A proposta do Ministério da Educação (MEC) de tratar as questões de
gênero nas escolas públicas, inclusive na educação infantil, tem
provocado calorosos e incessantes debates. No ano passado, a polêmica
ganhou força com a apresentação dos planos regionais, que vão nortear o
ensino no país pelos próximos dez anos.
Muitos incluíam a abordagem nas salas de aula. Mas, diante da pressão de pais de alunos e políticos, sobretudo os da bancada conservadora, estados e municípios recuaram e acabaram aprovando emendas que excluíram o tema da pauta.
Em Belo Horizonte, quase 200 emendas e subemendas apresentadas ao Plano Municipal de Educação, que retiravam do projeto a questão de gênero, receberam parecer favorável na Câmara de Vereadores em 2015. No mesmo ano, o próprio MEC voltou atrás e transformou o recém-criado Comitê de Gênero em Comitê de Combate à Discriminação (encarregado de elaborar diretrizes e subsidiar políticas educacionais).
Conflito
Entre os profissionais da educação e estudiosos do comportamento, também não há consenso sobre a metodologia proposta pelo MEC. Dentre os argumentos, destacam-se a promoção da igualdade e o combate à discriminação versus os conflitos de valores e a precipitação de abordagem de conteúdo.
“Ao meu ver, a sociedade, de maneira geral, não está compreendendo bem a proposta. A escola não vai interferir na formação sexual dos alunos, de forma alguma”, diz a professora do curso de pedagogia da Universidade Fumec Graziela Santos Trindade Bahia.
Ela classifica as instituições de ensino como um campo fértil para a problematização de questões sociais e tratar o assunto nas escolas vai além da discussão sobre sexualidade. “Temos que levar as pessoas a um nível de reflexão e tirá-las da zona de conforto. Aí, não tem idade, temos que começar os trabalhos desde a educação infantil”, afirma.
Prematuro
Mas o psiquiatra infantil Francisco Assumpção, membro do conselho fiscal da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), discorda da professora. De acordo com o médico, crianças dessa faixa etária (a partir dos 6 anos) não têm idade sexual definida e não compreendem nem o próprio gênero. “Algumas dessas propostas mostram, no mínimo, desconhecimento sobre crianças”, avalia.
Para ele, a metodologia de ensino apresentada pelo MEC pode criar, dependendo da família, um sistema de oposição de valores na vida dos filhos: os repassados em sala de aula e os aprendidos em casa.
“Algumas coisas podem até aparecer em aspectos concretos a partir da primeira idade escolar, mas grandes discussões morais são só a partir da adolescência. As crianças não têm condições de compreendê-las”, ressalta o psiquiatra.
Insatisfação manifestada nas redes sociais com o tema tratado inclusive no ensino médio
Pelas redes sociais, pais de estudantes e religiosos têm manifestado insatisfação com a abordagem da ideologia de gênero nas escolas, mesmo entre alunos do ensino médio. Temas como homossexualidade e novas formações familiares são considerados desrespeitosos e repudiados em publicações na internet.
O blog “De olho no livro didático” denuncia “ocorrências de doutrinação política e ideológica”, conforme descrito na sua página inicial, onde várias páginas de livros infantis foram replicadas para ilustrar a inclusão da ideologia de gênero da educação básica.
No Facebook, as páginas “Minas sem ideologia de gênero”, “Combatendo a ideologia de gênero”, “Diga não à ideologia de gênero” e “Ideologia de gênero não” somam, juntas, quase 5 mil curtidas. Vídeos com desabafos de pais inconformados também são facilmente encontrados na internet. Uma busca simples no Youtube aponta mais de 13 mil resultados.
Avaliação
A psicóloga Maria Clara Jost acredita que em alguns casos haja, de fato, uma imposição de pensamento que segue na contramão da liberdade individual dos pais e até de professores, que têm convicções diferentes daquelas propostas pelo Ministério da Educação (MEC).
“Em nome da liberdade, estão ferindo o direito de ser livre de cada pessoa. A ideia (de combater o preconceito) é boa, mas colocada em alguns contextos vem de maneira impositiva”, avalia a especialista.
Segundo Maria Clara, existe um “preconceito invertido” em algumas tentativas de trabalhar as diferenças. “Às vezes, me parece haver preconceito contra os heteros, como se eles fossem caretas, ultrapassados. Parece que temos que ter um determinado comportamento sexual para parecermos livres”, diz a psicóloga.
Didática
Por outro lado, a professora dos cursos de pedagogia, medicina e psicologia do Uni-BH, Maria da Consolação Azevedo Oliveira, defende que a questão de gênero seja debatida com os jovens.
“É importante promovermos esse debate sem fazer apologias. O grande papel da escola, do qual ela não pode abrir mão, é a promoção dos direitos humanos, do amor ao próximo e do respeito ao outro”, afirma.
Segundo Maria da Consolação, profissionais preparados para tratar temas polêmicos são uma ferramenta importante na construção de uma sociedade mais justa e tolerante.
“Os pais são leigos, mas nós educadores temos que nos tornar competentes em trazer esse assunto para a sala de aula. Podemos promover rodas de conversas e levar pessoas a mostrar seus talentos, no sentido de reforçarmos o quão importante é sabermos sobre o indivíduo e não sobre o que ele parece ser”, conclui a psicóloga.
