Confira entrevista completa
por
Osvaldo Lyra
Publicada em TRIBUNA DA BAHIA
Porém, Geddel, que já foi ministro no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrou o governo Dilma como vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica, não hesitou em criticar seus correligionários que adotam postura contrária. Ele aponta que os peemedebistas do Rio de Janeiro, que inclui o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, estão mais preocupados em disputar cargos públicos do que com a situação do país, que enfrenta crise econômica e política.
“Estão mais preocupados em ocupar espaços na máquina pública, o que é lamentável. É preciso se entender hoje que não dá mais para se repetir métodos que, em determinado momento, a sociedade achou compreensível e aceitável.
Todos nós temos que fazer nossa estrada de Damasco, a nossa conversão ao novo momento da vida pública nacional”, disse. Sobre Salvador, o dirigente negou que o PMDB tenha tratado ou defenderá que o vice-prefeito na chapa de ACM Neto seja do partido. “O único assunto que foi tratado com o prefeito a respeito do PMDB foi a possibilidade de ele vir a ser candidato [à reeleição] pelo partido”. Sobre o governo Rui Costa, afirma que é uma gestão “que não fede e não cheira”.
Confira a entrevista completa:
Tribuna da Bahia - Como está vendo a Operação Lava Jato depois dos resultados que já foram apresentados ao País?
Geddel Vieira Lima – Com otimismo. A Operação Lava Jato cria um novo parâmetro no Brasil e mostra claramente que o crime e roubo, sobretudo na política, não valem a pena. Espero que cada vez se aprofunde mais e que ela consiga punir cada vez mais os corruptos que, indignamente, maculam a vida pública brasileira.
TB - O fatiamento da operação é uma ameaça às investigações contra desvios e corrupção no país?
GVL – Espero que não. Não tenho ainda dados para afirmar que isso tenha sido apenas uma divisão técnica do Supremo Tribunal Federal, ou tenha sido fruto de uma ampla articulação política. Efetivamente, o governo está preocupado com uma investigação que atinge quadros importantes do partido e do próprio gerenciamento governamental. Espero que a atenção da sociedade e todos aqueles que querem um Brasil com menos atividades criminosas na vida pública não permitam que esse tipo de iniciativa iniba as investigações da Operação Lava Jato.
TB - É possível uma empresa como a Petrobras ser lesada em mais de seis bilhões de reais e seu presidente, na época, sequer saber do que se passava?
GVL – Eu não creio. As coisa são de proporções muito agigantadas para imaginar que lideranças maiores do governo, a própria ministra chefe da Casa Civil e presidente do Conselho da Petrobras não tivesse conhecimento de que algo muito anormal estivesse acontecendo. Seria, no mínimo, uma demonstração de absoluta incompetência. O que sei é que é tudo muito grave. Agora, coisa simbolicamente terrível para o Brasil, quando você tem um empresário mundialmente conhecido e respeitado, como Bill Gates, processar a Petrobras. A imagem do País está indo cada vez mais para o ralo.
TB - As investigações atingirão Gabrielli e o ex-presidente Lula?
GVL – Não sei. Só o decorrer das investigações que demonstrarão a participação de cada um nesse lamentável episódio da história do Brasil.
TB - É favorável ao impeachment de Dilma?
GVL – O impeachment está na Constituição. A presidente Dilma é uma presidente que tem mostrado métodos incompetentes e que tem levado o Brasil ao caos político e econômico. Agora, a Constituição que dever ser a norteadora de todas as ações neste campo e definir todas as condições para o impeachment. Vamos ver qual vai ser a manifestação da Câmara dos Deputados, por exemplo, a respeito da solicitação feita pelo ex e histórico e ilustre petista Hélio Bicudo.
TB -Há elementos para o impeachment e quais os riscos de uma medida como essa para o país?
GVL – Começo a achar que sim, mas não há risco nenhum. A democracia e a Constituição normatizam episódios como esse e, se for esse o caminho que as investigações e o Congresso Nacional e a pressão população apontam, tudo ocorrerá dentro da mais perfeita normalidade democrática.
TB - As crises em que a presidente Dilma está envolvida, do Petrolão, crise política, com o Congresso, e de confiança da população. Ela conseguirá sair dessa?
GVL – É muito difícil. Como podemos compreender em um país democrático, quando você tem uma presidente que é chefe de Estado e chefe do governo, atravessando uma crise brutal, o governo precise apresentar à sociedade medidas que significam corte de direitos sociais, redução drástica de investimentos e que significam aumento de tributos e a presidente da República não tenha condições de ir à televisão explicar à sociedade essas medidas e pedir um sacrifício, sinalizando esperança e que no futuro poderá ser melhor. Mas ela não pode ir porque ela é rejeitada, não tem credibilidade. O que ela diz o povo não acredita mais. É muito difícil que ela reverta essa situação e retome a possiblidade de liderar um processo que consiga tirar o Brasil dessa grave crise moral e econômica que já começou a atingir, de forma clara através da inflação e do desemprego brutal, aqueles que efetivamente mais precisam do Estado brasileiro que são os mais pobres.
