“Nossa estratégia é aumentar produção no sistema Norte porque nos traz margem. Nos sistemas Sul e Sudeste, a substituição de minérios pobres via essas novas instalações”, afirmou o diretor-executivo de ferrosos da Vale, Peter Poppinga, quando anunciou um corte de 17 milhões de toneladas de minério de ferro na produção da companhia no Estado, no ano passado.

Estratégia das três grandes da extração prejudica Minas

O ciclo de desvalorização do minério de ferro levou a Vale a priorizar a exportação de grandes volumes, batendo recordes de produção para gerar receita. Essa estratégia em um primeiro momento beneficiou as operações em Minas Gerais, onde as capacidades de produção são maiores. Seguindo a Vale, Rio Tinto e BHP Billiton, que completam o trio das maiores da mineração no mundo, também investiram pesado em qualidade do minério e baixo custo. O próximo movimento deste grupo será o de reduzir oferta para melhorar preço, e o corte nessa oferta atinge em cheio Minas Gerais.

“O Estado vai sofrer muito porque naturalmente a Vale vai substituir minério de alto custo por minério de baixo custo, o que é o mesmo que trocar minério de Minas Gerais pelo do Pará. Após um período de aumento de produção, as três grandes, em algum momento, vão reduzir oferta para melhorar o preço”, disse o analista da Galdi Investimentos, Pedro Galdi.

O professor da Ufop Hernani Mota de Lima lembra que a Vale precisava gerar receita para pagar dívidas e financiar o S11D, por isso bateu recordes de produção seguidos. “Com o S11D entrando em operação, garantindo margens melhores em um cenário de preços muito baixos, as minas daqui (Minas Gerais) acabam em segundo plano”, disse Lima.

Ele acrescenta que essa perda de importância gera outros desdobramentos, como a menor arrecadação de royalty e, principalmente, a perda de mão de obra qualificada, uma vez que a demanda por engenheiros migrará com o Pará junto com os novos investimentos. O esforço da Vale para melhorar margens culminou, no último trimestre de 2015, no menor custo de produção da história da indústria da mineração, de US$ 11,9 por tonelada de minério de ferro.

Protagonismo na siderurgia também está em xeque

Na indústria do aço, Minas Gerais também caminha para perder a posição de maior produtor do país, neste caso para o Rio de Janeiro, em um movimento já percebido há alguns anos. Enquanto em terras mineiras há vácuo de investimentos, o Estado fluminense eleva a capacidade, embora a ociosidade seja uma realidade para os dois estados, dada a crise enfrentada pelo setor.

O balanço de 2015 revela uma produção total de aço em Minas Gerais de 10,6 milhões de toneladas, equivalentes a 32,1% de toda a produção nacional. Em segundo lugar, o Rio de Janeiro produziu 10 milhões de toneladas, uma fatia de 30,4% do total. Há seis anos, em dezembro de 2010, o balanço mostrava que Minas havia produzido 11,6 milhões, ou 35,6% da produção brasileira, e o Rio, 7 milhões de toneladas, respondendo por 21%.

Naquele ano entrava em operação a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da alemã ThyssenKrupp, com uma capacidade de 5 milhões de toneladas de aço ao ano. A usina está instalada em Santa Cruz, nas proximidades do Porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro.

Novo perfil

Houve uma mudança estratégica no funcionamento do setor siderúrgico, o que também ajuda a explicar a perda de atratividade de Minas para novas usinas siderúrgicas. O trunfo de estar próximo às minas de ferro – matéria prima para produção de aço – foi trocado pela proximidade com regiões portuárias e as facilidades geradas por esse diferencial nas exportações.

As usinas de aço foram gradualmente se aproximando do mercado internacional e a redução de custos logísticos as atraíram para o litoral.

Primeiro Plano - Investimentos da Mineradora Vale