Carlos Chagas
Não sobrou nem Papai Noel. No fim de semana, de roupa vermelha,
barbas brancas e um saco de presentes, o bom velhinho sequestrou um
helicóptero que alugou no Campo de Marte, em São Paulo, para levá-lo à
cidade de Mairinque. Em terra, num terreno baldio, o piloto foi rendido e
amarrado por dois asseclas que esperavam Papai Noel e com ele
levantaram voo.Episódio tão grotesco jamais havia sido registrado em outros natais, mas, também, jamais o país viveu tantos inusitados, desde a prisão do senador do PT, líder do governo, até banqueiros, empresários e políticos postos na cadeia ou em vias de chegar nela. Dá para desconfiar se o roubo do helicóptero não foi praticado pela quadrilha de um dos presos, para resgatá-lo e voar, senão ao Polo Norte, quem sabe ao Paraguai?
A pesquisa divulgada ontem pela Datafolha não deixa dúvidas quanto à indignação nacional diante das dimensões da corrupção no país. Preocupação maior do que o desemprego e o caos na educação e na saúde públicas, a corrupção desmoraliza as instituições, do governo aos políticos e aos empresários, por mais que exalte o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal.
Nos idos de 1945, com o Estado Novo nos estertores, uma esperança de recuperação ganhou a opinião pública: “todo o poder ao Judiciário!” Assim aconteceu, pois não havia Congresso, nem partidos políticos, e os militares reconheciam sua culpa na prática da ditadura agonizante. Convocou-se o presidente do Supremo Tribunal Federal, como nos Estados assumiram os presidentes dos Tribunais de Justiça. Vieram as eleições e, tanto quanto a volta da democracia, estabeleceu-se um regime de honestidade.
DE NOVO, A CORRUPÇÃO
O tempo passou, chegamos a viver outra ditadura militar que, uma vez superada, ensejou a realidade atual: de novo, a corrupção, só que agora atingindo níveis jamais registrados e desvirtuando a democracia. O poder caiu nas mãos dos que prometiam justiça social, uns mergulhados na tentação de aproveitar as benesses permitidas às elites, outros impotentes para conter a desagregação de sua próprias estruturas,
O resultado aí está: um governo que não governa, um partido dos trabalhadores que nem é partido, muito menos dos trabalhadores, as instituições em frangalhos e apenas um fio de esperança: “todo o poder ao Judiciário!”
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