TB - O país e o Planalto hoje são reféns da agenda do PMDB?
GVL – O Planalto é refém da sua própria incompetência e da sua incapacidade de entender verdadeiramente os problemas do País. Uma arrogância que perpetua, mesmo diante de uma das mais graves crises que já vi. Mas o País não. Ele pode crescer. Apesar de alguns segmentos do PMDB agirem de uma forma reprovável, o partido tem uma longa tradição democrática de estar sempre ao lado do povo brasileiro.
TB - Setores do partido parecem mais interessados em alimentar uma briga política que pensar no Brasil. Como conciliar tantos interesses dentro do partido e colaborar com o fim da crise, que acomete toda a população?
GVL – Setores do partido, sobretudo aquele menos comprometidos com a história do Brasil. Me refiro ao PMDB do Rio de Janeiro, que está mais preocupado em ocupar espaços na máquina pública, o que é lamentável. É preciso se entender hoje que não dá mais para se repetir métodos que, em determinado momento, a sociedade achou compreensível e aceitável. Todos nós temos que fazer nossa estrada de Damasco, a nossa conversão ao novo momento da vida pública nacional. Inclusive, fazendo mea culpa por, eventualmente, não ter compreendido que o modelo mudou mais cedo. Portanto, o que nós temos que fazer é repudiar, e eu tenho feito isso, que esses segmentos do PMDB que acham que política só se faz com exercício de cargo, só entregam ao país exercendo cargo, de forma às vezes não correta. Se faz política também na militância, na defesa de ideias, independente de se ter mandatos ou cargos. É isso que a gente tem que fazer e isso só se consegue perseverando.
TB – Como enxerga o partido e quais as alas mais fortes hoje, dentro do PMDB.
GVL – Todos os partidos têm divisões internas, e não é muito diferente do que ocorre em outros partidos. Talvez o PMDB chame a atenção porque é um partido muito grande e que termina cometendo esses equívocos de forma mais transparente. Só vai melhorar esse quadro quando tiver uma reforma partidária efetivamente séria e que não se tenha tantos partidos no quadro político nacional e que os partidos possam ter uma definição mais clara, com compromissos mais definidos, ideológicos, com posições econômicas, sociais, trabalhistas, com clareza do que ele defende. A luta para fazer com que o PMDB seja mais homogêneo é perserverar no enfretamento desses que não entendem que o momento mudou e que acreditem que fazer política é exercer de forma clara essa relação espúria em busca de cargos.
TB – A presidente Dilma tem feito um esforço, seguindo a orientação do ex-presidente Lula, de tentar recompor com o PMDB no Congresso como uma forma de sair da crise, e isso passa pela divisão de cargos e ministérios. O que acredita que sai dessas articulações?
GVL – Não pode sair coisa boa, porque a presidente não aprendeu com os erros da história. O governo está nessa situação porque entrou no mais desavergonhado toma-lá-da-cá desde o petrolão, e envolvendo dinheiro, recursos financeiros, o que é lamentável. Seria muito mais lógico que segmentos como aquele que eu integro dentro do PMDB, que vê de forma extremamente crítica a revolução do governo petista, muito por arrogância, soberba, prepotência, estaríamos dispostos a ajudar e estar ao lado se a presidente apresentasse uma pauta ao pais com clareza, mostrando o que precisa ser feito para se ter um futuro melhor. O que não dá é imaginar que vai, de forma desorganizada, propor ao Congresso Nacional, no momento em que a economia fragilizada desemprega, aumento de impostos, e aprovar medidas como essa na base do toma-lá-da-cá, entregando ministérios a quem não tem capacidade ou competência para exercê-los, quem não tem tradição administrativa e política dentro do partido e da história do país. Daí não pode sair coisa boa. A repetição desse modelo que já se mostrou equivocado e, por arrogância e incompetência, o governo da presidente Dilma faz com o PMDB ou com outros partidos.
TB – Acredita que a criação da CPMF passa no Congresso?
GVL - Não passa. Sem chance nenhuma. A sociedade brasileira não aceita mais imposto. O que o povo quer é a retomada do desenvolvimento. É mais emprego do que impostos. Não dá mais para alimentar o governo com impostos, sobretudo quando a sociedade vê que o dinheiro que ela paga está sendo usado como a Lava Jato está mostrando. O que o governo precisa é aprofundar cortes dos gastos de forma coerente, reduzir despesas de forma clara e mostrar ao Brasil que ele é capaz de articular um projeto econômico e de desenvolvimento que resgate a esperança do povo brasileiro. O que é difícil para isso ocorrer? Falta à presidente pessoalmente e ao seu governo credibilidade. Sem credibilidade, sem o povo forjar, nada avança.
TB - O Brasil voltou a gastar suas reservas para conter o dólar, e setores do PMDB parecem querer ver tudo se incendiar. Como conter essa sangria e sair da crise financeira?