Muitos incluíam a abordagem nas salas de aula. Mas, diante da pressão de pais de alunos e políticos, sobretudo os da bancada conservadora, estados e municípios recuaram e acabaram aprovando emendas que excluíram o tema da pauta.
Em Belo Horizonte, quase 200 emendas e subemendas apresentadas ao Plano Municipal de Educação, que retiravam do projeto a questão de gênero, receberam parecer favorável na Câmara de Vereadores em 2015. No mesmo ano, o próprio MEC voltou atrás e transformou o recém-criado Comitê de Gênero em Comitê de Combate à Discriminação (encarregado de elaborar diretrizes e subsidiar políticas educacionais).
Conflito
Entre os profissionais da educação e estudiosos do comportamento, também não há consenso sobre a metodologia proposta pelo MEC. Dentre os argumentos, destacam-se a promoção da igualdade e o combate à discriminação versus os conflitos de valores e a precipitação de abordagem de conteúdo.
“Ao meu ver, a sociedade, de maneira geral, não está compreendendo bem a proposta. A escola não vai interferir na formação sexual dos alunos, de forma alguma”, diz a professora do curso de pedagogia da Universidade Fumec Graziela Santos Trindade Bahia.
Ela classifica as instituições de ensino como um campo fértil para a problematização de questões sociais e tratar o assunto nas escolas vai além da discussão sobre sexualidade. “Temos que levar as pessoas a um nível de reflexão e tirá-las da zona de conforto. Aí, não tem idade, temos que começar os trabalhos desde a educação infantil”, afirma.
Prematuro
Mas o psiquiatra infantil Francisco Assumpção, membro do conselho fiscal da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), discorda da professora. De acordo com o médico, crianças dessa faixa etária (a partir dos 6 anos) não têm idade sexual definida e não compreendem nem o próprio gênero. “Algumas dessas propostas mostram, no mínimo, desconhecimento sobre crianças”, avalia.
Para ele, a metodologia de ensino apresentada pelo MEC pode criar, dependendo da família, um sistema de oposição de valores na vida dos filhos: os repassados em sala de aula e os aprendidos em casa.
“Algumas coisas podem até aparecer em aspectos concretos a partir da primeira idade escolar, mas grandes discussões morais são só a partir da adolescência. As crianças não têm condições de compreendê-las”, ressalta o psiquiatra.
Insatisfação manifestada nas redes sociais com o tema tratado inclusive no ensino médio
Pelas redes sociais, pais de estudantes e religiosos têm manifestado insatisfação com a abordagem da ideologia de gênero nas escolas, mesmo entre alunos do ensino médio. Temas como homossexualidade e novas formações familiares são considerados desrespeitosos e repudiados em publicações na internet.
O blog “De olho no livro didático” denuncia “ocorrências de doutrinação política e ideológica”, conforme descrito na sua página inicial, onde várias páginas de livros infantis foram replicadas para ilustrar a inclusão da ideologia de gênero da educação básica.
No Facebook, as páginas “Minas sem ideologia de gênero”, “Combatendo a ideologia de gênero”, “Diga não à ideologia de gênero” e “Ideologia de gênero não” somam, juntas, quase 5 mil curtidas. Vídeos com desabafos de pais inconformados também são facilmente encontrados na internet. Uma busca simples no Youtube aponta mais de 13 mil resultados.
Avaliação
A psicóloga Maria Clara Jost acredita que em alguns casos haja, de fato, uma imposição de pensamento que segue na contramão da liberdade individual dos pais e até de professores, que têm convicções diferentes daquelas propostas pelo Ministério da Educação (MEC).
“Em nome da liberdade, estão ferindo o direito de ser livre de cada pessoa. A ideia (de combater o preconceito) é boa, mas colocada em alguns contextos vem de maneira impositiva”, avalia a especialista.
Segundo Maria Clara, existe um “preconceito invertido” em algumas tentativas de trabalhar as diferenças. “Às vezes, me parece haver preconceito contra os heteros, como se eles fossem caretas, ultrapassados. Parece que temos que ter um determinado comportamento sexual para parecermos livres”, diz a psicóloga.
Didática
Por outro lado, a professora dos cursos de pedagogia, medicina e psicologia do Uni-BH, Maria da Consolação Azevedo Oliveira, defende que a questão de gênero seja debatida com os jovens.
“É importante promovermos esse debate sem fazer apologias. O grande papel da escola, do qual ela não pode abrir mão, é a promoção dos direitos humanos, do amor ao próximo e do respeito ao outro”, afirma.
Segundo Maria da Consolação, profissionais preparados para tratar temas polêmicos são uma ferramenta importante na construção de uma sociedade mais justa e tolerante.
“Os pais são leigos, mas nós educadores temos que nos tornar competentes em trazer esse assunto para a sala de aula. Podemos promover rodas de conversas e levar pessoas a mostrar seus talentos, no sentido de reforçarmos o quão importante é sabermos sobre o indivíduo e não sobre o que ele parece ser”, conclui a psicóloga.
Editoria de Arte - Hoje em Dia
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