GVL - Quanto pior hoje no Brasil é Dilma governando da forma que governa. Setores do PMDB, e já dei nomes aos bois, querem sim aproveitar desse momento para ter mais benesses do governo brasileiro. Mas, cabe à presidente da República dar um basta. E aí procurar conduzir o país de forma clara, com projetos e propostas, e ela terá apoio dentro do PMDB daqueles que, como eu, fazem restrição à forma como governa. Não creio que nenhum setor do PMDB aposte na desestabilização, nem no quanto pior, melhor.
TB – Há possibilidade de o congresso do PMDB em novembro anunciar o rompimento com o governo Dilma e com o PT?
GVL - O congresso em novembro ele não será de instância decisória. Mas sendo um congresso que levará a Brasília mais de quatro mil militantes de todas as esferas partidárias, de todas as patentes partidárias, haverá a clara manifestação do partido, através das suas bases e dos diferentes segmentos, de que estamos em sintonia com as ruas, e as ruas dizem basta, não queremos mais esse modelo, o PT deu o que deu. Chega de PT.
TB - Empreiteiros terão dificuldade de irrigar novos caixas 2 nas eleições a partir de agora?
GVL – Não só empreiteiros, mas todos os empresários terão que ter relações mais saudáveis com a política. Inclusive, foi proibido agora o financiamento privado de campanha, mas de forma equivocada. Não é a questão do financiamento que gera esse problema. O problema foi o roubo. As campanhas políticas terão que se reinventar, até porque se terá um padrão de financiamento cada vez menor, e isso é bom porque fará com que aqueles que tenham densidade, ideias e um pouco de coragem para fazer a vida pública podem se sobressair. Campanha com menos dinheiro pode ser mais interessante para fortalecer a democracia no Brasil.
TB – Acredita que a colcha de retalhos da reforma política aprovada no Congresso mudará alguma coisa ou nada vai mudar?
GVL – Que colcha de retalhos na política pode trazer benefício à sociedade? Lamentavelmente, faltou ao Congresso Nacional coragem para fazer uma grande e importante reforma política que passasse pelo instituto da fidelidade, pela redução dos partidos, pela cláusula de barreiras, o fim das coligações proporcionais. Faltou coragem para se enfrentar os grandes nós do sistema político brasileiro.
TB – O PT terá muitas dificuldades nas eleições de 2016 em todo o país?
GVL – A minha avaliação é essa. O que a gente está vendo é conhecidos do PT sem poder ir às ruas, a um restaurante, sem ser hostilizados pela sociedade brasileira. O PT passou de todos os limites, achando-se dono do povo brasileiro, intérprete único do que pensa a sociedade. E, como todo o poder que pensa ser hegemônico, começa a meter os pés pelas mãos. O resultado está aí.
TB - E em Salvador, o PMDB vai insistir em indicar a vice de ACM Neto ou aceitarão a escolha de Neto com tranquilidade?
GVL – Não tenho conhecimento de que lideranças do PMDB tenham manifestado intenção ou condicionamento de indicação do candidato a vice-prefeito na futura chapa do prefeito ACM Neto, nem muito menos que iria insistir nessa indicação. Esse tema nunca foi tratado com o prefeito e seria inoportuno tratar, sobretudo agora nesse momento. O único assunto que foi tratado com o prefeito a respeito do PMDB foi a possibilidade de ele vir ser a candidato [à reeleição] pelo partido. No momento oportuno, o prefeito haverá, com o olho no presente e no futuro, conhecedor do tamanho e da importância do PMDB, chamar o partido para conversar a respeito da sua participação no processo eleitoral e nos projetos futuros que podem fazer que continuemos unificados dentro do conceito de que Salvador e a Bahia merecem governos mais competentes, governos que devolvam o nosso estado a uma liderança nacional e que possam enfrentar os graves problemas que a Bahia e Salvador têm tido nos últimos anos. Nada do que sair agora não passa de uma especulação.
TB – Como avalia o governo Rui Costa?
GVL – O governador Rui Costa, do PT, faz um governo que nem fede e nem cheira. Alguém que, mesmo sendo aliado da presidente da República, não tem grandes projetos, está vivendo de factoides, vai no interior olha uma escolinha, faz isso, faz quilo outro. Consegue um dinheiro e fica com essa história de fazer encosta em Salvador, que é muito importante, mas não há projetos para enfrentar os graves problemas que colocamos na campanha, continuam aí. A segurança pública com o absoluto descontrole e a população com medo de sair às ruas. A saúde pública continua o mesmo caos. Obras se paralisam pelo estado inteiro e as promessas que fizeram se mostram como mentiras e continuam mentindo desavergonhadamente na televisão, fazendo o mesmo método, anunciando intenções como se fossem iniciativas concretas. Na linguagem popular, por enquanto, é um governo meeiro, mas meeiro negativamente.
TB – O que diferencia e aproxima o governo Rui Costa do governo Jaques Wagner?
GVL – A paralisia, o uso exacerbado de propaganda e a falta de compromisso com a verdade, além do desapreço a buscar soluções na segurança pública, na saúde e no cumprimento de promessas.
Colaboraram: David Mendes e Fernanda Chagas.
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